Quatro líderes do setor varejista brasileiro, a maioria com cursos no exterior e experiência em áreas como gestão empresarial, controladoria e até mesmo com formação em Psicologia, têm o desafio de enfrentar mudanças no setor supermercadista, em que as redes Grupo Pão de Açúcar (GPA), Carrefour, Walmart e Cencosud controlam mais da metade do faturamento do ramo no Brasil e verificam de maneira corriqueira o aumento do capital externo nos negócios. Tais redes faturaram, somadas, no último ano, cerca de R$ 114 bilhões - o equivalente a 50,72% dos lucros totais obtidos pelo segmento.

Por trás dessas bandeiras estão os nomes de grandes executivos, e, presidindo a marca de maior participação no mercado, Enéas Pestana comanda o GPA desde março de 2010. Ele agora passa por um dos maiores desafios de sua gestão, ao enfrentar as negociações com o grupo francês Casino e a troca de controle acionário do GPA, com a saída do empresário Abílio Diniz, amanhã.

Em entrevista anterior ao DCI, o presidente da rede, que é formado em Ciências Contábeis, tem especialização nas áreas de Controladoria, Finanças, Liderança e Gestão e presta serviços ao grupo desde 2003, já admitiu o momento de apreensão, mas se mostrou otimista. "Tenho a convicção de que não vai haver nenhum tipo de turbulência, qualquer resultado acontecerá de forma muito tranquila e a companhia está absolutamente preservada. A estratégia continua a mesma, com o trabalho para atingir os objetivos e resultados, sem nenhuma dúvida."

O executivo já foi vice-presidente da Diagnósticos da América S.A. - Laboratório Delboni Auriemo, e também teve passagens pela GP Investimentos e pelo Carrefour. Atualmente, Pestana diz focar no retorno e no crescimento sustentável do grupo. "Eu acho que ainda há espaço para nossas ações subirem mais. Tivemos um crescimento muito forte nos últimos dois ou três anos porque o papel vinha andando de lado, com muito valor travado. À medida que começamos a apresentar resultados consistentes, destravou, e atingimos um patamar seguro e razoável, considerando as aquisições e a associação com as Casas Bahia. No final do ano passado tinha muita gente pessimista e preocupada com a crise, mas eu e o Abílio Diniz, que também é superconfiante no País, já dizíamos que não."

Gestor implacável

O Carrefour, que ocupa o segundo posto no ranking de faturamento do setor, tem Luiz Fazzio na presidência do grupo desde agosto de 2010. Com fama de gestor implacável, sua experiência inclui passagens pelos concorrentes Makro, Walmart e Pão de Açúcar, além de ter atuado como diretor-geral da C&A durante sete anos no Brasil.

Fazzio substituiu o francês Jean Marc Pueyo na presidência do Carrefour Brasil em meio a uma crise de acusações de fraude fiscal, mas já estava no grupo desde 2009, quando passou a integrar o comitê executivo da empresa.

Adotando medidas mais agressivas, o executivo viu seu grupo fechar o último ano alcançando um faturamento de R$ 28,7 bilhões e ser a marca francesa mais admirada pelos executivos brasileiros, segundo pesquisa da Câmara de Comércio Brasil - França realizada pelo Instituto Deffinity. Com aprovação de 24% dos entrevistados, o Carrefour está bem distante do também francês Casino, que recebeu somente 2% dos votos.

MBA e curso na França

O presidente do Walmart Brasil, terceiro maior faturamento do setor, tem uma longa história de trabalho na rede. Marcos Baruki Samaha está desde 1999 no grupo e assumiu como presidente e CEO da operação brasileira em setembro de 2010. Ele é paulista, nascido em 1967, graduado em Psicologia, com MBA pela Fundação Instituto de Administração (FEA-USP) e cursou o Advanced Management Program na Insead, na França.

Antes, Samaha presidiu por dois anos a operação do Walmart na América Central. No Brasil, já havia atuado como vice-presidente-executivo, respondendo pelas áreas Comercial, de Marketing e de Operações da divisão Varejo (2008), e de 2005 a 2007 foi vice-presidente de Operações, Marketing e Comercial para a Região Sul da marca.

Atualmente a empresa conta com cerca de 530 lojas e 81,5 mil funcionários no Brasil. No ano passado seu faturamento foi estimado em R$ 23,46 bilhões.

Consolidação

No cargo de diretor-geral da Prezunic / Cencosud Brasil desde janeiro deste ano, o chileno Carlos Conley tem a missão de estabelecer e consolidar sua marca no cenário nacional. A Cencosud adquiriu no último mês de novembro a rede carioca Prezunic. Somadas, as duas bandeiras faturaram aproximadamente R$ 8,88 bilhões em 2011, o quarto maior faturamento do segmento.

Em entrevista recente ao DCI, Conley se mostrou satisfeito com os rumos da Cencosud no Brasil e afirmou ter grandes desafios pela frente. "Não temos metas definidas, mas queremos ser respeitados e bem-vistos no mercado. Nosso desafio no momento não é comprar mais empresas, mas estabelecer e consolidar nossa marca", disse ele.

A rede Cencosud tem ações comercializadas na Bolsa de Valores de Santiago, e atua na Argentina, Colômbia, no Brasil, Chile, e Peru. Aqui, além da Prezunic, é dona das bandeiras GBarbosa, Mercantil Rodrigues, Perini e Bretas.

Loja sustentável

Atender a consumidores cada vez mais exigentes e acompanhar as tendências do setor são desafios para as redes. Aproveitando o tema ecológico que toma conta do País por causa da Rio+20, a Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, o Pão de Açúcar, por exemplo, resolveu divulgar seu modelo de loja ambientalmente correta. No Riocentro, onde acontece até amanhã o evento que reúne diversos chefes de Estado, foi montada uma loja com toda a linha de produtos saudáveis da rede. A marca trabalha há quatro anos com o modelo "supermercado verde", no qual oferece serviços como bicicletário, coleta de pilhas e baterias, estação de reciclagem e outros.


Veículo: DCI