Tam e Pão de Açúcar passam hoje o bastão para seus sócios estrangeiros
Duas empresas que carregaram o slogan “orgulho de ser brasileira (o)” terão seus destinos mudados no dia de hoje. O Grupo Pão de Açúcar, fundado em 1948 pelo empresário Valentim dos Santos Diniz, pai de Abilio Diniz, passa as mãos do francês Jean-Charles Naouri, principal acionista da rede francesa Casino. Na aviação, a Tam Linhas Aéreas, fundada em 1976 pelo comandante Rolim Amaro, consolida sua fusão com a chilena Lan Airlines, que tem 80 anos de operação.
Em ambos os casos, os sócios brasileiros das empresas continuam à frente dos negócios no Brasil. Diniz mantém-se como presidente do conselho de administração do Pão de Açúcar, enquanto Naouri assume a Wilkes, holding que controla a companhia. No caso da Tam, a família Amaro ficará com a presidência do conselho de administração e 13,52% da Latam, empresa que nasce da fusão entre as duas aéreas. A família Cueto, sócia majoritária da Lan, terá 24,07% da nova empresa e a presidência da companhia. Os acionistas não controladores (free float) da Lan terão 46,6% e os da Tam, 15,81%.
A entrada dos investidores estrangeiros, mesmo que em tempos diferentes, foi motivada pelos mesmos fatores. Em 1999, quando Diniz vendeu a primeira fatia da empresa para o Casino, o empresáriobuscava recursos para colocar a supermercadista de volta à rota do crescimento.
Em 2010, a associação da Tamcom a Lan foi a saída da brasileira para ganhar fôlego para competir de igual para igual no mercado externo, uma vez que a empresa não tinha mais para onde crescer no país. “O Brasil precisa de um braço alado forte para competir no mercado internacional”, afirma Enio Dexheimer, professor de indústria aeronáutica da PUC-RS.
No entanto, para ele, a Latam não vai conseguir preencher esta lacuna. “Como o controle está nas mãos dos chilenos, o Brasil pode se tornar apenas uma escala para as rotas internacionais da Latam”, diz. Nem todos são tão pessimistas. Para o presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Estratégicos e de Políticas em Transporte Aéreo (Cepta), Respício do Espírito Santo, a fusão dará mais eficiência “à empresa brasileira. “Isso pode oxigenar o mercado e fazer com que as outras companhias sigam o exemplo de gestão da Latam”, afirma.
No Pão de Açúcar, ao menos numprimeiro momento, não deve haver grande interferência do Casino no modelo de gestão criado por Diniz.OpróprioNaouri esteve várias vezes nopaís para conversarcom os executivos da rede.
E, até então, aprovava todos os escolhidos pelo empresário brasileiro. Naouri sempre considerou o Pão de Açúcarumade suas operações mais bem sucedidas, sobretudoemtempos de crise na Europa. Afinal, ao menos aqui, o lucro ainda é garantido.
Veículo: Brasil Econômico