No Brasil, sinal amarelo no setor produtivo

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Crédito escasso, freio no consumo e dúvidas sobre o futuro do dólar – as empresas brasileiras já sentem os primeiros efeitos da crise financeira internacional. O governo disse que o Brasil não sentiria com a crise, mas não é bem assim.

 

A indústria calçadista, por exemplo, não está fechando contratos de exportação. Os bancos já reviram para baixo as previsões de oferta de crédito.

 

Para um país como o Brasil, que cresce com a ajuda do mercado interno, a falta de dinheiro para o crédito é uma enorme preocupação em todos os setores.

 

Sinal amarelo para os exportadores de calçados de Franca, no interior de São Paulo. A instabilidade na cotação do dólar paralisou as negociações.

 

“Nós precisamos de, pelo menos, uns dias para saber se vai ficar mais ou menos estável nesse preço”, disse o empresário Jorge Donadelli.

 

Cautela também para os supermercadistas, graças à alta dos preços. O consumo de alguns produtos está caindo.

 

“Os perecíveis, por exemplo, são produtos que têm queda de consumo. Há queda também no consumo de arroz, da farinha de trigo e do leite em pó. A classe média também acaba, dentro do seu orçamento apertado, fazendo cortes. É o iogurte, o queijo, o leite, o sorvete, uma série de produtos tem queda desse volume”, aponta o presidente da Abras, Sussumu Honda.

 

Já representantes da indústria de base não sabem até quando terão fôlego para crescer. As empresas responsáveis pelas grandes obras de infra-estrutura prevêem dificuldades em obter financiamento no exterior

 

“Não podemos imaginar que o Brasil nem qualquer outro país possa sair completamente ileso de uma crise dessa proporção, dessa dimensão. Nós precisamos criar estruturas alternativas para complementar as ações do BNDES”, disse o presidente da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy.

 

Os bancos também estão reavaliando as projeções para 2008-2009. A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) estima redução nos investimentos e nas operações de crédito. Ao todo, 56% dos bancos ouvidos acreditam que a crise americana traz risco médio de contágio à economia brasileira.

 

“O mercado bancário brasileiro vai sentir, certamente, dificuldade de captar recursos no mercado internacional para emprestar domesticamente. Esse é um problema de enxugamento de liquidez, muito mais do que um problema de crise bancária, que está afastada para o caso brasileiro”, afirma o economista Márcio Holland.

 

Para os economistas, o crédito é o oxigênio da economia capitalista. Sem ele, empresas adiam planos de expansão e deixam de produzir mais. No caso de países com o consumo em alta como o Brasil, a falta de dinheiro na praça para financiar investimentos pode significar uma ameaça à economia.

 

“O consumo não diminui na mesma velocidade do crédito. Portanto, o consumo vai demorar mais para desaquecer e o crédito vai desacaquecer mais rapidamente. Esse desencontro vai provocar um processo inflacionário que pode exigir do Banco Central um aumento dos juros”, afirma o economista Miguel Daoud.

 

Foi divulgado na terça-feira (23) o Índice de Preços ao Consumidor semanal e, mais uma vez, os alimentos registram queda, com recuo principalmente nos laticínios. Já o item “Vestuário” registrou aumento.

 

Veículo: Programa Bom Dia Brasil - Rede Globo


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