A Cognis, produtora de derivados químicos obtidos a partir de fontes renováveis, vai começar a produzir no Brasil ingredientes alimentícios até hoje importados da Alemanha. Além disso, ela vai criar um centro de competência em desenvolvimento de produtos para acelerar o estudo de inovações, com base na exploração de ingredientes ativos da biodiversidade brasileira.
Os planos de crescimento da Cognis na América do Sul, que registrou um aumento de 21% nas vendas em 2009, incluem a fabricação local de ingredientes alimentícios (emulsificantes especiais) para aplicação em tortas, pães, sobremesas e sorvetes, também usados como produtos auxiliares para a indústria de carnes. Atualmente a empresa importa o produto da sua matriz, na Alemanha, mas com o crescimento do mercado decidiu investir € 3 milhões na fabricação no país. O início da produção, que será exportada para a China e África, está previsto para o segundo semestre de 2010.
Fundada em 1999, depois de desvincular-se como divisão química da empresa Henkel KGaA, a Cognis foi adquirida, em 2001, por um grupo de investidores: Permira GS, Capital Partners e Schroder Ventures. No Brasil a empresa possui um complexo industrial em Jacareí (SP), com 280 funcionários e de onde também comanda as operações de suas afiliadas da Argentina, Chile e Colômbia. Em 2008, a unidade registrou uma receita líquida de R$ 362,5 milhões.
Desde 1999 a empresa desenvolve o Programa Amazon Care Chemicals, feito em parceria com a Natura. A Cognis é a única fornecedora de matérias-primas originárias da Amazônia para os produtos da linha Ekos, da Natura. O objetivo da empresa, no entanto, segundo o seu presidente, Marco Carmini, é ampliar esse trabalho com outros parceiros, visando o desenvolvimento de novos ingredientes ativos, não só originários da Amazônia, mas também de outros biomas, como a Caatinga e o Cerrado.
Este ano a Cognis produziu 150 toneladas de produtos no projeto Amazon Care, incluindo óleos de andiroba e castanha do Brasil, manteiga de cupuaçu e manteiga de murumuru. Carmini explica que nas pesquisas iniciais feitas sobre a Caatinga e o Cerrado já foram identificados alguns produtos, como óleos e manteigas, com efeitos cicatrizantes; e adstringentes e hidratantes, obtidos a partir de sementes, galhos e folhas.
Atualmente, o projeto Amazon Care envolve cerca de 700 famílias, que trabalham em todo o processo, desde a extração dos óleos até o seu pré-processamento. A experiência, de acordo com Carmini, já resultou em 12 produtos e a linha Amazon Care é constituída hoje por quatro óleos naturais, três versões hidrossolúveis e uma betaína (aminoácidos).
Os produtos têm propriedades emolientes e são usados pela Natura na composição de shampoos, condicionadores, sabonetes, desodorantes, batons, loções e cremes hidratantes. Segundo o presidente da Cognis, a empresa estabeleceu uma parceria de longo prazo com as comunidades amazônicas que prevê a compra da produção, treinamento e suporte técnico e fornecimento dos equipamentos, que são pagos em insumos para os cooperados.
Um trabalho de capacitação de boas práticas de coleta, manejo e produção de óleos está sendo implantado pelo Ibama, em conjunto com a Cognis, em várias comunidades da Amazônia. "Antes o processo de coleta dos óleos era bastante artesanal, mas com o trabalho educativo que foi desenvolvido, passamos a obter uma padronização industrial, com um nível de pureza bastante satisfatório", explicou o executivo.
Com sede na Alemanha e faturamento anual de € 3 bilhões, a Cognis está dividida mundialmente em três unidades de negócios: Care Chemicals (matéria-prima para cuidados com o cabelo, pele, corpo e limpadores domésticos e industriais), Functional Products (produtos para agricultura, tintas, lubrificantes e mineração) e Nutrition & Health (bases para alimentos semielaborados, aditivos e suplementos dietéticos, além de soluções para a indústria farmacêutica). O grupo possui aproximadamente 5,6 mil funcionários espalhados em 30 países.
Veículo: Valor Econômico