A indicação por parte do Casino de nomes para o comitê de governança corporativa do Grupo Pão de Açúcar deixa ainda mais explícitas as posições antagônicas entre o sócio francês e Abilio Diniz. Para o Casino, controlador da companhia desde junho, o comitê será um agente que acelerará as boas práticas na empresa. Será uma ponte entre a diretoria e o conselho de administração, presidido pelo empresário. No fim das contas, reduzirá a interferência de Abilio no dia a dia da operação. Aí está o nó.
O Casino entende que a decisão de criar um comitê forte - Maria Helena Santana, ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) foi indicada - deixa mais claro o novo papel de Abilio na empresa, que não está ligado com o cotidiano da operação. Para Abilio, o ponto é outro. O comitê tende a interferir nas suas atribuições dentro da empresa e portanto, fere o contrato assinado entre as partes em 2005, que determina que Abilio continuará na presidência do conselho de administração enquanto a empresa mantiver a boa performance.
Na visão do empresário, seus direitos podem deixar de ser respeitados se a sua função sofrer um esvaziamento, o que poderia motivar inclusive um litígio arbitral, em último caso. Abilio sempre preferiu, pelo menos até agora, evitar uma ida à Justiça. Não está claro se ele mudou de ideia.
Em relatório para clientes datado de segunda-feira, a equipe do Itaú BBA escreve que não acredita que Abilio esteja feliz com seu status atual na empresa. "O Casino não tem pressa para negociar, está efetivamente comandando a empresa e não tem necessidade de fechar um acordo desfavorável só para ver o Sr. Diniz ir embora. Claramente Casino detém a vantagem nas negociações".
Cada lado defende o seu ponto e não há o menor sinal de que essas divergências se atenuem. O Valor apurou que o sócio francês pode tomar medidas que venham a ser interpretadas como isolamento de Abilio dentro da empresa. A ideia de que ele vá às plenárias do GPA às segundas-feiras não agrada o Casino - Abilio criou as plenárias anos atrás. Lá, discutem-se questões do dia a dia da empresa, algo que cabe ser debatido no âmbito da diretoria. Ainda há informações no mercado de que o Casino se incomoda com a presença de Abilio na sala principal de comando da empresa, onde está a diretoria-executiva do GPA. Há uma sala no grupo para o presidente do conselho de administração.
Interlocutores ligados a Abilio contam que o empresário já havia se afastado um pouco do dia a dia da rede, após a transição de poder, assim como passou a manter menor contato diário com Enéas Pestana, presidente do GPA
O que se vive agora, nos bastidores, revela o quão péssima está a relação entre as partes. Nesse cenário, torna-se inviável concluir qualquer conversa envolvendo a saída de Abilio do grupo, que vem sendo negociada há pelo menos seis meses. Segundo um dos interlocutores, o caminho é esperar uma "janela de negociação" em 2013. E quando isso ocorrer, o foco dos assessores será tratar dos pontos em aberto de forma pragmática.
Nesse ambiente ruim entre os sócios, os advogados das duas partes trocaram cartas na segunda e na terça-feira, em que defendem suas posições e criticam vazamentos de informações à imprensa.
Veículo: Valor Econômico