GP vai deixar a Hypermarcas

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Recursos da venda de ações devem ser usados para capitalizar outras empresas do grupo, como a Magnesita

 

A GP investimentos, dona do maior fundo de participação em empresas da América Latina, vai se desfazer de um de seus melhores negócios. A empresa colocou à venda sua participação no bloco de controle da Hypermarcas, gigante da área de consumo que é dona de marcas como Assolan, Zero-Cal, Bozzano, Niasi e Jontex. A GP tem cerca de 7% da Hypermarcas, lote avaliado em pouco mais de R$ 500 milhões pela última cotação em bolsa. Os recursos levantados na operação, segundo pessoas próximas à GP, serão usados para reforçar o caixa de empresas fortemente abaladas pela crise, como a Magnesita e a San Antonio, que também fazem parte de seu portfólio.

 

A intenção foi comunicada ontem à tarde à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Aproveitando a valorização bem acima do Ibovespa (índice da Bolsa de Valores de São Paulo), a GP colocou seu lote à venda junto com outros acionistas importantes da Hypermarcas. Se o lote inteiro for vendido, a operação pode chegar a R$ 1 bilhão.

 

Depois da Hypermarcas, a GP pode negociar também outro de seus investimentos mais promissores: a BRMalls - maior proprietária de shopping centers do Brasil. Ao menos essa é a intenção hoje. De acordo com fontes próximas ao grupo, os executivos da GP estariam negociando essa participação com o investidor americano Sam Zell, de quem já são sócios. Se as conversas não evoluírem, os papéis poderão ser colocados à venda no mercado.

 

Pioneira nos investimentos em empresas consideradas promissoras e fora das bolsas (private equity), a GP sempre foi referência no mercado financeiro. Ela administra quase US$ 1 bilhão em ativos e já comprou mais de 40 empresas nos últimos 17 anos.

 

Herdeiros dos financistas Jorge Paulo Lehmann, Marcel Telles e Beto Sicupira, os atuais administradores da GP ficaram também com a fama de feras nos negócios. As dificuldades em algumas de suas operações mostram que eles não são infalíveis. "O mercado foi ruim para todos. Mas o GP teve problemas sérios em algumas companhias. No caso deles, este está sendo um ano para ajeitar a casa", diz um executivo de private equity. "Eles compraram muita coisa, muito rápido, e o mundo mudou."

 

Os investimentos na Hypermarcas e na BRMalls são as duas tacadas de maior sucesso e retorno da GP nos últimos tempos. Cerca de dois meses atrás, a empresa procurou alguns bancos de sua confiança e pediu que sondassem o mercado. Queria saber se existia interesse de grandes investidores nos papéis da Hypermarcas e da BRMalls. Diante da reação positiva, decidiram deixar definitivamente os dois negócios.

 

O movimento de saída começou em abril deste ano, quando a GP vendeu 10% de suas ações no negócio de shopping centers. O dinheiro foi usado para quitar a dívida contraída em 2006 para a aquisição inicial de ações das subsidiárias da BRMalls. Três meses depois, se desfez de outro pedaço na companhia. A estratégia se repetiu na Hypermarcas. No mesmo mês, vendeu 25% de sua participação, o que lhe rendeu na ocasião US$ 74,8 milhões.

 

Em seu último relatório financeiro, a GP avisava que tinha a intenção de aproveitar a forte valorização dessas empresas na bolsa. Mas afirmava também que continuaria participando dessas empresas, "focados em criar valor a longo prazo por meio de aquisições estratégicas e melhorias operacionais". Essa avaliação foi divulgada no relatório de agosto. De lá para cá, alguma coisa mudou. Procurados, os representantes da empresa não foram localizados para comentar o assunto.

 

Pessoas próximas à empresa afirmam que o dinheiro da venda das participações na Hypermarcas e na BRMalls deve ser aplicado na Magnesita, maior fabricante de refratários do País, e na San Antonio, empresa de serviços do setor de petróleo. Antes da crise, a GP fez grandes investimentos alavancados em empréstimos nas duas companhias.

 

Para o mercado, trata-se de duas boas empresas que sofreram violentamente com a crise. Os bancos que emprestaram dinheiro à GP estão pressionando para que a empresa coloque dinheiro novo na Magnesita e na San Antonio, que estão endividadas.

 

Em setembro, a GP conseguiu ajuda do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ( BNDES) para fazer um aumento de capital de R$ 350 milhões na Magnesita. Quase todo dinheiro foi usado para liquidar parte da dívida com o banco americano JPMorgan.

 


NÚMEROS

 

7% é a participação da GP na Hypermarcas. Essa fatia está avaliada em pouco mais de R$ 500 milhões, considerando-se o valor das ações na sexta-feira

US$ 74,8 milhões foi quanto a GP levantou em abril, com a venda de 25% de sua participação na própria Hypermarcas

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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