Como um intelectual francês virou dono da maior varejista do Brasil

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Jean-Charles Naouri investiu no Pão de Açúcar pela primeira vez em 1999, sem nunca ter interferido no modelo de gestão

Um intelectual francês que chegou ao ramo do varejo relativamente tarde em sua trajetória profissional vai se tornar o novo chefão do segmento no Brasil, um dos maiores e de mais rápido crescimento mercados do mundo.

Hoje, Jean-Charles Naouri, o presidente do grupo francês Casino, vai assumir o controle da maior rede de varejo do Brasil, o grupo Pão de Açúcar, no auge de uma estratégia para criar uma gigante do setor em mercados emergentes.

Para o executivo de 63 anos, a chegada ao comando do Pão de Açúcar virá com um gosto de revanche sobre o parceiro Abilio Diniz, atual presidente do conselho do grupo brasileiro que, no ano passado, tentou romper sua aliança com o Casino ao propor uma fusão da brasileira com o arquirrival do grupo francês, o Carrefour.

Império de € 34 bilhões

A vitória de Naouri na ferrenha disputa que se seguiu é emblemática sobre a forma como ele construiu um império de varejo que fatura € 34 bilhões por ano e que se espalha por 10 países. O executivo assumiu participações minoritárias em companhias com problemas ao redor do mundo e então passou a aumentar a influência do Casino nessas redes quando a recuperação estava garantida.

“Ele não inicia disputas. Elas surgem porque os empresários não aceitam vender suas companhias quando chega a hora de se desfazer do negócio”, disse o estrategista de negócios Alain Minc, que assessora Naouri.

Naouri, nascido na Argélia, se torna hoje presidente do conselho da holding controladora do grupo Pão de Açúcar, a Wilkes, conforme descrito em um acordo acertado em 2005 com Abílio Diniz. Apesar do empresário brasileiro reter o título de presidente do conselho da controlada Pão de Açúcar, seu peso na tomada de decisões será bastante reduzido.

O Casino investiu pela primeira vez no Pão de Açúcarem 1999, quando resgatou o grupo de profundas dificuldades financeiras. Seis anos depois, o Casino tornouse acionista da rede brasileira. Atualmente o Brasil é o segundo maior mercado para o Casino no mundo depois da França e é um pilar importante na expansão do grupo francês em mercados emergentes em um momento de crise econômica na Europa.

Depois que o Casino assumir o controle, o Brasil vai representar 44% das vendas estimadas do grupo, de quase € 54 bilhões, e 53% do lucro operacional estimado em €2,6 bilhões para 2013, segundo analistas da Oddo Securities.

Histórico escolar

Filho de um médico e de uma professora de inglês, Naouri se graduou na École Normale Superieure e na École Normale d’Administration (ENA), berços das elites política e de negócios da França.

Ele iniciou sua carreira emministérios do governo francês, incluindo o de Finanças, onde ele foi chefe de equipe do ministro socialista Pierre Beregovoy, na década de 1980, antes de ir para o setor privado e ingressar no Banque Rothschild em 1987. No mesmo ano, a empresa fundou seu próprio fundo, o Euris.

Ele migrou para o varejo por meio do Rallye,um grupo de investimento que hoje controla 49,9% do capital do Casino.

Em poucos anos, Naouri enfrentou sua primeira batalha, ajudando o Casino a se defender em 1997 de uma oferta do grupo francês Promodes, que mais tarde foi adquirido pelo Carrefour.

Desde que se tornou presidente- executivo do Casino em 2005, Naouri é considerado como responsável pela recuperação do grupo, eliminando operações deficitárias e abrindo unidades em mercados de rápido crescimento como Brasil, Vietnã, Colômbia e Tailândia.

O executivo é pai de três filhos. O mais velho, Gabriel, 30 anos, dirige os hipermercados do grupo na região de Paris.

Relações azedadas

Com as relações azedadas entre Naouri e Diniz, os grupos têm discutido alternativas ao acordo de acionistas que possam permitir que sigam caminhos diferentes. Mas um acordo tem sido difícil.

No mês passado, Naouri acertou os ponteiros com os que ele julga o terem traído. Ele afastou tanto Abílio Diniz quanto Philippe Houze, presidente da varejista Galeries Lafayette, com sede em Paris, do conselho de administração do Casino.

Sócios são tão gênios quanto vaidosos

Brasileiro cultiva imagem de guru da realização profissional;
Naouri é conhecido pela sisudez


Abilio Diniz não é muito diferente de seu sócio, Jean-Charles Naouri, presidente do Grupo Casino.

Ambos têm características “high profile”, gostam da exposição pública e usam a fama para aprimorar seus negócios e projetos pessoais. No caso de Diniz, nos últimos anos, a exposição foi usada paramudar a imagem de sisudo nos negócios, transformando-o em uma espécie de guru-blogueiro da realização profissional.

Naouri ainda é reconhecido por ser implacável e autoritário, que coloca extrema pressão sob seus comandados. Ele é descrito comoumchefe exigente que pode ser duro com a equipe. No meio empresarial, ambos são considerados gênios e vaidosos. Hoje, a expectativa é que eles se encontrem na assembleia de troca de presidente daWilkes. Isso, se Naouri conseguir agenda para vir assumir seu posto.


Veículo: Brasil Econômico








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