Flávia Milhassi
Mesmo com todo o investimento estrangeiro em fusões e aquisições, e a inserção de marcas internacionais no Brasil, o varejo brasileiro, que soma mais de 1.433.650 operações, além de faturar na casa de R$ 1 trilhão, ainda pode ser considerado um setor protecionista. Prova disso é que do faturamento total do setor, só cerca de 5% a 10% do montante estão nas mãos de europeus e outros estrangeiros. O restante envolve operações 100% nacionais.
Ao dividirmos por nicho de atuação, o setor supermercadista é o que tem a maior concentração de capital estrangeiro, principalmente na Região Sudeste, uma vez que os quatro maiores players são internacionais (Grupo Pão de Açúcar (GPA), Carrefour, Walmart e Cencosud ). "Nosso País é muito grande. Se tirarmos a Região Sudeste da comparação, pode-se dizer que o capital das empresas de varejo é nacional", enfatizou José Amato Balian, especialista em administração de empresas da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP).
Na análise de Claudio Felisoni, presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), é possível afirmar que do total faturado pelo setor de supermercados - que segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), em 2011, foi de R$ 224,3 bilhões - cerca de 70% está nas mãos de empresas estrangeiras. O montante representaria algo em torno de R$ 157 bilhões, por exemplo. Desse valor estimado, de 10% a 20% são direcionados aos países de origem das operações, o restante fica no mercado interno, enfatizou Balian, da ESPM. "Em média, as empresas levam de 10% a 20% do lucro obtido para o país de origem. Os outros 80% são revertidos para as operações do Brasil".
A saída desse capital é vista como normal para Flávio Tayra, economista da Abras. "Achar que o capital sai do País é uma visão antiga. Temos que aproveitar que o Brasil é um dos melhores locais para investimento", argumentou ele, em entrevista ao DCI. A opinião é compartilhada por Eric Debarnot, diretor da consultoria Kantar Retail para a América do Sul. "Não vejo como a inserção de capital estrangeiro pode atrapalhar o mercado interno", disse ele. Ainda segundo o especialista, essa vinda de novas empresas estrangeiras pode qualificar ainda mais o varejo no Brasil. "As empresas não podem ter medo da competição, elas têm que aprender com isso". O especialista ressaltou também que, para essas empresas internacionais conseguirem se sobressair no País, é necessário que elas se ajustem à cultura local. "O Walmart só deu certo aqui depois de entender que não dava para trabalhar nos mesmos moldes da operação norte-americana", enfatizou.
Outros segmentos
No ramo de shopping centers, também há o predomínio do capital nacional sobre o estrangeiro. A superintendente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), Adriana Colloca, afirmou que apesar da entrada de fundos de investimentos internacionais, a administração dos grupos no setor ainda é concentrada nas mãos de brasileiros.
"As corporações começaram a receber aportes do exterior há alguns anos. Grande parte foi de origem canadense e norte-americana. No entanto, a maioria pode ser considerada ainda nacional", disse a especialista.
Na análise da distribuição regional da base acionária da gigante BR Malls, do balanço do terceiro trimestre de 2012 - disponibilizada pela assessoria da rede -, observa-se a supremacia do capital de origem norte-americano (42%), seguido do europeu (27,6%), e depois vem o brasileiro (19,1%). Já em outro ramo, o do varejo de material de construção, mesmo com o peso dos franceses Leroy Merlin e Saint-Gobain (Telha Norte), as operações de bairro e empresas de médio porte se sobressaem, quando somadas. Em consenso, todos os analistas entrevistados acreditam que existe uma tendência, a longo prazo, do País se internacionalizar mais.
Veículo: DCI