Compra do Ponto Frio foi desenhada para Lily Safra

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Uma verdadeira engenharia societária foi criada para que Lily Safra pudesse vender o Ponto Frio ao Pão de Açúcar. Tudo porque a empresária, inicialmente, só aceitava receber em dinheiro. E o grupo varejista controlado por Abilio Diniz e pelo grupo francês Casino não queria fazer a compra gastando o caixa. Agora, a empresária reclama de não ter aproveitado a valorização das ações do Pão de Açúcar por ter recebido menos papéis do que o inicialmente previsto.

Para vencer a disputa pelo Ponto Frio, cuja vitória certa era atribuída à rede Magazine Luiza, o Pão de Açúcar acelerou o cronograma das negociações e colocou uma proposta agressiva na mesa antes do prazo previsto para entrega das ofertas. Luiza Trajano, dona da rede concorrente, não conseguiu se organizar a tempo e perdeu o negócio.

O Pão de Açúcar quase ficou de fora da operação não fosse a estrutura societária criada para atender aos receios e preocupações de Lily, garantindo que ela não perderia dinheiro mesmo recebendo uma parcela em ações.

O negócio foi fechado por R$ 824, 5 milhões. Desse total, R$ 373,4 milhões foram pagos à vista. Outros R$ 451,1 milhões seriam pagos numa classe de ação especialmente criada para isso.

Lily converteria em ações líquidas, podendo vender no mercado se quisesse. Os prazos de conversão eram de seis, 12 e 18 meses, a contar de 7 de junho de 2009.

Para convencer Lily a fechar negócio com o Pão de Açúcar - que à frente dos concorrentes colocou sua oferta pelo Ponto Frio e surpreendeu a todos - é que foi criada uma classe específica de ações a serem convertidas em até 18 meses por papéis negociados em bolsa.

Além disso, foi estabelecido uma espécie de seguro. Na hora de converter os papéis e vendê-los em bolsa, ela nunca conseguiria menos do que R$ 40, o que garantiria o preço fechado na venda - ou mais, se a ação subisse.

No aumento de capital do Pão de Açúcar, os R$ 451,1 milhões de crédito que Lily possuía pela venda seriam convertidos nos novos papéis. A proporção do uso desses créditos dependeria da adesão dos minoritários à operação, já que os acionistas de mercado precisavam ter a chance de evitar a diluição de sua participação comprando novas ações também.

Inicialmente, a operação parecia pouco atrativa para o mercado, pois as novas ações foram emitidas a R$ 40 - mais de 10% acima da cotação em bolsa quando foi feito o anúncio da compra.

Contudo, a rede levantou R$ 664,4 milhões no aumento de capital, o que permitiu que os controladores do Ponto Frio só recebessem o equivalente a R$ 142 milhões em ações. O restante foi antecipadamente recebido em dinheiro, como inicialmente preferia Lily.

Mas se tivesse recebido tudo em ações, Lily poderia ter ampliado seu ganho. As ações do Pão de Açúcar passaram por uma escalada na BM&FBovespa após a compra do Ponto Frio e em seguida das Casas Bahia - impulsionadas também pela popularidade do setor de consumo no Brasil junto a investidores nacionais e estrangeiros.

Na data da primeira conversão, as ações compradas a R$ 40 valiam R$ 62,62. Na segunda conversão, R$ 63,05; e na última, R$ 67,21. Se não tivesse vendido, poderia ter mais que dobrado o valor, pois as cotações chegaram a quase R$ 91.



Veículo: Valor Econômico


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