Conjuntura: Imposto menor, crédito recuperado e renda e emprego preservados explicam projeções fortes
Grandes grupos do varejo fecharam as encomendas à indústria com a expectativa de vender, em média, 15% a 20% a mais neste fim de ano em relação ao mesmo período do ano passado. Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido, renda preservada, crédito recuperado e inadimplência baixa, dizem os executivos do setor, ajudam a compor o cenário positivo esperado para o Natal.
Grupo varejista com 270 pontos de venda, sendo 80 em Minas Gerais, o Ricardo Eletro espera um aumento neste fim de ano de 15% no faturamento, graças a duas linhas de produto - eletrodomésticos de linha branca e televisores. A expectativa é baseada na receita de vendas por loja. "Não dá para fazer uma comparação entre 2009 e 2008 do grupo como um todo porque ampliamos nossa base física em 40%, com abertura de 54 lojas este ano", afirmou Ricardo Nunes , dono da empresa.
De acordo com Nunes, a venda de televisores LCD deve crescer 30%, em média, e a de eletrodomésticos de linha branca, 25%. As encomendas já foram entregues pela indústria. "Cerca de 30% a 40% de nosso faturamento virá deste quarto trimestre. Em 2009, nossa receita em vendas deve ser de R$ 2,2 bilhões", disse.
O empresário atribui o aquecimento da demanda a incentivos diretos, como a isenção de IPI nos produtos de linha branca, prorrogada recentemente. " Mais do que impacto nos preços, isto gerou um efeito psicológico muito grande." Secundariamente, cita o reaquecimento da economia e o barateamento de tecnologias, como a do LCD, que aumentaram o giro de mercadorias. Nunes afirma que a Ricardo Eletro não foi afetada pelo aumento da inadimplência detectado pelo comércio no início do ano. "Cerca de 60% de nossas compras são com cartão de crédito e 15% à vista. Apenas 25% se dão por carnê ou cheque. Ficamos relativamente blindados", comentou.
No Nordeste, a pernambucana EletroShopping já encomendou às fábricas tudo o que pretende vender de eletroeletrônicos neste fim de ano, um volume entre 15% e 20% maior do que no mesmo período de 2008. Segundo o gerente-comercial da empresa, Cristiano Viana, as entregas da indústria estão respeitando, pelo menos por enquanto, o ritmo programado. Em faturamento, a expectativa é de uma alta de 15% na comparação com o fim de 2008, puxada pelos produtos da linha branca, os computadores e as câmeras digitais.
Na mesma linha, o grupo varejista RM, também de Pernambuco, vem fazendo encomendas programadas desde outubro visando as vendas de fim de ano. Seu diretor-comercial, Marco Ferreira Filho, disse que o grupo deve comprar da indústria cerca de 20% mais que no fim de 2008.
O executivo informou, no entanto, que as encomendas crescentes não estão garantindo preços melhores, e que as negociações com a indústria estão sendo duras. "Eles percebem que a demanda está crescendo e querem subir os preços", disse o diretor. Apesar das negociações, a RM espera que seu faturamento de fim de ano acompanhe o movimento das encomendas e supere em 20% o valor observado no ano passado.
A direção do Baú da Felicidade Crediário, rede do grupo Silvio Santos, já concluiu as encomendas de fim de ano e também para janeiro. No Natal passado a empresa tinha 16 lojas, mas com a compra da paranaense Dudony o número saltou para 126. De acordo com o diretor de varejo, Décio Pedro Thomé, os pedidos à indústria foram feitos com expectativa de crescimento de 10% nas vendas. As apostas da varejista para o fim de ano são produtos eletrônicos e novidades na linha marrom. Parte das compras de itens da linha branca foram antecipadas, segundo o executivo, pela redução de IPI.
O presidente da rede Condor de supermercados, Pedro Joanir Zonta, trabalha com aumento de 15% a 20% nas vendas de fim de ano. Ele aposta em maior interesse por decoração, bebidas e brinquedos. As encomendas da varejista paranaense começaram em julho e terminaram em outubro e, hoje, 80% dos produtos já chegaram e foram para o estoque. Nos importados, o empresário acredita que a queda do dólar pode levar a um aumento de 20% a 40% nas vendas, dependendo da categoria.
Ele conta que a indústria, de modo geral, está fazendo as entregas no prazo. A exceção fica por conta de televisores de LCD. "Isso vem se arrastando há uns dois anos. Eles não estão conseguindo atender a demanda." Segundo ele, a rede possui estoque desses aparelhos para dezembro, mas "não a quantidade que gostaria" de ter. Com relação aos preços, ele diz que estarão cerca de 20% mais baixos no caso de importados e até 5% mais altos nos nacionais. No Natal de 2008 a rede tinha 27 lojas no Paraná e agora está com 29.
A Federação da Câmara de Dirigentes Lojistas de Santa Catarina (FCDL-SC) estima um volume de vendas 7% maior no Estado no fim deste ano em relação a 2008 e já espera que no ano como um todo o setor tenha desempenho 4% superior ao ano anterior. "Até o primeiro semestre, os efeitos da crise mundial refletiam no otimismo do consumidor e nas vendas do comércio, mas esses efeitos já estão passando", acredita o vice-presidente da FCDL-SC, Ivan Tauffer.
O diretor-presidente da rede catarinense de móveis e eletrodomésticos Koerich, Antonio Koerich, prevê um Natal com vendas 20% a 25% maiores neste ano em relação ao ano passado. Em parte, o alto volume esperado responde à melhora do cenário. Por outro lado, também ocorre pela base de comparação fraca, pois no último trimestre de 2008, tanto as enchentes em Santa Catarina como a crise econômica mundial afetaram o comércio do Estado.
Dono de 80 lojas no Estado, Antonio reforçou nos últimos dois meses as encomendas na indústria para dar conta do aumento esperado. "Já fizemos praticamente todo o estoque para o fim do ano", disse. Nas encomendas à indústria, a Koerich sentiu alguma dificuldade em conseguir determinados modelos de televisores de LCD, mas a rede os substituiu por outros. Antonio acredita que no fechamento do ano o faturamento deverá ficar 10% maior do que em 2008, mas ele não revela valores.
Veículo: Valor Econômico