O clima de desconfiança entre Casino, controlador do Grupo Pão de Açúcar, e Abilio Diniz, da família fundadora da companhia, aumentou nos últimos dias e paralisou as conversas para que os sócios antecipem o fim da sociedade, que poderia durar até 2022.
Casino e Abilio trabalhavam, por meio de seus representantes, num modelo de negócio que permitiria o fim da parceria, iniciada em 1999 e definitivamente selada em 2006 - quando ficou acordado que o grupo francês assumiria o controle isolado do grupo Pão de Açúcar em junho deste ano.
Mas apesar de ambos os lados manterem o discurso de que estão dispostos a negociar, as conversas não evoluem. E a paralisação faz crescer o desgaste.
Depois de solucionada a questão principal - o modelo para a saída de Abilio - ambos os lados apontam (por motivos diferentes) possível falta de motivação para dar sequência às negociações da parte oposta.
O esperado para este momento era que as reuniões ocorressem com frequência e engajamento dos envolvidos para que todas as arestas típicas de negociações desse tipo pudessem ser aparadas.
De um lado, Casino teme que o interesse de Abilio em ficar com a Via Varejo, subsidiária de eletroeletrônicos que reúne Ponto Frio e Casas Bahia, não seja verdadeiro. Há um receio de que o interesse real seja vender sua participação em dinheiro, o que o levaria a desistir da transação na última hora.
Do outro, Abilio fica receoso com a lentidão das conversas, pois vem reafirmando que está disposto a ficar com a Via Varejo.
Por essa demora, Abilio, que preside o conselho de administração do grupo, voltou a ter uma postura mais ativa nos últimos dias frente à gestão da empresa. O empresário tem garantida a presidência quase vitalícia do conselho desde que a companhia apresente bons resultados.
Abilio contava com o rápido avanço das conversas e, por isso, não via sentido em manter forte envolvimento no dia a dia dos negócios. Mas por conta da falta de progresso, optou por retomar sua postura dinâmica. Anunciou que irá a Paris na próxima semana para a reunião de planejamento estratégico do Pão de Açúcar, o que não estava programado. Essa decisão de ir a Paris foi lida pelo Casino como um possível rompimento das conversas, o que interlocutores de Abilio negam com veemência.
Pessoas ligadas ao grupo francês alegam que o Casino está disposto a continuar na mesa desde que as abordagens de Abilio sobre o negócio mudem.
Particularmente, apontam que o desejo do empresário em ficar com a sede da empresa - o prédio que foi a loja número 1 - e de antecipar o fim de uma cláusula de não concorrência em varejo alimentar estariam fora do que o Casino julga razoável.
Contudo, até a semana passada, propostas a respeito desses itens iam e vinham entre os negociadores, indicando que ambas as partes estavam dispostas a buscar uma saída.
Quando o diálogo deixou de evoluir, estava na mesa que Abilio poderia continuar usando parte da sede e que teria o direito de preferência na compra quando e se o Casino desejasse sair. Na questão da não competição, de um lado o empresário queria que ela se encerrasse em julho de 2013. Já o grupo controlador do Pão de Açúcar queria que o bloqueio durasse um ano a contar do negócio fechado.
Esses eram os detalhes não acertados - entre tantos outros que aparecerão quando as partes de fato sentarem para conversar - de um complexo modelo que ambos já tinham acordado.
A saída de Abilio praticamente não envolveria dinheiro. A estrutura se passa quase toda dentro do próprio Pão de Açúcar. A companhia recompra as ações ordinárias do empresário (20% do total) e as 61 lojas que ele possui pagando com o controle de Via Varejo. Depois, Abilio usaria parte de suas preferenciais para negociar a compra dos 47% da empresa de eletrônico que estão com a família Klein, antiga dona das Casas Bahia.
Veículo: Valor Econômico