Remédio é o item com o maior peso no orçamento do brasileiro com saúde, de acordo com pesquisa da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) sobre gastos catastróficos em saúde, método utilizado para mensurar despesas médicas gerais que consomem 20%, 30 ou 40% da renda domiciliar ou da capacidade de pagamento das famílias.
O estudo "Gastos Catastróficos em Saúde no Brasil", realizado em sete países latino-americanos e apresentado ontem em São Paulo, revela que 6,7% dos domicílios consultados - um universo de 12 milhões de pessoas - destinam para saúde 20% ou mais do seu poder de compra, e 53,9% desses lares declararam gastar mais com medicamentos. Dos 2,2% de famílias (3,9 milhões de brasileiros) que comprometem 30% de sua renda com saúde, a maior despesa declarada com remédios atingiu percentual de 55,4%. Da faixa de 0,9% das residências, ou 1,6 milhão de habitantes, que apresentou gastos de até 40% da renda familiar com saúde, 51,2% disseram gastar mais com remédios.
"Esse gasto numa incidência tão elevada da renda dos domicílios é uma justificativa suficiente para merecer atenção especial de ações de políticas públicas", diz a professora da FEA Maria Dolores Diaz, uma das coordenadoras do estudo, citando como referência a criação dos genéricos. O levantamento tomou como base a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE de 2002-2003 e não examinou outros tipos de gastos.
O médico Sérgio Piola, pesquisador de economia da saúde do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), chama a atenção para o peso de gastos com remédios no orçamento de famílias pobres - o estudo não contempla nível socioeconômico. "A despesa chega a ser de até 70% da renda familiar, daí a importância de olhar para a assistência farmacêutica pública, que avançou nos últimos anos e deve ter contribuído para um melhor desempenho, se analisarmos a POC 2008-2009."
Veículo: Valor Econômico