São Paulo, 24 de Novembro de 2008 - Ninguém discute que existe um cenário de crise assustador rondando o mercado brasileiro, mas às vésperas do Natal, melhor período de vendas para o comércio, crise é a última coisa que os varejistas querem ver pela frente. Até setembro, o varejo acumula uma alta de 10,4% nas vendas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E sem nenhum respingo de crise.
Os dez setores analisados pelo IBGE apresentaram aumento nas vendas. Equipamentos e material para escritório fecharam setembro com a maior alta, em 6,9%. Apenas os dados de veículos e motos, que no período registraram alta de 5,5%, já foram corrigidos pelas entidades do setor, mostrando retração.
Ainda assim, a expectativa da Tendências Consultoria é que o varejo feche o ano com alta de 9,1% nas vendas, um resultado muito bom e que não reflete os soluços da crise internacional, apesar de apresentar uma leve queda em relação a alta de 9,7% de 2007.
"A crise no Brasil chegou primeiro pela mídia e ainda não é uma realidade de chão de loja", afirma Sussumu Honda, presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Honda afirma que há alguns segmentos que podem sofrer com queda de vendas, especialmente aqueles que trabalham com produtos de maior valor agregado. "Em outubro, os hipermercados podem sentir um pouco mais os reflexos da crise na venda de eletroeletrônicos, por exemplo. Mas a área de alimentos não sentiu ainda", afirma. De janeiro a setembro, o setor supermercadista teve uma alta de 8,93% nas vendas, segundo a Abras. A expectativa é fechar o ano com aumento de 8%.
O consultor Marcos Gouvêa, da Gouvêa de Souza & MD, afirma que existem alguns sintomas da crise no varejo - a queda nas vendas dos carros, a leve desaceleração da venda de eletroeletrônicos, redes de vestuário reduzindo prazo para parcelamento, consumo de luxo em desaceleração -, mas, para ele, trata-se de questões pontuais. "Temos quatro fatores que impactam o consumo: renda, emprego, crédito e confiança. No caso do Brasil, renda e emprego não tiveram reduções, quanto ao crédito, tivemos alguns ajustes de prazos e taxas. O problema está no índice de confiança", avalia. Gouvêa explica que o clima de recessão faz com que o consumidor passe a incorporar preocupações e ter mais cautelas com as compras.
Uma pesquisa realizada pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio) comprova a tese de Gouvêa. O levantamento feito em duas etapas, no dia 17 e 31 de outubro, com a 1.116 paulistanos, mostra que a percepção de que a crise vai afetar de alguma maneira a situação econômica do País subiu de 67% para 75%. A percepção de que afeta as condições financeiras de sua família permaneceu estável em torno de 14%. A conclusão da entidade é de que o paulistano não acredita que a crise afetará a sua família no mesmo momento em que pode afetar a economia do País.
"Nos últimos três anos, foi o consumo que puxou o PIB do Brasil e isso não deve se alterar, nem em 2008, nem em 2009", afirma Gouvêa. Porém, no próximo ano, o varejo não deve apresentar a mesma performance que nos dois anos anteriores. A Tendências prevê um aumento de 5,2% nas vendas. Apesar da desaceleração esperada, Gouvêa afirma que o varejo está olhando com cautela, mas sem planos de rever metas e investimentos. Ao menos, por enquanto.
Veículo: Gazeta Mercantil