O comando do Grupo Pão de Açúcar foi questionado ontem a respeito da capacidade de a companhia reagir a uma eventual piora do ambiente de competição do varejo no segundo semestre de 2012. A questão esteve no centro das discussões na teleconferência com analistas sobre os resultados do grupo no período de abril a junho - números considerados satisfatórios pelos especialistas. Foi dado um recado ao mercado, pelo presidente do grupo, Enéas Pestana: "Vamos fazer o que for necessário para crescer com rentabilidade. Não vamos abrir mão de margem", disse aos analistas.
A principal questão abordada foi como a empresa vai se posicionar no curto prazo, num momento em que ainda há indefinições sobre o comportamento da demanda doméstica no país - e num período em que os maiores concorrentes do grupo estão mais agressivos do que no ano passado. O exemplo citado foi a operação on-line do grupo, a Nova Pontocom, e o caso foi amplamente debatido. "Dá para crescer e melhorar rentabilidade?", questionou Tobias Stingelin, analista do Santander, sobre a pressão maior da concorrência no comércio eletrônico.
O tópico também foi levado à Via Varejo, formada por Casas Bahia e Ponto Frio. "Esse nível de competição mais acirrada é percebida também na Via Varejo?", perguntou Ricardo Boiati, do Bradesco. "Há concorrência maior, mas estamos trabalhando para não sentirmos impacto na margem", respondeu Raphael Klein, presidente da Via Varejo. Relatório de resultados publicado pelo GPA mostra que houve perda de 0,7 ponto percentual (27,4% de abril a junho e 28,1% no mesmo período de 2011) na margem bruta da Via Varejo "em decorrência do acirramento da competição no setor e aumento do custo logístico".
No caso da Nova Pontocom, o debate da rentabilidade resultou numa medida tomada pela empresa, comentada ontem pela primeira vez. "Estamos fazendo escolhas, de gerar caixa e ter lucro. Então vamos abrir mão um pouquinho do crescimento de vendas temporariamente", disse Gérman Quiroga, presidente executivo da Nova Pontocom.
Números apresentados ontem, relacionados aos resultados do grupo na área alimentar, foram avaliados pelo mercado como positivos. A receita líquida de vendas cresceu 6,3% de abril a junho, ao atingir R$ 6,6 bilhões no período. O lucro líquido cresceu 68,6%, atingindo R$ 157 milhões. Os dados excluem o desempenho da área imobiliária da holding. A margem líquida chegou a 2,4%, uma alta de 0,9 ponto percentual. "Eletrônicos registram pressão na rentabilidade enquanto alimentos se mantêm firmes", resume material de análise do Deutsche Bank.
Na Via Varejo, a receita líquida subiu 5,5%, para R$ 5,3 bilhões. O lucro líquido foi de R$ 5,4 milhões em comparação a um prejuízo de R$ 5,5 milhões no segundo trimestre de 2011. "Melhoramos um pouco, mas sabemos que estamos aquém do que podemos entregar", disse Klein ao Valor. "As vendas nominais de Via Varejo sofreram com a menor demanda, a deflação de produtos e vendas mais fracas dos sites", observou o Deutsche Bank.
Klein comentou que a companhia tem trabalhado para continuar a reduzir despesas operacionais, e dessa forma melhorar indicadores do negócio. Por isso criou um comitê de caixa, ou comitê de despesas, formado por executivos de diversas áreas, para fazer uma análise mais minuciosa dos gastos da empresa. Esse comitê deve atuar por cerca de seis meses.
De maneira geral, o comando do grupo acredita que será possível proteger rentabilidade e manter crescimento de vendas pelas características da operação. "Estamos otimistas porque nosso indicadores mostram que crescemos porque somos competitivos, porque temos um negócio com diferentes bandeiras que atendem diversos públicos. No segundo trimestre, não sentimos desaceleração", disse Vitor Fagá, diretor de relações com investidores.
Veículo: Valor Econômico