Comando do Grupo Pão de Açúcar passa, enfim, para o Casino

Leia em 3min 20s

Depois de disputa acirrada com franceses, Abilio Diniz se torna acionista minoritário da empresa fundada pelo pai - Nada muda na empresa agora; Abilio prossegue na presidência do conselho e aponta nome do principal gestor


O Pão de Açúcar, maior rede varejista brasileira, passou ontem para as mãos do francês Casino, depois da assembleia que referendou o novo conselho da empresa.

A mudança cumpre o acordo de 2005, quando o empresário Abilio Diniz vendeu o controle por US$ 881 milhões.

Sob novo comando, o conselho agora tem 15 integrantes: 8 do Casino, 3 indicados por Abilio e 4 independentes. Antes, eram 5 de cada lado e os 4 independentes.

Por enquanto, nada muda na companhia, mas o Casino deve fazer mudanças no time.

Abilio segue como o presidente do conselho e indica o presidente-executivo da empresa -que é o responsável pelo dia a dia- a partir de lista tríplice feita pelo Casino.

A diferença é que agora Abilio pode ser voto vencido no conselho, que define os rumos da empresa.O presidente do Casino, Jean-Charles Naouri, não foi à assembleia de acionistas, que foi marcada por discurso emocionado de Abilio.

O clima era tenso no local e até uma UTI móvel foi chamada para eventualidades.

Naouri preferiu enviar uma carta a Eneas Pestana, presidente da empresa, dizendo que "estava do seu lado"."Tenho convicção de que, sob sua liderança, o Pão de Açúcar será ainda mais forte."

Sem clima entre os sócios, ambos os lados negociam a saída de Abilio, que tem 21,3% da empresa e fica "amarrado" por contrato até 2014, quando pode vender o restante.
"Estou pronto para seguir em frente, não sei bem como", disse, na assembleia.



Empresário de sucesso viveu disputas na família e fora dela

       
O empresário Abilio Diniz, que transformou doçaria na maior rede de varejo da América Latina O empresário Abilio Diniz, que transformou doçaria na maior rede de varejo da América Latina


A saída do comando da Wilkes marca a cena mais recente da trajetória do empresário paulista Abilio Diniz, temperada por disputas societárias, brigas familiares e viradas nos negócios.

Primogênito dos seis filhos do imigrante português Valentim Diniz, Abilio, 75, foi responsável por fazer da doçaria da família a maior rede de varejo da América Latina, avaliada em R$ 17,4 bilhões.

O primeiro passo nessa direção foi dado em 1959, quando a família investiu no primeiro supermercado da rede.

Na década seguinte, o grupo teve rápida expansão.A rede Sirva-se, em 1965, foi o início da série de aquisições que marcaria a trajetória do Pão do Açúcar.

Foi também na década de 1960 que, após uma temporada no exterior, Abilio trouxe ao Brasil novos modelos de varejo, como os hipermercados -uma das principais inspirações na época foi o Carrefour, alvo da frustrada tentativa de fusão, em 2011.

A primeira grande turbulência ocorreu no fim dos anos 1980. A expansão desenfreada, crises econômicas e uma dramática disputa com os irmãos pela sucessão -na qual Abilio saiu vencedor- quase quebraram a empresa.

O sequestro do empresário, em 1989, foi outro marco dos anos sombrios do grupo.
Com cortes e demissões, a companhia conseguiu se reerguer. Em 1999, vendeu uma parte do grupo para o Casino, e uma segunda fatia em 2005.

Abilio voltou às compras nos anos seguintes, mas não sem desentendimento com os novos sócios. Problemas com a família Sendas, de quem comprou supermercados em 2004, com os Klein, donos das Casas Bahia, adquiridas em 2009, e com o Casino, nos últimos anos, são exemplos.

Boa parte das disputas se explica pelo perfil competitivo de Abilio, que já admitiu ter temperamento explosivo.No Twitter, antes da assembleia de ontem, procurou mostrar calma. "Estou bem, sereno e tranquilo."

Pai de seis filhos, dois com menos de dez anos, Abilio já disse que envelhecer com saúde é uma das suas preocupações -e um dos motivos de sua obsessão com esportes.

O empresário, que já foi campeão de automobilismo na década de 1970, dedica até três horas por dia a musculação e treinos.


Veículo: Folha de S.Paulo


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