Competição: Companhias coreanas traçam planos ambiciosos de produção local nos próximos anos
Os matemáticos do futebol já fizeram as contas. A essa altura do campeonato, as chances do Palmeiras sair vencedor do Brasileirão são modestas. Depois de liderar o torneio por várias rodadas, a equipe que estampa na camisa o logotipo da Samsung tem tímidos 8,6% de chance de conquistar o título. Para o São Paulo, os números são mais favoráveis. O tricolor, que veste o uniforme com o patrocínio da LG, tem 58,6% de chance de levantar a taça.
A rivalidade dos times paulistas que hoje brigam pelo título nacional carrega, em tons mais fortes, as mesmas cores de uma disputa que envolve seus patrocinadores no país. Fora do gramado, as gigantes coreanas LG e Samsung também travam, há mais de uma década, uma verdadeira batalha pela liderança do mercado de eletroeletrônicos no Brasil. E a julgar pelos planos de investimentos que as duas companhias preparam para o país nos próximos anos, o jogo vai pegar fogo.
A LG prepara seu ataque mais agressivo para expandir a produção de aparelhos de TV em sua fábrica de Manaus. O plano da companhia, conforme apurou o Valor, é investir R$ 967,2 milhões na fabricação de TVs de tela de cristal líquido (LCD) e plasma ao longo de três anos. Desse montante, a expectativa é de que R$ 413 milhões sejam aplicados já no primeiro ano de operação.
A companhia, que há quatro anos iniciou a produção de TVs de plasma no Brasil, tem a meta de produzir 1,2 milhão de aparelhos de TV nos primeiros 12 meses, saltando para 1,7 milhão de unidades no segundo ano e 2,55 milhões de aparelhos em 2012.
Em paralelo, a LG também se articula para iniciar a produção de placas de circuito impresso, componente usado na fabricação de praticamente todos os tipos de eletroeletrônicos. Devem ser desembolsados mais R$ 110,5 milhões para este projeto, ao longo de três anos. Para alimentar sua própria operação, a LG pretende fabricar mais de 10 milhões de unidades desses componentes por ano.
A Samsung prepara seu contra-ataque. Com a produção local de equipamentos como aparelhos de Blu-ray, monitores de LCD para uso empresarial, câmeras digitais e rádio digital, a empresa planeja desembolsar mais de R$ 165 milhões para ampliar sua capacidade de produção até 2012. A movimentação inclui a produção local de condicionadores de ar no ano que vem.
"A realidade é que o país vive um momento ímpar. Isso fez com que a LG Brasil ganhasse um destaque muito importante para todo o grupo", comenta Eduardo Toni, diretor de marketing da LG. Hoje, se excluídas as vendas da empresa para a Coreia (que responde por cerca de 60% do faturamento global da companhia), a operação brasileira só fica atrás dos Estados Unidos.
A relevância do mercado nacional também fica evidente nos resultados da Samsung, diz Benjamin Sicsú, vice-presidente da companhia para a América Latina. "Se excluirmos os semicondutores e painéis de LCD, que hoje só fabricamos na Coreia, a Samsung Brasil já responde por cerca de 7% do nosso resultado global." Até pouco tempo atrás, o cenário era diferente.
A Samsung veio para o Brasil em 1986. A LG chegou uma década depois. Há seis anos, as duas companhias tocavam operações razoavelmente modestas no país. Em 2003, a Samsung tinha uma faturamento de US$ 470 milhões no Brasil. No mesmo ano, a LG somava vendas de US$ 600 milhões.
Agora, as coisas estão bem diferentes. Com fábricas espalhadas em Manaus e no interior de São Paulo, cada uma dessas empresas emprega mais de 5 mil funcionários. Em 2003, comenta Sicsú, a Samsung ocupava a 29ª posição na lista de pagadores de impostos do Amazonas. No ano passado, a empresa ficou no 3º lugar do ranking, atrás apenas da Petrobras e da Honda. "Sozinha, a Samsung pagou cerca de R$ 220 milhões em impostos para o Amazonas", comenta Sicsú. "Daria para cobrir a folha de pagamento de toda a polícia militar do Estado."
Em 2008, a Samsung obteve um faturamento de US$ 2,7 bilhões no Brasil, multiplicando por quase seis vezes o resultado alcançado em 2003. Na LG, a receita chegou a US$ 2,8 bilhões.
O resultado não caiu do céu, dizem os executivos. "Desde que chegamos aqui enfrentamos todas as dificuldades: a instabilidade do câmbio; a crise da Rússia, da Coreia, do México, da Argentina e, agora, essa crise global. Mas não deixamos de investir", diz Eduardo Toni, da LG. A companhia, segundo o executivo, já injetou cerca de US$ 1 bilhão no país desde o início de suas operações, em 1996.
Sicsú, da Samsung, tem dificuldades em calcular quanto a companhia já investiu no mercado brasileiro nos últimos 23 anos, mas afirma que, desde 2003, mais de US$ 100 milhões são aplicados na subsidiária todos os anos.
Nos últimos anos, o setor de eletrônicos explodiu no país. Em 2010, as previsões são de que o Brasil se tornará o terceiro maior mercado de computadores do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Em venda de celulares, o país já ocupa a quinta posição mundial. E com a chegada da Copa do Mundo no ano que vem, é esperada uma nova corrida pelas TVs com imagem em alta resolução.
Cada qual a seu modo, LG e Samsung se movimentam para repetir no Brasil o desempenho que já registram em outros países. Hoje, as duas companhias oscilam entre os primeiros lugares nos mercado de celulares, computadores, monitores, TVs e aparelhos de áudio. "Diferentemente de muitos fabricantes chineses, que tendem a importar seus produtos ou terceirizar a fabricação de seus equipamentos no Brasil, essas empresas coreanas têm a característica de tocar seus próprios negócios", diz Ivair Rodrigues, analista da empresa de pesquisas IT Data. "É uma postura diferente, mais centralizadora, mas o resultado não poderia ser outro."
Veículo: Valor Econômico