Ao apresentar índices de crescimento superiores aos da média do Brasil, os supermercadistas do nordeste já enfrentam o assédio de grandes redes do sudeste, de olho no potencial de expansão da região. Levantamento feito pela Abras esse ano mostrou que, enquanto o faturamento mais robusto do setor ainda está no sudeste - o equivalente a R$ 81,3 bilhões em 2011 -, o nordeste é a região que mais ganha espaço nos últimos três anos, em termos de representatividade. Em outras palavras, isso significa que a região vem apresentando crescimento acima da média, tendo dado um salto de 15,8% para 19,7% no período que vai de 2010 a abril de 2011, e somado R$ 29,7 bilhões em vendas.
No Ceará, por exemplo, está a Super Rede, maior central de negócios do setor do País (no ranking de 58 associações listadas pela Abras) que pretende fechar 2011 com crescimento de 10% sobre o faturamento de R$ 1,29 bilhão registrado no ano passado. Na briga de Davi contra Golias, a estratégia para manter a liderança na região e proteger-se das ameaças externas é sustentar-se em vantagens competitivas como dispor de maior conhecimento dos hábitos dos consumidores locais, modelos de negócios coletivos além da força da marca regional. No meio empresarial nordestino, a palavra de ordem é não relaxar e estar atento às inovações - pelo menos na avaliação do empresário Paulo Cardilo, superintendente da Super Rede, que segue apostando na conjunção com redes de menor porte para alçar vôos mais altos.
O grupo, que conta atualmente com 49 lojas de seis bandeiras (Cometa Supermercado, Planeta Supermercado, Super do Povo, Supermercado Polar, Frangolândia e Pinheiro) na capital cearense e em outros 18 municípios do estado, faturou seu primeiro bilhão em 2009 como resultado do associativismo, modelo de negócio, que permite ofertar preços mais atraentes e barganhar prazos mais elásticos com os fornecedores.
Dono de personalidade direta, o superintendente Cardilo não esconde já ter sido sondado por grandes varejistas ávidos por novas aquisições no setor. "Já recebemos propostas nesse sentido, mas acreditamos que uma boa dose humildade, aliada ao fato de estarmos atentos às inovações, nos permite continuar fortes no estado ", revelou.
Isso significa oferecer preços mais convidativos e apostar em produtos de marca própria, com foco nas classes C, D e E - a rede já possui quase 60 itens com esse perfil. Ainda esse ano, a associação supermercadista, que tem tíquete médio de R$ 30, pretende inaugurar mais duas unidades no interior do estado e investir nas classes A e B. Está prevista ainda a abertura de sua primeira central de distribuição, em uma área de 100 mil m² e capacidade de 43 mil m² de armazenagem.
Para Cardilo, conhecer bem os interesses e hábitos dos consumidores cearenses é, sem dúvida, uma vantagem competitiva em relação à concorrência e que assegura a sustentação do negócio.
Na visão do superintendente da Abras, Tiaraju Pires, fatores como o menor nível de desemprego explicam a atual boa fase do nordeste . "Em estados como Bahia e Pernambuco, por exemplo, essa evolução é mais expressiva, o que explica o bom momento vivido pelas capitais, Salvador e Recife", diz. Quanto às possibilidades de transações que envolvem concentração de mercado nesses territórios, o superintendente da Abras diz não existir nenhuma regra ou tendência que explique a ocorrência dessas operações e que, primeiramente, é preciso haver uma convergência natural do mercado. "O que pode haver, a meu ver, é uma expansão orgânica das grandes redes, mas ainda é cedo para fazer uma projeção. Tudo vai depender da oferta. Em várias regiões existem redes locais que têm porte e representatividade bastante expressivos e uma, dentre as várias razões, é o total conhecimento do mercado", explica Tiaraju.
Isso justifica, pelo menos em tese, a liderança de outro grupo, o Nordestão, a maior rede supercadista do Rio Grande do Norte e 28ª no ranking da Abras, que próxima de completar 40 anos, em 2012, registrou, em 2010, R$ 54,6 milhões de faturamento bruto nos sete pontos de venda em Natal.
Veículo: DCI