Em troca de e-mails, presidente do Casino diz não ser obrigado a compartilhar informações e que vê Abilio Diniz como futuro rival
Abilio Diniz apareceu na porta, mandou e-mail e reclamou, mas foi impedido de participar ontem em Paris de uma reunião da diretoria do Pão de Açúcar com o Casino, sócio controlador do grupo. Numa dura carta enviada ao empresário brasileiro horas depois do encontro, Jean-Charles Naouri, presidente do Casino, escreveu que Abilio tentou "impor" sua presença na reunião sem ser convidado e queria causar "tumulto".
Do lado de Abilio, a queixa é de que tudo seria provocação do Casino. O empresário não precisaria de convite, já que, como presidente do conselho de administração do Pão de Açúcar e segundo maior acionista da empresa, ele tinha "não só o direito, mas o dever" de participar da reunião. "Ele é responsável pela empresa, não vai se ausentar só porque o Casino não quer ver a cara dele por perto", diz um profissional ligado ao empresário.
A reunião que deu tanta confusão foi convocada para discutir a visão do Casino para os negócios de varejo, o orçamento e o planejamento do Pão de Açúcar para os próximos três anos. Os principais pontos serão avaliados novamente em dezembro na reunião do conselho da empresa, que será presidida por Abilio. Segundo fontes do Casino, o empresário teria sido avisado antes de viajar de que não poderia participar da reunião. Seus assessores negam.
Barrado. Abilio chegou à sede do Casino cerca de dez minutos antes do início da reunião, previsto para as 15h. Foi avisado de que, do Brasil, só eram esperados Eneas Pestana, presidente do Pão de Açúcar, e mais quatro diretores executivos da empresa. O nome de Abilio não estava na agenda, portanto, ele não poderia participar da reunião.
Depois de cerca de 40 minutos de espera, Abilio enviou um e-mail a Jean-Charles e a Pestana. Dizia que estava no térreo, "aguardando para participar da reunião". Escreveu que, como presidente do conselho, entendia ser "indispensável" sua "participação e contribuição" na reunião. E que impedir sua participação no encontro seria considerado "ofensa grave", com as "responsabilizações e demais consequências cabíveis".
Quatro horas depois, Nouri enviou sua resposta - também com cópia para Pestana. Dizia lamentar a tentativa de Abilio de participar de uma reunião para a qual "não fora convidado" e que aquela reunião não era do Pão de Açúcar, mas do Casino com os principais executivos da empresa.
A certa altura, Naouri mostra sem rodeios que vê Abilio como um possível concorrente no futuro. Na carta, o executivo francês diz que a pauta da reunião incluía a visão de longo prazo do Casino. "Não estamos obrigados a compartilhar tais visões com o senhor em outras situações que não em reuniões do conselho de administração do GPA (Pão de Açúcar), inclusive diante de sua reiterada e explícita intenção de obter a modificação dos contratos que nos unem, visando concorrer com o GPA", escreveu.
Guerra. Sócios desde 1999, Abilio e Casino passaram a brigar no ano passado, quando o empresário negociou, na surdina, a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour - maior rival do Casino. Os franceses interpretaram a atitude como uma tentativa de embaralhar um acordo assinado no passado e que este ano deu ao Casino o controle do Pão de Açúcar, fundado pela família de Abilio.
Ele nunca se conformou e tenta encontrar uma porta de saída do Pão de Açúcar para tocar a vida em frente, sem Naouri. Está difícil porque eles não se entendem sobre mais nada. Nem sobre quem pode ou não participar de uma reunião de trabalho.
Veículo: O Estado de S.Paulo