Varejo: Margem operacional cai com números do Ponto Frio, mas expectativa de sinergias sobe.
A consolidação dos números do Ponto Frio nos resultados derrubou a margem medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (lajida) do Grupo Pão de Açúcar , que viu suas ações caírem mais de 4% ontem na Bovespa. Isso ocorreu mesmo após a empresa apresentar aumento de 37% na receita bruta, que atingiu de R$ 6,9 bilhões, e um salto de 157% no lucro do terceiro trimestre, que somou R$ 171,1 milhões.
A margem lajida, que representa quanto da receita líquida a companhia consegue transformar em geração de caixa, caiu de 8,1% no terceiro trimestre do ano passado para 5,7% em igual período deste ano.
Em teleconferência com jornalistas, os executivos da companhia explicaram a queda na margem lajida primeiro por conta dos números do Ponto Frio, que teve lajida negativo, e que ainda vive uma fase de reestruturação. Sem isso, a margem teria ficado em 7%, nível considerado adequado pela companhia, e acima do registrado no primeiro semestre deste ano. Além disso, o vice-presidente executivo do Pão de Açúcar, Enéas Pestana, disse que o índice de 8,1% atingido um ano antes foi um "ponto fora da curva". "No ano passado tivemos o lançamento da campanha de aniversário de 60 anos do Pão de Açúcar, que teve um sucesso estrondoso. E nós não tínhamos a expectativa de repetir esse resultado e nem era a expectativa do próprio mercado", afirmou.
De fato, analistas das corretoras Link e Ativa, por exemplo, fizeram uma leitura de neutra sobre os números, que teriam ficado dentro de suas previsões. Já a ação PNA da companhia caiu 4,4% ontem, para R$ 54,69, enquanto o Ibovespa recuou 2,99%.
Ainda sobre a margem lajida, Pestana sinalizou que a expansão do grupo para áreas como o atacarejo, representada pela bandeira Assai, a compra do Ponto Frio, bem como as incursões nos segmentos de drogarias e postos de combustíveis tendem a reduzir este indicador no longo prazo. O ganho viria, então, de um aumento no lajida em termos absolutos. Neste último trimestre, o lajida do grupo subiu 0,4%, para R$ 356,3 milhões, sem contar o Ponto Frio, mas caiu 1,38%, para R$ 350 milhões, incluindo a nova controlada.
Em relação a este assunto, o presidente do Ponto Frio, Jorge Herzog, disse que as sinergias a serem capturadas com a fusão das empresas serão muito maiores que os R$ 500 milhões projetados inicialmente. Isso garante, segundo ele, que a margem lajida fique no futuro em linha com a referência de mercado para o segmento de eletroeletrônicos, que gira em torno de 5% a 6%.
Ao comentar o que encontrou na empresa adquirida nos primeiros três meses de nova administração, Herzog relatou um cenário de abandono, pelo fato de a empresa estar à venda há muito tempo. Os principais problemas encontrados foram o baixo investimento nas lojas e na capacitação do pessoal de vendas, a falta de concessão de crédito por conta da inadimplência passada, o foco no resultado apenas de curto prazo e a baixa motivação da equipe.
Para tornar a nova controlada rentável, as áreas de compra do Grupo Pão de Açúcar e Ponto Frio foram integradas, assim como a concessão de crédito e suporte. Para o ano que vem, embora não tenha anunciado números, a companhia deve fechar lojas com rentabilidade abaixo da média e abrir outras que deem melhor retorno.
Em relação ao salto do lucro no trimestre, uma das explicações está em um resultado não recorrente positivo de R$ 52,2 milhões. Ele se deve ao aporte de R$ 600 milhões recebido do Itaú Unibanco por conta da reformulação da parceria envolvendo a financeira FIC, mas foi parcialmente contrabalançado pela baixa de créditos tributários e constituição de provisões. Também contribuiu para o lucro o fato de o resultado financeiro ter saído de uma despesa de R$ 103,4 milhões para um gasto líquido de R$ 64,7 milhões no terceiro trimestre deste ano.
Veículo: Valor Econômico