Num momento em que a desaceleração da economia se acentua e aumentam as incertezas no cenário externo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, encontrou-se na segunda-feira com um grupo de empresários para ouvir relatos sobre a situação de vários setores da indústria e do comércio e para enfatizar o esforço do governo em impedir uma queda forte do ritmo de atividade. Segundo participantes da reunião, realizada na sede da Fazenda em São Paulo, Mantega recebeu sugestões no sentido de ampliar o crédito, baixar os juros, reduzir a carga tributária e diminuir a burocracia, mostrando-se receptivo a elas, mas sem se comprometer com a adoção de nenhuma medida no curto prazo.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, disse ter exposto ao ministro as dificuldades das empresas filiadas à entidade, especialmente dos setores de telecomunicações e geração, distribuição e transmissão de energia elétrica. Com a forte concorrência do importado, as companhias têm perdido espaço para o produto estrangeiro. Segundo Barbato, o setor de geração, transmissão e distribuição de energia viu seu faturamento crescer 10% no primeiro semestre. "As importações, porém, crescem muito mais. De janeiro a outubro, aumentaram 68,5%." Barbato disse que ficou acertado que ele terá contatos com o secretário de Política Econômica, Márcio Holland, presente à reunião, para discutirem os números e eventualmente elaborarem propostas para ajudar os segmentos que mais sofrem.
Segundo o presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco), Claudio Conz, as sugestões dos empresários se concentraram em temas como a diminuição da carga tributária, aumento do crédito e queda dos juros. Ele também fez um relato sobre a situação do setor que, de janeiro a outubro, viu o faturamento crescer 5%, abaixo dos 10% a 11% esperados no começo do ano. A piora nas condições de crédito contribuiu para esse desempenho mais fraco, disse ele. A reversão já anunciada pelo Banco Central de algumas das medidas de restrição ao crédito, porém, já é uma boa notícia, segundo Conz.
Tiaraju Pires, superintendente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), traçou ao ministro um quadro positivo sobre o setor. A combinação entre desemprego em nível historicamente baixo e aumento da renda real ainda proporciona crescimento relevante para o segmento. Para o ano, a expansão esperado pelo setor é de 4%. "Para a Abras, o nível de consumo que temos hoje proporciona um ambiente muito favorável."
Estiveram no encontro Enéas Pestana, diretor-presidente do grupo Pão de Açúcar, Armando Ennes do Vale Junior, da Whirlpool, Luiza Trajano, presidente da Magazine Luiza, Fernando de Castro, presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), Lourival Kiçula, da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) e Walter Cover, da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Construção (Abramat).
Veículo: Valor Econômico