O encontro realizado ontem, em Paris, entre Abilio Diniz e Jean-Charles Naouri, sócios do Grupo Pão de Açúcar (GPA) - ambos em seus novos papéis na empresa - serviu para detectar se há disposição para um acordo que permita a saída de Abilio do GPA.
Um acordo envolvendo a Via Varejo, que reúne as varejistas de eletroeletrônicos e móveis Casas Bahia e Ponto Frio, continua na mesa por parte de Abilio Diniz, afirmam fontes próximas. Do lado do Casino, que desde sexta-feira é o novo controlador do GPA, há espaço para avaliar uma proposta se esta respeitar três pontos: todas as pendências com a família Klein (fundadora da Casas Bahia e sócia na Via Varejo) devem ser solucionadas; o acordo deve ser submetido aos minoritários do Pão de Açúcar; e o preço deve ser "bom".
Para se buscar um mínimo de equilíbrio, Abilio Diniz, ex-controlador e presidente do conselho do GPA, avalia que Via Varejo tem que ser moeda de troca para a sua saída. Naouri, por sua vez, deixou claro, em entrevista ao Valor publicada ontem, que uma divisão de GPA em dois negócios poderia reduzir o tamanho da empresa, algo que ele vê como um retrocesso. Não está totalmente claro, porém, se essa resistência será mantida durante as negociações daqui para frente.
Abilio gostaria de alcançar um acordo em 45 dias. Contudo, ainda há um abismo nos interesses, o que torna o prazo exíguo.
O último contato entre Naouri e Abilio, agora no papel de minoritário, aconteceu há mais de quatro meses, também em Paris. Pelo menos inicialmente, os dois concordam que o desenho de um novo contrato, interessante a ambos, deve acontecer com menos ruídos e menor exposição pública.
A reunião de ontem foi pedida pelo empresário brasileiro para que acontecesse em São Paulo, na sexta-feira. Naouri concordou com o encontro, desde que fosse ontem, em seu escritório, em Paris.
Está acertado que Abilio e Naouri tratarão do assunto diretamente, cara a cara, a partir de agora, sempre que se achar necessário. Assessores financeiros voltam a ser reunir com regularidade. Há semanas, as conversas haviam esfriado por conta do difícil cenário anterior à consolidação do controle por parte do Casino - a tentativa de Abilio de costurar uma operação com o Carrefour foi rechaçada por Naouri.
Desde sexta-feira, quando Casino tornou-se oficialmente controlador da Wilkes (dona de 65,6% do Pão de Açúcar), fontes ligadas a Abilio acreditam que abre-se espaço para algum diálogo. Não está certo ainda, se isso será possível.
O empresário tem até 21 de agosto para exercer o direito de vender 2,4% de Wilkes por US$ 10,5 milhões. Mas precisa comunicar formalmente com 15 dias de antecedência. Caso não o faça, o grupo francês fica apenas com uma ação a mais, pagando R$ 1.
O exercício desse direito é importante para garantir o segundo direito de saída de Abilio de Wilkes, que pode ocorrer entre 2014 e 2022, com valor estabelecido por uma fórmula matemática ou 91,5% do valor de mercado dos papéis do Pão de Açúcar - o que for maior. Mas só faz sentido o empresário se preocupar com esse direito tão a longo prazo se não houver nada de concreto na mesa.
Veículo: Valor Econômico