Empresário consegue barganhar mudanças do estatuto social do Pão de Açúcar propostas por grupo francês
O Grupo Pão de Açúcar viveu ontem mais um capítulo do cabo de guerra entre o maior acionista individual, Abílio Diniz,— com participação de 21,3% — e Jean-Charles Nouri, presidente do Casino, que controla a rede varejista com fatia de 41,8%. Em reunião do conselho de administração para mudanças no estatuto social, o empresário brasileiro conseguiu realizar leves alterações nas propostas do sócio majoritário que visavam a inclusão da empresa no Novo Mercado da BM&FBovespa, nível mais alto de governança corporativa, mas que acabariam por deixá-lo de escanteio.
No começo de setembro, o Casino enviou carta à Abílio sugerindo criação do cargo de vicepresidente do Conselho, presidido pelo executivo brasileiro, além de indicar um comitê de governança e outro de auditoria e a redução do quórum mínimo de dez para oito conselheiros para realização de assembleias.
Na ocasião, Abílio respondeu ao Casino se opondo à presença de um vice-presidente, uma vez que, em sua ausência, já conta com um suplente. A figura do vice-presidente foi aprovada ontem, mas ele só exerce sua função na ausência do substituto de Abílio. O empresário brasileiro ainda foi a favor do comitê de governança, mas contra o de auditoria, pois a empresa já tem um conselho fiscal com as mesmas funções. Os dois órgãos foram criados ontem, mas suas funções ainda serão discutidas no futuro.
Sobre a redução do quórum para assembleias, Abílio acreditava que isso tiraria a representatividade da família Diniz das decisões.Oque foi aprovado ontem é que, em uma primeira chamada para a reunião, será exigida a presença de dez conselheiros e, na segunda chamada, a de oito conselheiros.
Antes da reunião de ontem, o Casino havia levado as propostas ao conselho da Wilkes, holding que controla o Pão de Açúcar, no dia 19 de setembro, e teve um parecer positivo. Abílio, então, sugeriu uma reunião com o controlador para discutir as mudanças antes da reunião de ontem. Chegou, até mesmo, a se reunir com outros acionistas individuais, Pedro Henrique Chermont, Cândido Bracher, Guilherme Affonso Ferreira e Fabio Schartzman, uma hora antes da reunião do conselho.
Segundo fontes próximas ao empresário, o entendimento de Abílio é de que é importante levar a companhia ao Novo Mercado, uma vez que todos ganham com as melhores práticas de governança. O problema era a forma como estava sendo feito, em que ele perderia poder sobre as decisões na empresa. “Independentemente de o Abílio pressionar, o Casino tem maioria no conselho e vai aprovar o que quiser. A empresa está na mão do grupo francês. É claro que Abílio tem um papel importante, mas não é mais decisório, por isso está de mãos atadas. Não é ele que tem a palavra final”, diz Cauê Pinheiro, analista da SLW.
Gabriel Ribeiro, executivo da equipe de análise daUmInvestimentos, diz que o Pão de Açúcar ainda possui o perfil de Abílio, o que tem levado os franceses a implantarem mudanças estatutárias. “Abílio ainda tem poder de barganha até porque os empreendimentos imobiliários (lojas) são da família”, disse.
Ontem, as ações preferenciais subiram 0,15% para R$ 89,76, no dia em que o Ibovespa caiu. Além disso, o Pão de Açúcar é visto como uma das melhores opções de investimento entre as varejistas. Para o HSBC, por exemplo, a ação é a preferida por ver ganho de margem pela consolidação da Viavarejo quando o Cade aprovar a fusão entre Ponto Frio, Casas Bahia e Pão de Açúcar
Veículo: Brasil Econômico