Ceia de Natal mais cara, mas farta

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Apesar da crise, alguns comerciantes mantêm otimismo em relação às vendas de Natal. Consumidores, por sua vez, se mostram mais cautelosos

 

Maior, mais bonito e mais caro. Assim será o Natal dos curitibanos, que, apesar de encontrarem preços mais altos do que no ano passado em alguns produtos típicos, poderão tirar proveito de uma possível guerra de preços das redes varejistas. Entre os lojistas, o sentimento vai da cautela ao otimismo, e, para manter a clientela, o comércio dá sinais de que vai absorver parte do aumento de custos provocado pela variação cambial. Negociações feitas antes de a crise se alastrar pela economia real e a oferta de produtos nacionais ajudam a explicar a confiança dos comerciantes, mesmo em tempos de crise. Os consumidores, um pouco mais cautelosos, devem reduzir os gastos com importados, mas os enfeites da casa estão garantidos.

 

Entre os produtos que vão elevar os custos da ceia de fim de ano estão as aves típicas de Natal e os panetones. Ainda não há produto em todos os mercados, mas, onde ele chegou, a alta foi expressiva. O peru da Perdigão, por exemplo, que no ano passado custava, em média, R$ 8,15 o quilo, é encontrado hoje por R$ 10,94. No geral, os panetones sofreram aumentos de 8% a 18%.

 

Por outro lado, os enfeites natalinos estão mais baratos, segundo relatos de comerciantes e de consumidores. “Conseguimos negociar um preço muito bom. Recebemos os artigos natalinos já faz dois meses”, diz o gerente regional do Pão de Açúcar, Marcelo Amorim. A rede, que está ofertando 1,4 milhão de peças de decoração nas lojas Extra e Pão de Açúcar, espera faturar 47% a mais do que no ano passado.

 

“Nós não estamos em crise”, diz, faceira, Eliane Bartel, proprietária da Casa dos Bonecos, em Santa Felicidade. A empresária vende artigos natalinos para o atacado e varejo de todo o Brasil. A comercialização começou em agosto e alguns itens já estão esgotados. A previsão dela é faturar 10% a mais do que em 2007. Em janeiro, quando fará as encomendas para o Natal de 2009, Eliane deve adquirir mais produtos. Ela conta que, mesmo com a escalada do dólar, os preços não devem mudar muito. “Já estou recebendo o anúncio de alguns produtos e ainda não houve alta em nenhum deles.” A arquiteta Alessandra Grillo, cliente da loja, mostra um pouco mais de cautela. “No geral, vou gastar menos do que no ano passado. A gente precisa se segurar, guardar para talvez no ano que vem poder gastar mais.”

 

Mesa cheia

 

O executivo Armando Moreira Filho conta que prefere economizar em algumas coisas para garantir uma mesa farta e bem decorada. Se tiver que cortar gastos, petiscos como azeitonas, nozes e castanhas serão o alvo prioritário. “Com o aumento do dólar, algumas coisas ficaram inviáveis.”. Do início de agosto para cá, o câmbio variou 43%. A cirugiã dentista Sandra Alvarenga Rezende também pretende gastar a mesma coisa do que no Natal do ano passado e, por enquanto, não sentiu ainda os efeitos da crise econômica. Eles estão na contramão da maioria dos consumidores. Levantamento do instituto TNS Interscience em seis capitais (que exclui Curitiba) mostra que 46% dos brasileiros pretendem reduzir os gastos de fim de ano.

 

Se depender da expectativa dos supermercados, o consumidor vai ter mesmo uma mesa cheia. A rede Pão de Açúcar ampliou a variedade de produtos em 30% em relação ao ano passado. A expectativa da empresa é aumentar as vendas de panetones da marca própria em 20%; cestas natalinas, também 20%; bacalhau, quase 30%. “Mesmo com a alta do dólar, o preço do produto está o mesmo que era em 2006. No geral, a venda de artigos alimentícios não deve ser afetada pela crise. Também, estamos reduzindo margem de lucro, apostando em um volume maior de venda”, diz Amorim, do Pão de Açúcar. No Wal-Mart, espera ter “o melhor Natal da história da empresa no Brasil”. O otimismo decorre na abertura das novas lojas, que vem ocorrendo durante todo o ano de 2008: 36, ao todo.

 

Bebidas importadas viram artigo de luxo

 

Os comerciantes de bebidas do Mercado Municipal, tradicional ponto de venda de produtos importados, estão sentindo bastante os efeitos da crise econômica. Valdo Santos, sommelier de uma loja de queijos e vinhos, diz que a queda nas vendas varia de 20% a 30%. “Nessa época do ano era para a loja estar cheia.” A previsão dele e da proprietária, Marli Ramos, é que o baixo movimento vá perdurar por todo o próximo mês. Marli diz que as negociações com as importadoras estão resultando em altas de preços de 10% a 15%.

 

Mas a ceia não precisa ser regada apenas a refrigerante. O gerente regional do Pão de Açúcar, Marcelo Amorim, diz que a rede optou por oferecer mais produtos nacionais. Os espumantes brasileiros, por exemplo, custam até 30% menos que os similares estrangeiros nas lojas da rede. Por conta disso, a empresa espera vender até 18% a mais de vinhos, proseccos e champanhes no período natalino. O executivo Armando Moreira Filho diz que não espera encontrar alta de preços nas bebidas. Para ele, os importadores já negociaram valores e volumes antes da crise começar. “A expectativa é que o preço continue em baixa. O cliente está muito mais atento a especulações.”

 

O presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Sussumu Honda, diz que não há como evitar a alta dos artigos importados. “O dólar atual chega a quase 50% de aumento em relação a três meses atrás. A cadeia de distribuição não consegue absorver. Mesmo quando as negociações ocorreram antes da crise chegar, há o impacto do dólar mais alto no momento em que a carga chega na alfândega e deve ser nacionalizada”, explica.

 

Veículo: Gazeta do Povo Online

 


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