Supermercados do estado aderem à campanha e deixam de oferecer sacos plásticos gratuitos aos clientes
Uma mudança de comportamento tem data marcada para acontecer no estado de São Paulo. A partir do dia 25, aniversário da maior cidade paulista, as redes filiadas à Associação Paulista de Supermercados (Apas) em mais de 150 cidades, responsáveis por 90% do faturamento da cadeia de varejo, se comprometeram a não mais oferecer de graça as sacolinhas plásticas. A iniciativa faz parte da campanha “Vamos tirar o planeta do sufoco”, em parceria com o governo estadual, e deve alcançar cerca de 30 milhões de pessoas.
“Os supermercados oferecerão,como alternativa, sacolas biodegradáveis, feitas de amido de milho e sacolas reutilizáveis”, disse João Sanzovo, diretor de sustentabilidade da Apas. “Todas ao preço de custo.” Pesquisa mostrou que os supermercados adquiriram em 2010, 17,9 bilhões de sacolas, a um custo de 0,035. Isso significa que esse insumo custou ao varejo R$ 550 milhões.
Sanzovo confia que os consumidores já estão suficientemente informados sobre o consumo exagerado de sacolas plásticas e prontos para aderir às reutilizáveis.
Ele explica que o tema é recorrente.Depois de estimular o debate sobre a contribuição do setor de supermercados para a preservação ambiental, vários municípios paulistas começarama votar leis, sancionadas pelos prefeitos, proibindo o uso das sacolas plásticas nos últimos três anos.
Essas leis, no entanto, foram alvo de Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) por parte do Procon, indústrias e sindicatos dos fornecedores, e acabaram sendo abandonadas.
Diante disso, e a partir do exemplo de Jundiaí, que estabeleceu a campanha de forma voluntária, a Apas adotou o caminho da conscientização dos consumidores sobre o problema.
Campanha nacional
A ideia ganhou o apoio do Ministério do Meio Ambiente e deve se expandir para outros estados. “Achamos que a comunidade deve se organizar sem a obrigatoriedade de uma legislação”, diz Fernanda Daltro, responsável pela campanha “Saco é um Saco”, do ministério.
A partir de 15 de março, a segunda fase da iniciativa, em parceria com a Apas e a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), será lançada nacionalmente, agora falando sobre as alternativas reutilizáveis às sacolinhas. “O ministério entende que a sensibilização dos consumidores sobre a tragédia ambiental causada pelo excesso de sacolas plásticas e seu descarte incorreto foi exitosa. O próximo passo é apresentar soluções para o seu dia a dia”, afirma Samyra Crespo, secretária de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental do MMA.“Saem os descartáveis, entram os duráveis.
O importante é reutilizar ao máximo, diminuindo a pressão por matéria-prima e a geração de resíduos.”A meta é reduzir o consumo das sacolas em 30% até 2013 e em 40% até 2015, considerando a produção de 2010 (14 bilhões).
UM MUNDO DE PLÁSTICO
66
É o número de sacolas plásticas
que cada brasileiro utiliza
por mês para fazer suas compras
nos supermercados.
80%
É a parcela de sacolas
plásticas que viram sacos
de lixo doméstico nas
residências brasileiras
14 bilhões
É o número de sacolas plásticas
descartáveis que o Brasil
produziu em 2010. A meta é
diminuir para 10 bilhões em 2015
CUSTO AMBIENTAL
Período de degradação de cada produto
Fonte: Ministério do Meio Ambiente
Plástico convencional 400 anos
Bioplástico 6 meses
Plástico verde 400 anos
Papéis 3 a 6 meses
Sacola retornável de pano 1 a 5 meses
A SITUAÇÃO EM CADA PAÍS
Alemanha - Cobra-se uma taxa extra pelas
sacolas plásticas
Bangladesh - São proibidas para não
contribuir para as enchentes
China - Sacolas plásticas são cobradas
EUA - Varia por estado, mas em
geral exigem-se sacolas recicláveis
França - Só podem ser usadas as
biodegradáveis
Inglaterra - Programa é voluntário e varia
por cidade, mas a meta é usar apenas sacolas recicláveis
Pioneirismo - Jundiaí é exemplo no estado
A cidade catarinense de Xanxerê foi a primeira do Brasil a banir as sacolas plásticas de forma voluntária. Como uma onda, dezenas de outras cidades brasileiras seguiram o seu exemplo nos estados do Sul, mas também em São Paulo e Minas Gerais. Na paulista Jundiaí, um acordo entre a prefeitura e os estabelecimentos comerciais para reduzir
o uso e estabelecer alternativas aos clientes ganhou a adesão da população.
Pesquisa realizada pela Apas e o Ibope demonstra que 62% da população da cidade
se diz satisfeita com a campanha e 77% é favorável ao modelo sem sacolas descartáveis.
Além disso, 93% apoia a expansão do “Vamos tirar o planeta do sufoco” para todo o estado.A Apas lembra, no entanto, que a campanha só funciona se houver alternativas de embalagem nos supermercados.
Principal problema é o consumo excessivo
Plástico vai parar nos lixões e contribui para enchentes e degradação ambiental
Segundo a pesquisa mais recente realizada pelo Ministério do Meio Ambiente, cada família brasileira descarta cerca de 40 quilos de plástico por ano, sendo que 56% desse volume é composto de embalagens usadas.
Estima-se que o Brasil consuma 33 milhões de sacolas plásticas por dia. Mais de 80% é utilizada apenas uma vez e, em seguida, descartada.O problema ambiental é que boa parte desse plástico vai parar nos aterros e lixões e, segundo os especialistas, leva 400 anos para se degradar na natureza.
Em consequência, contribui para a impermeabilização do solo, dificulta a degradação de produtos orgânicos, polui cidade,obstrui pontos de drenagem de chuvas e bueiros, e ajuda a causar enchentes.
EmBangladesh, por exemplo, as sacolas plásticas foramproibidas para não contribuírem para as enchentes que costumam assolar europeus, onde o problema do lixo já foi resolvido, o varejo costuma cobrar para o uso das sacolas ou instituiu uma taxação
para a sua reciclagem.
É por esses motivos que o Plastivida Instituto Socioambiental dos Plásticos insiste
que o problema não é a sacola plástica em si, mas o consumo excessivo, e defende uma ação conjunta entre indústria e varejo para resolver a questão. Pesquisa realizada pelo Ministério do Meio Ambiente alerta ainda para a quantidade de pessoas que não sabe onde colocar o lixo (45%) sem as sacolas plásticas, e aquelas que não querem gastar com a compra de sacos de lixo reciclável (33%).
Em São Paulo, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado (Fecomércio) defende a diminuição do uso e alerta para os interesses comerciais envolvidos no banimento puro e simples.O próprio Ministério do Meio Ambiente alerta que a questão do plástico está ligado à destinação do lixo e prefere investir, nessa segunda fase da campanha,em informação sobre as alternativas.
É reutilizável toda embalagem, recipiente, sacola, caixa, que possa ser utilizada várias vezes - é, portanto, feita de material durável. São sacolas de pano ou plástico resistente, caixas de papelão, engradados plásticos,carrinhos de feira etc.
Surge então outro problema.
O Plastivida fez um estudo em parceria com uma empresa especializada em higiene ambiental chamando a atenção para o alto índice de contaminação das sacolas de papelão, embalagens que muitos supermercados vêm oferecendo no lugar das sacolas plásticas convencionais.
Veículo: Brasil Econômico