Jean-Charles Naouri, empresário francês à frente do grupo Casino, que desde a última sexta-feira detém o controle acionário do Grupo Pão de Açúcar (GPA), é um investidor que há mais de uma década aposta em países emergentes, assim como fez no Brasil. Com fama de autoritário, perfeccionista e intransigente, coleciona alguns inimigos e preside uma empresa que no último ano alcançou 34 bilhões de euros em vendas líquidas, registrando um crescimento de 18%, enquanto o rival Carrefour teve um incremento de apenas 0,9%. Naouri tornou-se presidente-executivo do Casino em 2005. Durante seu comando, o grupo fechou operações que davam prejuízo e inaugurou unidades em países que apresentaram rápido crescimento, como Brasil, Tailândia, Colômbia e Vietnã. Hoje a rede atua em sete países fora da França.
Na posição atual dentro do GPA, apesar das desavenças com o empresário brasileiro Abílio Diniz, o Casino deve manter os dirigentes da rede nos cargos que ocupavam. O francês está decidido a mexer o mínimo possível na estrutura da companhia que hoje lidera o mercado varejista brasileiro. "O objetivo é reforçar a posição de liderança do GPA e fazer dele uma empresa ainda mais amada e admirada", disse Naouri, em nota à imprensa.
O francês também está certo de que sua empresa foi fundamental para o crescimento da rede brasileira nos últimos anos. "Com a contribuição ativa do Casino desde o seu primeiro investimento na companhia há 13 anos, o GPA tornou-se líder incontestável em distribuição no Brasil e o maior empregador privado do País", ressaltou.
A conturbada relação entre Casino e Pão de Açúcar teve início em 1999, quando a rede brasileira passava por um momento delicado e associou-se ao grupo francês. Tempos depois, Naouri chegou a declarar que a rede de Abílio Diniz passava por um período de "quase falência" quando ele resolveu investir na empresa, uma aposta de alto risco, mas que trouxe excelentes resultados.
Na ocasião, Naouri adquiriu 22% de participação no GPA por cerca de R$ 1,5 bilhão. Seis anos depois, com um investimento superior a R$ 2 bilhões, o Casino ampliou sua participação na companhia brasileira e com isso adquiriu, por contrato, o direito de controlar a rede, desde o dia 22 de junho deste ano.
Em 1999 o faturamento do Pão de Açúcar estava na marca de R$ 6,9 bilhões. Treze anos depois, o ganho está mais de sete vezes maior, já que em 2011 o faturamento foi de R$ 52,6 bilhões.
Ao passar o controle do grupo para as mãos de Naouri, Abílio Diniz, treze anos mais velho do que o francês, afirmou ter passado por momentos de mágoas, tristezas e decepções. "Injustiças e distorções da verdade me atingem mais do que agressões claras e diretas. Negar meu sofrimento seria falso e muito pouco convincente", disse ele, em seu discurso.
A relação entre Diniz e Naouri teria ficado insustentável quando o francês soube que o brasileiro estava em negociação com o Carrefour, um dos maiores concorrentes do Casino na França. Não houve nenhum tipo de acordo, mas Naouri se disse decepcionado e traído.
Em meio a tantos conflitos, o francês, agora com o controle acionário do GPA, acredita que desavenças pessoais não prejudicaram e nem irão prejudicar as operações do grupo no Brasil, que são prioridades no momento. "Estou orgulhoso do papel que o Casino terá no Pão de Açúcar", disse, por meio de nota.
Origens
Aos 63 anos, Naouri nasceu na zona rural da Argélia, filho de um médico e de uma professora de Inglês. Naturalizou-se francês e adquiriu graduação na École Normale Supérieure, em Paris, e na École Normale d'Administration (ENA), em Estrasburgo. Chegou ainda a passar um período nos Estados Unidos, onde graduou-se em Administração pela Universidade de Harvard.
Antes de entrar para o segmento do varejo, esteve inserido no governo francês e chegou a ser chefe-de-gabinete do ministro de Economia e Finanças Pierre Beregovoy, socialista que mais tarde ocupou o cargo de primeiro-ministro da França.
Em 1987 partiu para o setor privado e começou a prestar serviços para o Banque Rothschild, consultoria financeira de prestígio na Europa. No mesmo ano, abriu seu próprio fundo de investimento, batizado de Euris. Com o fundo comprou, em 1991, a Rallye, grupo de investimentos que atualmente controla 49,9% do capital da rede Casino.
Naouri costuma andar sério e é discreto em sua vida pessoal. Ele tem três filhos, e o mais velho, Gabriel Naouri, comanda as unidades do Casino na região de Paris.
Outro desafeto seu é Philippe Houzé, CEO das Galeries Lafayette, com quem se desentendeu por causa da compra da rede de supermercados Monoprix, controlada pelas duas empresas. O desfecho foi a saída de Houzé do conselho do Casino.
Veículo: DCI