Manter a rentabilidade do Pão de Açúcar é desafio do Casino

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Entre os questionamentos que pairam sobre a gestão de Jean-Charles Naouri, presidente do Casino, ao assumir hoje o controle da maior rede varejista do Brasil, o Grupo Pão de Açúcar (GPA), um dos maiores é manter a rentabilidade das operações no Brasil. Ao decidir exercer seu direito de se tornar o sócio majoritário do conglomerado supermercadista, composto pelas bandeiras Pão de Açúcar, Extra e Assaí, analistas do setor ouvidos pelo DCI afirmam que o empresário francês terá um grande desafio.

Se Naouri quiser consolidar o modelo de negócio existente em suas lojas no exterior, ele corre o risco de o consumidor brasileiro desaprovar a estratégia e, por consequência, procurar outros lugares para fazer suas compras. Esta é a opinião de Roberto Nascimento Azevedo de Oliveira, professor do Núcleo de estudos do varejo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP).

"Se ele tentar incorporar o modelo francês [igual] de supermercado, pode afetar os consumidores do Brasil, e em 2013 o grupo Pão de Açúcar pode vir a sentir possíveis quedas em suas operações", diz o especialista no setor. Para Nascimento, os empresários que serão os próximos estrategistas do grupo, deverão atentar para detalhes específicos, como a regionalização das operações, principalmente. "Eles devem dar prioridade a regionalização de suas operações. Se eles estão com uma loja na região de Sapopemba (zona leste de São Paulo), terão de atender os anseios desse público, se a loja for na zona sul, eles devem atender à demanda específica desse público", explica ele, e completa: "A marca pode ser global, mas os formatos têm que ser regionais, respeitar o costume local das microrregiões".

Fato que demonstra a preocupação do Casino é a indicação dos nomes de três brasileiros - Eleazar de Carvalho Filho, Luiz Augusto de Castro Neves e Roberto Oliveira de lima - para fazerem parte do Conselho de Administração do Pão de Açúcar, que, no comunicado enviado na época da nomeação, diz que, "a decisão do Casino de nomear brasileiros altamente respeitados e experientes para o conselho de administração do GPA está em linha com sua visão de que os brasileiros devem continuar a exercer um papel-chave da administração e governança do GPA".

Para o especialista da ESPM, não ter Abílio no grupo é arriscado. "O Casino já indicou três nomes, mas uma parceria com a família Diniz seria uma boa estratégia neste momento", enfatiza.

Anteriormente, o DCI informou que algumas características das lojas do Casino já estavam presentes nas operações do Pão de Açúcar: flores à venda na porta das lojas, espaço para tomar café e ler um jornal entre outras pequenas medidas foram implementados na rede, fatos esses explicitados por Olivier Saguez, CEO da consultoria francesa Saguez&Partner.

Na opinião de Denis Santini, sócio-fundador da empresa de marketingMD Comunicação, mudanças pontuais foram sentidas ao longo dos anos em que o grupo francês se incorporou ao setor supermercadista brasileiro. "Ele tem a vantagem de já estar no mercado nacional há alguns anos, tanto que ele tem bons resultados com o conceito de exclusividade empregado na operação", explica. Vale ressaltar que, além da linha de produtos com a marca Casino, em abril deste ano outra bandeira francesa, a L'Occitane, também chegou à rede. Os produtos Le Couvent des Minimes, são vendidos exclusivamente nas lojas do Pão de Açúcar.

Ainda na opinião do especialista em marketing, a confusão em que os nomes estiveram envolvidos desde a frustrada tentativa de Diniz de comprar o concorrente Carrefour sem a aprovação de seu sócio, fez com que os empresários franceses quisessem estudar e compreender o setor no Brasil antes de tomar qualquer medida drástica no formato das lojas e nas operações da rede.

Uma das milhares de possibilidades a que o GPA está sujeito com a saída, hoje, de Abílio Diniz, filho do fundador do Pão de Açúcar, pode ser a ida de produtos brasileiros para as prateleiras do Casino. "A rede tem excelentes produtos de marca própria que poderiam, sim, ser bem-aceitos lá fora", enfatiza Santini. Atualmente a rede tem nas gôndolas da bandeira Pão de Açúcar as marcas Qualitá e a Taeq.

Especulações

Fonte ligada ao Pão de Açúcar afirmou que a expectativa é grande dentro das lojas em operação. Entre os funcionários, há boatos de que o empresário Abílio Diniz poderia sair dessa sociedade como responsável pelas operações da bandeira Extra. Segundo a fonte, isso ocorreria para que o sócio francês não precisasse desembolsar mais dinheiro neste momento de difícil cenário econômico europeu.

Especulações sobre possíveis manobras de última hora por parte do empresário brasileiro foram descartadas pelos analistas entrevistados, mas ter a presença do Diniz na rede é indispensável na opinião de Roberto Nascimento Azevedo de Oliveira, da ESPM. "Acredito que eles chegarão a um acordo", diz.


Veículo: DCI


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