Casino assume Pão de Açúcar em clima de desconfiança

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O Pão de Açúcar, maior varejista do mercado brasileiro, terá hoje, a partir das 14 horas, um novo controlador. O grupo francês Casino assume isoladamente o comando societário da rede varejista, avaliada em R$ 19,2 bilhões.

Abilio Diniz, que desde 2005 dividia o controle com a empresa francesa, se tornará apenas um acionista relevante no negócio, com direito a presidência do conselho de administração.

"Estou surpreendentemente ótimo", declarou Abilio ao Valor, no fim da tarde de ontem. "Vou dar uma resposta silenciosa para aqueles que disseram que eu não cumpro contratos e vou passar o controle."

O ânimo entre os sócios não vai bem desde meados do ano passado, quando Abilio desenhou um projeto de aquisição da rede concorrente Carrefour, com recursos do BNDES e do BTG. A empreitada exigiria uma nova estrutura societária do grupo Pão de Açúcar que colocaria o empresário brasileiro novamente em pé de igualdade de poderes com o Casino.

O sócio francês não só vetou o negócio como abriu uma arbitragem alegando descumprimento de contrato.

O controle do Pão de Açúcar é exercido por meio de Wilkes, empresa que reúne os sócios. No acordo de acionistas, está previsto que nenhum dos sócios pode fazer nada contra o direito do controle de Wilkes. O Casino alega que Abilio teria descumprido essa cláusula.

Desde então, a convivência está estremecida e num ambiente de desconfiança.

"Vou fazer como meu pai me ensinou: o combinado, mesmo que seja de boca, a gente cumpre", afirmou Abilio ontem.

O Casino já é o maior acionista do Pão de Açúcar, tanto em ações ordinárias como em preferenciais. Como o controle de Wilkes era compartilhado, era aí que se dava a divisão igualitária de poderes.

Wilkes possui 65,6% das ações ordinárias e 1% das preferenciais do Pão de Açúcar. O grupo francês detém 73% desse veículo: metade das ações ordinárias e a totalidade das preferenciais. A partir de hoje, terá direito a 52,4% das ordinárias de Wilkes, pagando por isso US$ 10,5 milhões.

O Casino detém, fora de Wilkes, 34% do capital votante do Pão de Açúcar e 18% do preferencial.

Já Abilio e seus filhos possuem, além dos 27% de Wilkes, 21,7% das ações preferenciais da rede varejista que ajudou a fundar ao lado do pai.

Considerando o capital total, Casino possui 43% do Pão de Açúcar e Abilio, 20,5%.

Daqui para frente, a convivência entre os sócios passaria a representar as proporções econômicas detidas. O grupo francês com a maioria do conselho, indicando oito membros, Abilio com três vagas, incluindo a presidência, e mais quatro membros independentes, num total de 15.

Além dos membros que já indica, o Casino elege hoje Eleazar de Carvalho Filho (ex-presidente do BNDES), Luiz Augusto de Castro Neves (ex-embaixador do país na China e no Japão) e Roberto de Lima (ex-presidente da Vivo).

Apesar da tranquilidade que Abilio tem procurado passar, os investidores, que passaram boa parte do tempo isolados das discussões entre os sócios, já não se mostram mais tão serenos. Ontem, as ações Pão de Açúcar caíram 3,8%.

O temor dos investidores vem da descrença numa convivência harmoniosa entre Casino e Abilio, daqui para frente. Há uma grande aposta de que eles separarão suas participações dividindo os negócios. Os franceses ficariam com o Pão de Açúcar original e Abilio com a Viavarejo, empresa que reúne o segmento de eletroeletrônicos, com Ponto Frio e Casas Bahia.

O grupo saltou de uma receita líquida anual de R$ 18 bilhões, em 2008, para R$ 46,6 bilhões, no ano passado.

A desconfiança dos investidores têm motivo. Ambos os sócios estão prontos para uma guerra, conforme o comportamento do outro.

"Não vou mudar minha conduta na segunda-feira. Mas também não estou dizendo que não vou fazer nada. Tudo vai depender de como o Casino vai se comportar", disse Abilio, ontem, sem querer fazer previsões.

Essa foi a mensagem que o empresário quis passar. Ele preferiu não comentar nada além disso. "Esse ano foi muito duro para mim. Fui acusado de muitas coisas. Mas não é a hora ainda de eu responder nada disso."

Um interlocutor do grupo francês afirmou que não há surpresas para amanhã. A calmaria, porém, também está condicionada ao comportamento de Abilio.

A troca de bastão se dá ali ao lado de onde tudo começou. A sede social da empresa, na cidade de São Paulo, é vizinha da loja número 1, onde era a doceria criada por Valentim dos Santos Diniz, pai de Abilio, em 1948.



Veículo: Valor Econômico


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