Limpeza: Companhia que lidera 70% do mercado vai investir R$ 40 milhões em 2010 para lançar novidades
As vendas da popular lã de aço somaram R$ 500 milhões no ano passado, valor 15% menor em relação a 2007. Em volume, a queda foi de 11%. Nos primeiros dez meses deste ano, as vendas continuaram caindo, mas em ritmo menor. Encolheram 5,2%, tanto em volume quanto em valor, segundo a Nielsen. Motivo suficiente para que a Bombril, líder absoluta em lã de aço, com 70% do mercado, se esforce na diversificação do portfólio, de olho em uma consumidora cada vez mais interessada em ganhar tempo e menos afeita à prática de arear panelas.
Com investimentos declarados que superam R$ 40 milhões em 2010, a empresa promete ingressar em pelo menos quatro novas categorias de produtos - entre elas, desentupidores de pia e limpadores de forno, em que vai concorrer, respectivamente, com as marcas Diabo Verde (Nobel) e Easy Off (Reckitt Benckiser).
"Desde que a nova administração tomou posse, em 2006, a dependência da lã de aço, nosso principal produto, caiu de mais de 50% para cerca de um terço da nossa receita", afirma Gustavo Ramos, presidente da empresa, indicado pelo principal acionista, Ronaldo Sampaio Ferreira, filho do fundador e atual presidente do conselho, para tocar a nova fase da Bombril, depois de uma fase de sérias turbulências (ver texto ao lado).
Segundo Ramos, a empresa investiu este ano cerca de R$ 35 milhões, que foram voltados especialmente para a verticalização da produção. "Começamos a produzir o filme plástico da embalagem de Bombril e também a tampa do detergente Limpol, na tentativa de melhorarmos nossa margem de lucro", conta o executivo, um engenheiro mecânico de 37 anos, formado no Canadá, que traz a Booz Allen & Hamilton e outras consultorias no currículo. Em 2010, o capital será direcionado especialmente para o desembarque em novas categorias. "Hoje, nós temos cerca de 300 itens no portfólio e nossa meta é encerrar 2010 perto de 400 produtos", diz.
A meta de diversificar ganhou novo impulso no ano passado, quando a empresa lançou o detergente em pó Tanto, procurando entrar em um mercado que movimenta cerca de R$ 3 bilhões ao ano e conta com a Unilever, dona da marca Omo, como a maior competidora. Em agosto, a companhia fez mais uma avanço, com a compra por R$ 11,5 milhões a Milana Industrial, que fabrica o desinfetante Lysoform.
Agora, para fazer com que não só o Bombril, mas as suas principais marcas (Limpol, Mon Bijou, Pinho Bril, Kalipto, Sapólio Radium, entre outras) chegue ao varejo, a empresa está contratando 40 distribuidores exclusivos para atuar em todo o país. "Nós não tínhamos distribuidores exclusivos e percebíamos que o atacado se concentrava apenas em alguns produtos, sem explorar nosso portfólio", diz Ramos.
Mas isso não significa que a empresa vá se descuidar do carro-chefe. Segundo o presidente da Bombril, com o aumento de renda no Nordeste, essa região vem puxando o consumo da lã de aço. Não por acaso, a empresa conta com uma linha de produtos exclusiva para a região, da marca Pronto.
Passado turbulento deixou débito fiscal a ser pago em 180 meses
A sexagenária fabricante de lã de aço garante que agora está colhendo os primeiros frutos do esforço para se desvencilhar do passado conturbado vivido nas últimas décadas, desde a morte do fundador, Roberto Sampaio Ferreira, em 1981.
Os problemas começaram com a briga entre os três filhos herdeiros - apenas o atual presidente do conselho e acionista majoritário, Ronaldo Sampaio Ferreira, não queria a venda. Ainda assim, acabou vendendo a sua parte para o italiano Sergio Cragnotti (ex-controlador da Cirio). Depois da Cirio ter passado por sérios problemas, Ferreira alegou não ter recebido o dinheiro pela venda da Bombril.
A empresa passou alguns anos sob intervenção judicial até que Ferreira voltou ao comando, em 2006. "O controle da Bombril já não está em discussão na Justiça", diz o presidente da companhia, Gustavo Ramos. Segundo ele, Ferreira tem cerca de 51% das ações, a Previ é dona de 15% e o BNDESPar tem 10%. Um acionista individual, Sílvio Tini de Araújo, é dono de outros 10%. O restante está na bolsa.
Ramos também garante que não há mais dívidas antigas com fornecedores, e os pesados débitos fiscais foram renegociados dentro do "Refis da crise", lançado neste ano. Foi o que possibilitou, segundo o diretor de relações com investidores, Marco Aurélio de Souza, uma situação extraordinária no balanço do terceiro trimestre: um lucro líquido de R$ 217 milhões - no mesmo período de 2008 houve prejuízo de R$ 9 milhões. "Nós renegociamos a dívida com o fisco em até 180 meses", diz Souza, informando também que a empresa se beneficiou da possibilidade de compensar parte do imposto de renda com o prejuízo fiscal.
A receita líquida da companhia cresceu 26% no terceiro trimestre, para R$ 215 milhões. A margem bruta da empresa (receita líquida menos o custo de vendas) cresceu 68% no trimestre, para R$ 109 milhões. O patrimônio líquido da companhia, que era R$ 487 milhões negativos no terceiro trimestre de 2008, passou a R$ 294 milhões negativos no período de julho a setembro de 2009. (DM)
Veículo: Valor Econômico