Mudança de comando é desenhada no GPA

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Para dar continuidade ao processo de se tornar o acionista controlador da Companhia Brasileira de Distribuição (CBD), o varejista francês Casino indicou ontem três nomes de peso para o conselho do Grupo Pão de Açúcar (GPA): Eleazar de Carvalho Filho, Luiz Augusto de Castro Neves e Roberto Oliveira de Lima. A carreira empresarial dos novos membros é bastante extensa e aponta que o presidente da rede francesa, Jean Charles Naouri, escolheu a dedo as pessoas que o representarão no País. Segundo nota enviada pela empresa, "Carvalho Filho é um executivo altamente qualificado e sócio-fundador da Virtus BR Partners". Além disso, ele já foi executivo-chefe do Unibanco Investment Bank e do UBS Brasil e tem passagens pelo Banco Nacional de Desenvolvimento  Econômico e Social (BNDES). Já Castro Neves é descrito pelo Casino como diplomata com longa carreira no Ministério de Relações Exteriores. Ele foi embaixador do Brasil na China, entre 2004 e 2008, e no Japão, de 2008 a 2010. Também foi presidente do conselho da Itaipu Binacional. Atualmente é presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).

Roberto Lima, por sua vez, já foi executivo-chefe da Vivo e da Credicard, além de ter passagens pela Accor e outros grupos. Atualmente é membro do conselho da Natura, Telefônica Brasil, Rodobens e Edenred. Agora tudo indica que após as eleições dos três representantes, a maioria dos membros do conselho do GPA terá sido apontada pelo Casino.

A indicação, vista com uma certa surpresa pelo varejo, aponta que a rede pretende manter as raízes brasileiras de se fazer varejo, sem esquecer o modelo francês, constituindo-se em "um novo divisor de águas no setor brasileiro", afirma o pesquisador e professor Roberto Nascimento Azevedo de Oliveira, integrante do Núcleo Núcleo de Estudos do Varejo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP).

"A estratégia do Casino será compreender melhor o novo hábito do consumidor brasileiro, que possui diversas particularidades culturais e econômicas do consumidor francês. Ao assumir as operações, o setor terá um novo divisor de águas, como aconteceu com o Walmart em 1994 e com o Carrefour em 1972, momentos em que o setor passou por modificações expressivas."

Ainda com a experiência de Oliveira, ele explica que os três nomes mostram uma tendência, a de o proprietário do Casino manter a visão diferenciada do setor supermercadista brasileiro, sendo que deve promover mudanças nas bandeiras que assumirá no próximo dia 22 de junho. "Tudo indica que a estratégia da rede francesa é ter uma visão diferente do mercado varejista no Brasil. Ele precisará dar atenção em especial às mulheres, que são 85% dos compradores do grupo Pão de Açúcar", explica.

Para o pesquisador de varejo, assim que o grupo francês assumir as operações do Brasil o setor sentirá modificações, em especial no modelo de hipermercado, que tem perdido venda para as operações denominadas de supermercados de vizinhança. "Eles farão uma revolução no setor brasileiro, que há tempos está estagnado no Brasil. Muitos dizem que modificaram, passaram a atender melhor, mas medidas recentes - como a proibição da distribuição das sacolas plásticas - mostram que esses varejistas não se adequaram à nova demanda", enfatiza o especialista.

Em um comunicado divulgado pelo Casino, a empresa afirma que avisou formalmente o empresário Abílio Diniz sobre a nomeação dos três novos membros, que devem ser eleitos para o conselho na reunião de acionistas do GPA, prevista para dia 22 de junho. "A decisão do Casino de apontar brasileiros altamente respeitados e experientes para o conselho do GPA está em linha com sua visão de que os brasileiros devem continuar a ter um papel essencial na gestão e governança do GPA", diz o documento dos sócios. No texto, o Casino ainda reafirma o seu apoio total à atual gestão do GPA, além de seu compromisso de longo prazo com o Brasil.

Impasses

O anúncio dos novos nomes acontece após boatos de que a família Klein - fundadora da Casas Bahia - estaria interessada em comprar a Viavarejo, holding que administra as operações de varejo de eletroeletrônicos e móveis do GPA: Casas Bahia, Pontofrio e a operação on-line Novaponto.com. Apesar de negada por ambas as partes na semana passada, declarações recentes de Hugo Bethlem, vice-presidente-executivo do grupo, sobre uma possível dificuldade da Casas Bahia de continuar a crescer sem ajuda do Pão de Açúcar era questionável. "É difícil dizer se esse negócio fica de pé ou não", seria a sua frase, veiculada em agência internacional.

A opinião fez com que a família Klein enviasse nota de repúdio à imprensa, por meio da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Em nota, a empresa afirmou que "as declarações foram consideradas levianas e inverídicas pela família Klein, uma vez que a empresa opera com bons resultados e é responsável por 45% das vendas do Grupo Pão de Açúcar".

Também por meio de comunicado à CVM, o Pão de Açúcar informou que a Casas Bahia possui "estrutura de capital sólido e no caminho de seu crescimento", justamente em resposta às afirmações dos executivos envolvidos.

Carrefour

Na outra ponta, o vice-líder do setor supermercadista, o Carrefour, cujas operações brasileiras - com destaque para o Atacadão -, têm segurado os negócios externos da rede, também passou por mudanças recentes. Agora, a companhia tem um novo presidente global, Georges Plassat, indicado na semana passada. Depois de figurar como ponto-chave da crise que se agravou entre os sócios Diniz e Naouri, por conta da sugestão de compra do Carrefour no Brasil pelo concorrente, a bandeira, também de origem francesa, quer manter seus comerciais e suas ações promocionais.

Agora, a rede aposta em datas sazonais para melhorar o desempenho. Atenta à temporada de inverno, a empresa anuncia a oferta de produtos típicos no setor de alimentos e de não-alimentos.Até o final de julho, terá campanhas em todos os setores.



Veículo: DCI


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