As vendas dos supermercados devem registrar uma forte desaceleração neste ano em relação a 2008, quando o setor obteve o seu melhor resultado dos últimos dez anos. A Associação Brasileira dos Supermercados (Abras) prevê que o faturamento das varejistas associadas à entidade crescerá apenas 2,5% em 2009 em termos reais, já descontada a inflação, um percentual bem inferior aos 9% acumulados no passado. Em termos nominais, as vendas dos supermercadistas cresceram 15,2% em 2008 em relação a 2007.
"A previsão de 2,5% pode parecer tímida, mas as estimativas dos economistas para o PIB em 2009 já não apontam mais para a taxa de 4% que o governo esperava", afirmou Sussumo Honda, presidente da Abras. A desaceleração já foi sentida durante o Natal, período mais importante para o setor. Em dezembro de 2008, os supermercados registraram aumento de 6,07% nas vendas reais em relação ao mesmo mês de 2007. Em outubro e novembro, as vendas apresentaram taxas de expansão de 11,5% e 10,8%, respectivamente. O ritmo de crescimento caiu quase pela metade.
As vendas de fim de ano decepcionaram os varejistas, que esperavam um aumento de pelo menos 10% em relação a igual período de 2007. "Dezembro foi um mês em que começamos a perceber que o consumidor mudou sua percepção e reagiu diante dos cortes de emprego e do clima que se instalou na economia", afirmou Honda. "Os efeitos da crise estão agora mais presentes", acrescentou.
Diante desse novo panorama, a Abras espera por um ano mais difícil, marcado pela desaceleração das vendas do setor. "São muitos fatores que podem afetar o setor neste ano, mas continuaremos crescendo", disse Honda. O crescimento de 2,5%, embora bem menor que o obtido em 2008, ainda seria um bom resultado se comparado ao desempenho do setor em anos anteriores. Em 2003, as vendas reais da Abras caíram 4,5%. Em 2006, o setor apresentou uma queda de 1,65% no faturamento real.
"O ano de 2008 foi muito bom. Mesmo com o clima pessimista que se instalou no mercado nos últimos meses, tivemos o melhor faturamento em 10 anos, em termos reais", afirmou Honda.
Sobre o processo de concentração no setor, o executivo prevê que ele deve continuar, tanto no Brasil como em toda a América Latina. Na sexta-feira, o Wal-Mart adquiriu a maior rede de supermercados do Chile, a D&S, pela qual pagou US$ 2,66 bilhões. Com a aquisição, a varejista americana passa a deter mais de 30% de participação no mercado chileno. Segundo Honda, o Wal-Mart está se fortalecendo na América Latina e continuará investindo no Brasil. "Só não vejo tanto interesse dos empresários no Brasil em vender suas empresas", disse Honda, para quem a onda de boatos sobre empresas que estariam à venda deve persistir em 2009.
Veículo: Valor Econômico