O crescimento do setor de alimentação fora de casa (food service) está atraindo a atenção das redes supermercadistas, que copiam as experiências bem-sucedidas nesse sentido em redes internacionais, que identificaram no segmento a oportunidade de aumentar o fluxo de clientes e de mantê-los por mais tempo nas lojas. A tendência de abrir restaurantes dentro dos supermercados - forte, no exterior - cresce no País nas grandes e médias redes, passando a incomodar as cadeias de fast-food, restaurantes e rôtisseries de bairro.
De olho em um mercado que registrou alta de 16% no ano passado, o Grupo Pão de Açúcar resolveu aprimorar o mix de serviços oferecidos ao consumidor há cerca de dois anos, quando inaugurou a primeira unidade do Pão de Açúcar com restaurante, localizada em Alphaville, na Grande São Paulo. "Estamos concentrando a oferta deste serviço em São Paulo, região em que a demanda é maior", disse Vanessa Sandrini, gerente de Desenvolvimento de Rôtisserie da rede varejista.
A gerente revela que o setor "cresce a taxas chinesas", com incremento médio de 20% em toda a cadeia, incluindo a seção de padaria. "Atualmente, sete lojas disponibilizam este serviço, mas a expectativa é de que todas as unidades com mais de mil metros quadrados contem com um restaurante", afirmou. Ela ressalta ainda que os acionistas da empresa estão atentos ao potencial da área e por isso investem mais no espaço de refeição fora do lar.
De acordo com Vanessa, o Grupo Pão de Açúcar inspirou-se em grandes redes estrangeiras para conceber os espaços voltados à alimentação em suas lojas. "Grandes redes, como a inglesa Tesco, a norte-americana Whole Foods e a francesa Casino [acionista da varejista brasileira], serviram de inspiração para iniciar neste segmento: nosso formato é muito parecido com o americano", explicou a gerente.
Em pesquisas realizadas com os clientes, o Grupo Pão de Açúcar identificou que é intenção da maioria alimentar-se no momento da compra. Vanessa conta que este é um dos fatores que comprovam a necessidade de um espaço que já não é mais um "luxo" em termos de investimento.
O presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Sussumu Honda, analisa que "o setor de food service passa por momento de aprimoramento nas redes supermercadistas, visto que a alimentação fora de casa está crescendo. O ponto-de-venda está se transformando em ponto de consumo e as empresas passam a investir mais na elaboração dos alimentos, utilizando processos menos industrializados e mais artesanais".
Segundo Honda, o segmento está em franca expansão nos Estados Unidos, onde as redes expandem também com serviços de padrão gourmet. "Isto é reflexo da mudança de hábitos da população, principalmente nos grandes centros urbanos. Refeições completas e mais rápidas serão oferecidas cada vez mais nos supermercados", apontou.
Este é exatamente o foco da segunda maior varejista do País [Pão de Açúcar], que, além do cardápio diário, comercializa sushis, pizzas e frangos, considerados o carro-chefe das refeições. "A intenção é trazer a loja para o dia-a-dia do cliente, proporcionando um espaço em que as pessoas façam até um happy hour", disse a gerente do grupo.
Redes médias
Entre as varejistas de médio porte, o investimento no food service também é uma forte tendência. A rede Supermercados Modelo, de Mato Grosso, identificou o potencial do segmento e há três anos começou a investir em um novo modelo de loja, com restaurante, no Pantanal Shopping, inspirado em redes norte-americanas e canadenses.
O sócio diretor Aldecir Magalhães relata que "esta unidade possui uma ampla área de alimentação formada por lanchonete, pizzaria, restaurante e sushi bar. Percebemos que a loja teria um grande fluxo de pessoas que poderiam fazer uma refeição naquele local". Atualmente, oito das 14 lojas têm este serviço, que trouxe um incremento de 3% a essas lojas. Ano passado, o faturamento da companhia foi de R$ 341 milhões, com previsão de crescer 12% este ano.
Cada refeição é vendida a R$ 17,90 por quilo. O desempenho levou o empresário a expandir a operação e criar o conceito de comida a toda hora: salgados na lanchonete, comida por quilo no almoço e pizza no jantar. Magalhães ressalta que "a principal vantagem é a geração de fluxo no período em que a loja tem pouco movimento". Ainda no ramo de alimentos, o grupo detém a Distribuidora ABS, responsável pelo atendimento a três mil clientes e com expectativa de faturar R$ 100 milhões em 2008, 15% a mais que no ano passado.
As redes Savegnago Supermercados e também a Covabra, ambas do interior paulista, são outros exemplos de supermercadistas de médio porte que viram na alimentação fora do lar um impulso extra para a expansão dos seus negócios.
A família Savegnago, de Sertãozinho (SP), inaugurou há dois anos seu primeiro restaurante, o La Bella Pasta, especializado em massas. Presente em quatro das 19 filiais, o estabelecimento representa cerca 3,5% do total de vendas das lojas e um incremento de 8% no fluxo de clientes, segundo Sebastião Édson Savegnago, diretor superintendente. A maior rede do interior de São Paulo, com faturamento de R$ 600 milhões em 2007, contabiliza a venda de cinco mil refeições por mês nessas unidades. A empresa concluiu recentemente a ampliação de uma loja em Barretos (SP), que agora opera com o novo formato e planeja a abertura de mais três lojas, todas no ano que vem.
Veículo: DCI