A diluição dos efeitos do forte reajuste do salário mínimo no início do ano e a inflação mais alta dos alimentos em julho devem ter moderado as vendas dos supermercados no mês, avaliam economistas. Por isso, apesar dos estímulos concedidos para a venda de bens duráveis, analistas não esperam que o varejo restrito (que exclui automóveis e materiais de construção) vai repetir o resultado de junho, quando foi observado crescimento de 1,5% do comércio na comparação com maio.
A média das projeções de dez departamentos econômicos e consultorias ouvidos pelo Valor Data é de alta de 1% das vendas ante o mês anterior, com ajuste sazonal. As estimativas variam entre estabilidade e avanço de 1,5%. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga hoje o resultado da Pesquisa Mensal do Comércio.
As vendas de veículos também devem passar por ajuste, principalmente por causa da elevada base de comparação. Em junho, o comércio de automóveis saltou 16,4% em relação a maio, como resposta à redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) promovida pelo governo para estimular o setor. As estimativas para o varejo ampliado variam entre queda de 3,7% e recuo de 0,7%.
Para Paulo Neves, economista da LCA Consultores, os aumentos reais por causa do forte reajuste do salário mínimo influenciaram positivamente as vendas nos supermercados no início do ano, segmento que responde mais diretamente a ganhos de renda. "Agora, a expectativa é que o avanço do rendimento real tenha acomodado, ainda que em patamar elevado, o que tende a moderar as vendas nos supermercados", afirma. Segundo dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) dessazonalizados e deflacionados pela LCA, as vendas recuaram 2,8% em julho, na comparação com junho. Neves adverte, no entanto, que após a mudança de metodologia da pesquisa do IBGE, o indicador da Abras vem mostrando consistência menor como indicação de tendência para a PMC.
Leandro Padulla, economista da MCM Consultores, faz a mesma ressalva ao observar que, entre maio e junho, enquanto a Abras apontou recuo de 2,4% nas vendas dos supermercados, na série com ajuste sazonal da MCM, o levantamento do IBGE mostrou alta de 0,8% nas vendas do setor.
Para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, preços mais altos de alimentos, que tiveram alta de 0,91% em julho, bem acima do avanço do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no período, de 0,43%, também afetaram as vendas nos mercados. "A renda real foi corroída pela inflação e o consumidor percebe isso rapidamente", avalia Gonçalves.
Outro sinal de moderação observado por Mariana Oliveira, economista da Tendências Consultoria, é a confiança do consumidor da Fundação Getulio Vargas (FGV). "Três meses consecutivos de queda indicam um cenário de menor ímpeto nas vendas", afirma Mariana. A sondagem mostrou que, entre junho e julho, a confiança dos brasileiros recuou 1,5%, após cair 2,8% no mês anterior, já descontados os efeitos sazonais.
Para a economista, as vendas no varejo restrito devem ficar estáveis na passagem mensal, mas condições mais favoráveis de financiamento devem impulsionar alguns setores. Mariana ressalta que o crédito para aquisição de bens subiu 1,8% entre junho e julho, de acordo com dados do Banco Central dessazonalizados pela Tendências.
Esse avanço, segundo ela, incentiva as compras de artigos de informática e de móveis e eletrodomésticos, que devem continuar crescendo impulsionadas também pela pelo corte no IPI. Já no caso de veículos, após o salto de 16,4% nas vendas em junho, a expectativa é de arrefecimento. Mariana afirma que o comportamento das vendas do setor deve ficar em linha com o resultado divulgado pela Fenabrave. Segundo a entidade que reúne as distribuidoras de veículos, as vendas de automóveis recuaram 1% em julho, na comparação com junho, de acordo com dados dessazonalizados pela Tendências.
Para a economista Thaís Zara, da Rosenberg & Associados, embora ainda alta, a inadimplência também dá sinais de estabilização, contribuindo para o aumento das vendas.
Segundo estudo da Serasa Experian, a busca por crédito em julho superou em 8% as consultas realizadas um mês antes, enquanto a inadimplência do consumidor recuou 1,5% no período. "Acreditamos que o consumo continuará crescendo num ritmo anualizado de 5% a 6% até o fim de 2012, pelo menos", diz Thaís. Pelas suas contas, as vendas do varejo restrito subirão 6% neste ano.
Padulla, da MCM, também acredita que o consumo vai se acelerar ao longo do segundo semestre, acompanhando a retomada da atividade. Segundo ele, a perspectiva de aumento do crédito, a redução nos juros e a renovação da desoneração para bens duráveis devem manter o comércio aquecido. A média das projeções coletadas pelo Valor Data é de crescimento de 7,6% do varejo restrito em 2012.
Veículo: Valor Econômico