Não vou rasgar contrato, vou cumprir o que foi combinado’, afirma Abilio

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Um dia antes de o grupo francês Casino assumir o controle do Pão de Açúcar, Abilio Diniz diz esperar apenas ‘que as coisas acabem logo’


"Vou cumprir o contrato. Vou mostrar a todas as pessoas que duvidaram de mim - e não foi só o Casino, não, tem gente que me conhece e achou que eu ia rasgar contrato, que eu ia para o Judiciário, estavam apavorados. Vou mostrar a todos quem sou, cumprindo com elegância o que foi combinado."

Com esse desabafo feito ontem, véspera da transferência do controle do Pão de Açúcar para a rede francesa Casino, Abilio Diniz procurou afastar os rumores de que nesta sexta-feira poderia tirar alguma carta escondida na manga para não cumprir o acordo assinado em 2005 com o grupo francês.

Para o empresário, o momento é difícil. A partir de hoje, o Casino assume o comando no Pão de Açúcar e ele passa a ser acionista minoritário do grupo fundado por seu pai mais de 60 anos atrás. "Mas o que vai acontecer amanhã (nesta sexta-feira) não combina com colocar mágoas para fora, nem lamentar nada. Aprendi isso com meu pai: combinou, cumpre", disse Abilio.

Mas e depois de amanhã ou na semana que vem, pode haver alguma surpresa? "Não vou fazer uma coisa no dia 22 e outra no dia 25. Foi um ano duro, muito pesado. Espero que essas coisas acabem logo."

As dúvidas são resultado do clima de ressentimento e desconfiança que marcou a relação entre Abilio e Jean-Charles Naouri, presidente do Casino, desde que o brasileiro negociou a fusão do Pão de Açúcar com a operação brasileira do também francês Carrefour, sem consultar Naouri, no ano passado.

Naouri encarou a tentativa como uma traição, Abilio respondeu que havia má vontade do sócio francês, e desde então os dois passaram a trocar acusações em público, por meio de assessores e aliados.

O empresário sabe que a tentativa de fusão com o Carrefour foi vista por muita gente como uma manobra para refazer o acordo feito lá atrás com o Casino. Aborrecido com essa interpretação, nos últimos tempos ele procurou amigos para dizer que queria apenas fazer um bom negócio, mas não foi entendido pelo sócio francês.

Abilio não confirma, mas o Estado apurou que ele foi contar sua história, entre outros, a membros da família Ermírio de Moraes e com os empresários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira maiores acionistas da cervejaria AB Inbev e da rede Burger King.

Abilio diz que hoje estará presente a todas as assembleias e encontros marcados no ritual de transferência de controle do Pão de Açúcar. A grande dúvida passa a ser, então, o destino de Abilio depois que o Casino assumir o controle da rede.

Disso ele não quer falar neste momento. Pessoas próximas ao empresário dizem que, na verdade, ele ainda não decidiu o que fará. O empresário continua como presidente do conselho do Grupo Pão de Açúcar, embora com menos poder do que antes, e pessoas ligadas a ele dizem que vai exercer o papel de "acionista minoritário exigente, que acompanha tudo no detalhe".

Ao lado disso, negociadores das duas partes discutem eventuais portas de saída do Pão de Açúcar, caso Abilio queira deixar o negócio. Até agora nada de acordo, só mais ressentimento.


Ritual de passagem de controle ao Casino pode levar até 60 dias


Abilio Diniz tem até 21 de agosto para exercer a opção de vender lote de ações da holding que controla o Pão de Açúcar

O ritual de passagem do controle do Grupo Pão de Açúcar (GPA) começa hoje às 9h, na sede da empresa, em São Paulo, e pode se estender até o dia 22 de agosto. O desfecho vai depender de uma decisão de Abilio Diniz de vender aos franceses um porcentual de suas ações na holding que controla o grupo. Se não o fizer nos próximos 60 dias, ele será obrigado a vender uma única ação ao sócio Casino - o que já lhe tira o controle da empresa.

O que acontece hoje no prédio da Avenida Brigadeiro Luiz Antônio são mudanças na governança corporativa do GPA, que servem de gatilho para a transferência de controle e, como são irreversíveis, já estão sendo encaradas como a transferência de fato.

O dia será marcado por uma sequência de reuniões. A primeira delas, do conselho de administração da Wilkes, holding que controla o GPA, vai oficializar a substituição de Abilio Diniz pelo francês Jean-Charles Naouri na presidência do conselho. Em seguida, às 11h, os conselheiros, já sob o comando do presidente do Casino, vão definir seus votos para a reunião do conselho de administração do Grupo Pão de Açúcar, que começa às 14h e tem Abilio como presidente.

A reunião vai definir os conselheiros do GPA. A nova composição contará com 15 nomes - em vez dos 14 atuais. Os franceses terão direito a oito cadeiras no conselho - três a mais do que já tinham e para as quais indicaram o economista Eleazar de Carvalho Filho, o diplomata Luiz Augusto de Castro Neves e o executivo Roberto Oliveira de Lima. A família Diniz perde dois nomes e passa a contar com três conselheiros. Segundo o Estado apurou, ficam Abilio, sua mulher Geyze Marchesi Diniz e seu filho Pedro Paulo Diniz. E saem dois de seus filhos: João Paulo e Ana Maria. No início do mês passado, Abilio deixou de ser membro do conselho de administração do Casino.

Processo. O dia de hoje marca o início de um processo para a transferência das ações. Casino e Abilio são sócios controladores da Wilkes - cada um com 50% das ações com direito a voto da holding. Abilio tem até as 18h do dia 21 de agosto para exercer a opção de vender para o Casino pelo menos 2,4% das ações ordinárias da Wilkes, que representam 0,4% das ações ordinárias do GPA.

Caso isso não ocorra, os franceses exercerão o direito de comprar, no dia 22, uma ação ordinária da holding pelo valor simbólico de R$ 1, ficando majoritários na Wilkes.

No contrato firmado em 2005, o lote de papéis a ser vendido por Abilio já tem o preço definido: US$ 10,5 milhões. Segundo cálculo de analistas, considerando o valor de mercado atual, essa mesma participação valeria hoje US$ 40 milhões. "Optar pela venda seria um mau negócio para Abilio. A expectativa é de que ele continue como um acionista relevante do grupo", afirma o analista. Se optar por se desfazer dos 2,4% até agosto, Abilio poderá vender o restante das ações para o Casino entre 2014 e 2022. Um banco será contratado para estabelecer o preço dessas ações segundo uma fórmula que já foi definida previamente em contrato.

Abilio tem o direito de permanecer como presidente do conselho de administração do Grupo Pão de Açúcar e de indicar o presidente executivo da companhia, escolhendo o nome a partir de uma lista tríplice definida pelo Casino. Ele tem o direito também de vetar reestruturações societárias do GPA ou da holding.

Fontes próximas a Abilio afirmam que, se ele continuar como acionista relevante do grupo fundado por seu pai nos anos 40, deve incomodar o majoritário Casino, adotando a postura de um minoritário atuante, que fará questão de acompanhar todos os passos dos franceses.


Veículo: O Estado de S.Paulo


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