O fornecimento será retomado amanhã; associação vai recorrer da decisão judicial
A partir de amanhã à tarde, o Grupo Pão de Açúcar e a rede Carrefour voltam a distribuir gratuitamente sacolas plásticas no Estado de São Paulo, mas vão racionalizar o uso das embalagens.
O Walmart colocará sacolinhas à disposição dos clientes assim que for notificado pela Justiça, o que não havia ocorrido até o encerramento desta edição. O Sonda já entrega desde sábado embalagens biodegradáveis em duas de suas 24 lojas paulistas.
As redes cumprem decisão da juíza Cynthia Torres Cristófaro, da 1ª Vara Central da capital paulista, que anteontem deu prazo de 48 horas para que os supermercados retomem o fornecimento das embalagens. O prazo conta a partir do momento em que forem notificados pela Justiça.
Para a juíza, a interrupção da distribuição "nitidamente onera desproporcionalmente o consumidor".
Ela concedeu liminar em ação civil pública proposta pela Associação Civil SOS Consumidor contra a Apas (Associação Paulista de Supermercados) e quatro grupos -Pão de Açúcar, Carrefour, Walmart e Sonda.
A Apas vai recorrer da decisão e orientou os 1.200 supermercados associados a cumprir a decisão da Justiça. As redes citadas na ação analisam se também entrarão com recursos individuais.
O Procon-SP informou em nota ontem que a decisão judicial deve ser cumprida e que os consumidores que se sentirem lesados podem recorrer ao órgão.
USO RACIONAL
Para evitar o desperdício, empacotadores do Pão de Açúcar e caixas do Extra vão avaliar quantas sacolas são necessárias por compra e farão a distribuição de forma racional. Elas não ficarão expostas à disposição dos clientes como ocorria.
Também vão instruir os clientes a descartar em pontos de coleta das lojas as sacolinhas plásticas que não forem reaproveitadas.
Em nota, o Carrefour afirma que "ressalta seu compromisso de sempre oferecer atendimento de qualidade, além de promover o consumo consciente e o desenvolvimento sustentável no país".
A Plastivida, entidade ligada à indústria do plástico, apoia a decisão da Justiça.
Em audiência pública ontem na Assembleia Legislativa, o deputado Olímpio Gomes (PDT-SP) disse que pretende mobilizar os colegas para votar ainda neste mês projeto de lei que prevê a obrigatoriedade da distribuição.
Nada é de graça; a questão é quais consumidores vão pagar a conta
Não existe sacola gratuita.
A questão é quais consumidores vão pagar a conta.
Os supermercados, sabe-se, são empresas como as outras: vivem de lucros e não têm por que aumentar custos.
Sacolinhas serão tão gratuitas quanto iluminação, estacionamento ou empacotadores: está tudo incluído no preço dos produtos.
Falta decidir se cada cliente arca apenas com o que usar ou se todos bancam igualmente a comodidade desigualmente usufruída.
Em algumas lojas, os sem-carro pagam para os motorizados estacionarem. Quem leva sua sacola deve patrocinar o conforto de quem não leva? É uma decisão sobre partilha do custo, travestida de defesa do consumidor ou do ambiente.
Mesmo que sejam ecológicas as embalagens ditas gratuitas, quem escolhe qual modelo usar e quanto pagar? Cada um decide por si? Justiça e lojas decidem por todos?
A sociedade pode preferir uma ou outra opção. Mas seria saudável para o debate fugir do discurso populista e dar o nome certo aos bois.
Veículo: Folha de S.Paulo