O volume de trigo argentino disponível para exportação nesta temporada 2009/10 deverá ficar em torno de 3 milhões de toneladas, levando-se em consideração uma produção total de 8 milhões de toneladas e uma reserva para estoques da ordem de 1,5 milhão. Os cálculos foram realizados por especialistas e fontes do segmento em seminário internacional realizado no fim da semana passada, na capital paulista.
"Se não houver problemas de clima [geadas e chuvas durante a colheita], vamos ter uma safra de 8 milhões a 8,2 milhões de toneladas", afirmou o presidente da Câmara Arbitral da Bolsa de Cereais de Buenos Aires, Javier Bujan, durante sua palestra. Bujan, cuja estimativa é superior à da própria bolsa - que oficialmente projeta 7,75 milhões de toneladas para 2009/10, ante 9,2 milhões em 2008/09 -, disse, ainda, que a Argentina tem uma sobra da temporada passada de cerca de 1,5 milhão de toneladas.
Os estoques de 2008/09, mais as outras 1,5 milhão de toneladas que não deverão ser consumidas na Argentina no ciclo 2009/10, resultariam nas 3 milhões de toneladas disponíveis para as vendas externas, observou Bujan. "Mas não sei quanto trigo virá ao Brasil ou quanto trigo a Argentina vai exportar", destacou. Bujan lembrou, também, que a Argentina tem sua própria política pecualiar para emitir licenças de exportação.
Uma fonte da trading Toepfer presente ao evento concorda que a Argentina terá um estoque de passagem de 1,5 milhão de toneladas de trigo da safra 2008/09. A trading estima uma produção entre 7,8 milhões e 8 milhões de toneladas em 2009/10. Isso também resultaria em uma oferta exportável de trigo de até 3 milhões de toneladas, considerando-se que o Argentina quer reter para consumo interno aproximadamente 6,5 milhões de toneladas do cereal.
"A pergunta é qual vai ser a cota, a licença que vai ser autorizada para exportação," afirmou a fonte da Toepfer. "Creio que o governo vai liberar licenças devagar". O volume a ser exportado pela Argentina é vital para o Brasil, um dos maiores importadores de trigo do mundo e que tem no país vizinho, tradicionalmente, seu principal fornecedor no exterior. E o montante crescerá em 2009/10, levando-se em conta que cerca de 2 milhões de toneladas do cereal da safra brasileira - de um total de 5 milhões de toneladas -, deverão ser destinadas à produção de ração, por causa da queda de qualidade em decorrência das chuvas.
Assim, o volume a ser exportado pela Argentina definirá quanto o Brasil precisará buscar fora do Mercosul. Para representantes da indústria nacional, o país terá que importar cerca de 3 milhões de toneladas de fora do Mercosul. "Que a gente consiga importar 2 milhões de toneladas da Argentina. Mais 5 milhões de toneladas da produção no Brasil, são 7 milhões. Teremos que comprar 3 milhões em outro lugar", afirmou Luiz Martins, presidente do conselho deliberativo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo).
Veículo: Valor Econômico