À frente da complicada reestruturação operacional da LBR - Lácteos Brasil, o presidente-executivo Rami Goldfajn confia na força de algumas marcas da empresa para estancar a compressão de margens verificada nos últimos anos e fazer a companhia voltar a gerar caixa. Dentre todas as categorias do segmento de lácteos em que a LBR atua, as melhores apostas de alcance nacional são os requeijões das marcas Paulista e Poços de Caldas e o leite longa vida (UHT) Parmalat.
Ainda que o atual portfólio de 11 marcas distribuídas em 12 categorias possa ser revisto, como Goldfajn indicou ao Valor na última sexta-feira, as três marcas mais fortes são as únicas da LBR listadas entre as cinco mais importantes do país em suas respectivas categorias, segundo pesquisa da consultoria Nielsen encomendada pela "SuperHiper", publicação da Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
Responsável por 65% do faturamento de R$ 2,4 bilhões da empresa no ano passado, o mercado brasileiro de leite longa vida é liderado pela LBR, que detém 15% dessa categoria por meio de sete marcas (Parmalat, Leitbom, Bom Gosto, Líder, DaMatta, Ibituruna e São Gabriel). Apesar da liderança, apenas a Parmalat tem alcance nacional, o que indica que algumas dessas marcas podem perder importância ou até deixar de existir na reestruturação.
Pelos números da Nielsen, a Parmalat é a terceira marca mais vendida de leite UHT integral do país, atrás de Elegê (da BRF) e Italac. O longa vida integral responde por 82% das vendas de UHT no país, segundo a Associação Brasileira de Leite Longa Vida (ABLV). Nos segmentos de leite UHT desnatado e semi-desnatado, a Parmalat é a líder nacional. No ano passado, o mercado total de longa vida movimentou US$ 6,2 bilhões no Brasil, conforme estimativa da consultoria Euromonitor.
Outro mercado relevante para a LBR é o de requeijões. Segundo a Nielsen, as marcas Paulista e Poços de Caldas, que pertenciam à Danone até 2008, figuram nas terceira e quinta colocações no ranking nacional, respectivamente. A Vigor é a líder dessa categoria. O mercado de queijos cremosos, que inclui requeijões, movimentou US$ 1,3 bilhão em 2012, segundo a Euromonitor. Assim como no caso do longa vida, o destaque de Poços de Caldas e Paulista em requeijões abre espaço para a LBR reduzir as outras três marcas menos expressivas: Boa Nata, Cedrense e Líder.
Além dos mercados de requeijão e leite longa vida, a LBR também mostra força com o creme de leite. A empresa é líder dessa categoria graças à marca Parmalat, com 20% do mercado. Bom Gosto, Leitbom, Ibituruna e Líder também integram o portfólio da LBR nesse tipo de produto.
Afora os segmentos de leite longa vida, requeijões e creme de leite, a LBR deve reduzir - ao menos momentaneamente - a produção de queijo prato e muçarela, setores que sofrem com as importações do Uruguai. "Não é que estamos saindo, mas numa fase em que não trazem rentabilidade, é inútil produzir", disse o diretor-presidente da LBR, Nelson Bastos. Conforme o Valor informou na sexta-feira, Bastos será o responsável pela reestruturação financeira, enquanto que Goldfajn fica na parte operacional.
Se Goldfajn lidará com o emaranhado de marcas e categorias, caberá a Bastos estruturar um plano de pagamentos factível para a recuperação judicial da empresa. O executivo cumpriu função parecida durante o processo de proteção judicial da mesma Parmalat nos anos 2000. Com a efetivação do pedido, a LBR tem 60 dias para apresentar o plano aos credores e 180 dias para a aprovação dele. Nesse tempo, a empresa não pode ser executada. Atualmente, a dívida da LBR é de cerca de R$ 1 bilhão.
Ainda que o prazo legal para a aprovação do plano seja de 180 dias, fontes familiarizadas com processos desse porte duvidam que ele fique pronto em tão pouco tempo. "Se as negociações estiverem correndo bem até lá, os credores não executam a dívida e a empresa ganha tempo", diz uma fonte, para quem um processo como o da LBR leva cerca de um ano até ser finalmente aprovado. Outro risco é, após aprovado o plano, ocorrerem aditamentos, que também atrasam pagamentos.
Contexto
A confirmação do pedido de recuperação judicial da LBR - Lácteos Brasil pode ocasionar um efeito dominó de baixas contábeis nos balanços dos principais acionistas da companhia. Conforme o Valor informou em janeiro, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deve fazer uma baixa de R$ 700 milhões relativa à operação da LBR. Principal credor da empresa, o BNDES é também o segundo acionista mais importante da companhia, com 30,2% do capital. Com a baixa do BNDES, a Monticiano Participações, que detém 40,5% da LBR, também sofrerá, uma vez que a análise do banco estatal é a referência para o cálculo do patrimônio líquido da Monticiano - formada pela GP Investments e Laep Investments. Na sexta-feira, a Laep reconheceu que a recuperação judicial terá impacto "relevante" sobre seu patrimônio.
Veículo: Valor Econômico