Ao aprovar ontem a fusão entre a Insinuante e a Ricardo Eletro, que formaram a Máquina de Vendas, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) mostrou que a concentração no varejo traz duas grandes preocupações que podem levar à imposição de restrições a novos negócios e aos que estão em análise no órgão antitruste. Segundo os conselheiros, a união de grandes redes traz problemas locais - em cidades, a união de duas ou mais varejistas pode prejudicar o consumidor - e nacionais, já que juntas as redes adquirem maior poder de barganha junto a fornecedores, por exemplo.
O julgamento que aprovou a criação da Máquina de Vendas foi um recado direto à Globex (cujo novo nome é Viavarejo), empresa controlada pelo Pão de Açúcar e que reúne Casas Bahia e Ponto Frio. A Globex é o grande desafio do Cade no varejo. Apesar de a Máquina ter sido aprovada sem condições, o mesmo não deve acontecer com a Globex, muito superior em vendas e poder de mercado.
"O que pode ocorrer no curto prazo é a existência de fortes e poucos agentes", diz o relator do processo da Máquina de Vendas, conselheiro Carlos Ragazzo, ao descrever os movimentos que estão acontecendo no setor. "Há uma tendência de o mercado estar se concentrando em grandes 'players'", diz o conselheiro Marcos Paulo Veríssimo. Este resume as dificuldades do Cade ao analisar fusões no varejo: "Nós temos de olhar a rivalidade município a município, sabendo que o padrão de competição pode ser regional ou nacional".
O conselheiro Ricardo Ruiz cita o exemplo do Walmart que tem uma "capilaridade municipal", mas criou uma estrutura de barganha nacional com os fornecedores. "Na obtenção do crédito, a barganha pode ser nacional", disse.
O Cade, na visão do conselheiro Alessandro Octaviani, está "começando a balizar os modelos de análise que vão nos permitir julgar os casos futuros".
Ragazzo fez ontem uma análise minuciosa, analisando, cidade por cidade, as concentrações decorrentes da união de 246 lojas da Insinuante com 281 da Ricardo Eletro. Ao todo, há sobreposição de lojas em 35 cidades. A maioria está na Bahia. Mas nem todas foram consideradas problemáticas. O Cade verificou que a Magazine Luiza está em expansão, com o objetivo de atuar em todos os Estados brasileiros e as Casas Bahia querem inaugurar mais de 200 lojas nos próximos anos. Ou seja, apesar de haver concentrações locais, há uma expansão orgânica de grandes redes. Por causa desse movimento, o Cade aprovou sem restrições a Máquina de Vendas.
"Eu acho que essa operação é pró-competitiva", resumiu Ragazzo, referindo-se à união entre a Insinuante e a Ricardo Eletro.
O Cade também aprovou a compra da City Lar pela Máquina de Vendas. Essa rede tem 200 lojas e foi adquirida em julho de 2010. Ao todo, a City está em oito cidades: Fortaleza (CE), Manaus (AM), Natal (RN), Mossoró (RN), Parnamirim (RN), São Luís (MA), Teresina (PI), Campina Grande (PB).
Veículo: Valor Econômico