Indo na contramão de outros players do setor varejista que têm apostado e investido em sua operação de varejo on-line (e-commerce), a rede supermercadista francesa Carrefour , que tem passado por altos e baixos ao longo deste ano, anunciou na última sexta-feira, o encerramento de suas atividades.
Em comunicado oficial, o Carrefour afirmou que a atitude visa a reestruturação de suas operação no Brasil: "O Grupo Carrefour Brasil anuncia a decisão de suspender suas atividades no segmento de e-commerce, em continuidade ao plano de reestruturação adotado com sucesso há mais de dois anos". Ainda segundo informações do comunicado, a intenção da bandeira é reforçar sua atuação com a operação de hipermercados - com a revitalização de seus pontos de venda -, além de dar continuidade ao fortalecimento e plano de expansão da bandeira de Atacadão, setor que está em fase de consolidação no País. Além disso, a rede dará maior atenção ao posicionamento estratégico do Carrefour Soluções Financeiras (vertente de private label ou cartão de crédito próprio) frente ao crescimento da nova classe média, a classe C, a na inserção de novos formatos para melhor atender ao mercado local no Brasil.
Na opinião de Alexandre Marquesi especialista em e-commerce e professor da pós-graduação em gestão e marketing digital da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP), a medida da rede supermercadista de encerrar essa atividade não é uma atitude acertada e deve estar relacionada a uma má gestão por parte da administradora desse segmento. "Para se atuar no e-commerce é necessário saber lidar com a operação, a logística que demanda e ter ciência que se trabalha com margens mais baixas", explicou ao DCI.
Ainda com a experiência do especialista no setor, além do fato acima mencionado, não está descartada a possibilidade da rede estar colocando a "casa em ordem", para posteriormente vender a operação brasileira.
"Eles podem estar na fase de estruturar as lojas físicas, para vender a operação a uma outra rede", disse. Rumores de mercado afirmam que a Chilena Cencosud, que já comprou algumas operações brasileiras, possa estar interessada na aquisição da bandeira francesa. Marquesi, ressaltou que o Carrefour não foi a única varejista a encerrar as vendas pela Internet. "A Pernambucanas simplesmente achou melhor apostar no varejo físico e desistiu de seu e-commerce", enfatizou.
Perspectivas
Mesmo com essa perda ao mercado on-line, a perspectiva para o setor este ano é faturar 54,4 bilhões de euros na América Latina. Só o Brasil, possui 59% desse montante e cresce numa média de 20% ao ano, segundo pesquisas da VISA e do e-bit, consultoras de e-commerce.
No entanto, para os próximos quatro anos, a alta pode chegar a 25% devido à disseminação de novas plataformas - a principal delas é o smartphone - para efetuação de compras on-line. Trata-se do mercado ainda recém-nascido batizado de m-commerce.
"Hoje, muita gente tem celular com entrada na Internet e cada vez mais isso tende a aumentar. O m-commerce vai se expandir em 2013", afirmou o CEO da V-tex, especializada em plataformas digitais de e-commerce, Mariano Gomide de Faria.
De acordo com estudos da Accenture, consultora global de gestão e tecnologia, os brasileiros são os que mais desejam adquirir um smartphone num futuro próximo. A pesquisa também indica que 69% dos entrevistados costumam acessar a Internet por um dispositivo móvel. Atualmente, 8% do tráfego das lojas virtuais se deve ao m-commerce, porém o percentual cai pela metade - entre 4% a 5% -, quando é avaliada a quantidade de compras efetuadas. É o que afirma o presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), Mauricio Salvador.
Porém, para Mariano Gomide, esse fenômeno é positivo para a expansão do varejo on-line no mercado brasileiro, pois ao multiplicar o número de acessos ampliam-se as possibilidades de compra em diferentes horários do dia. "Antes, você só tinha picos de entrada no almoço e de tarde. Agora, acontece a toda hora, principalmente, à noite", considerou. Vale ressaltar, no entanto, que a grande aposta para o m-commerce não é aumentar a clientela e sim, a quantidade de compras realizadas por uma mesma pessoa. "Quem antes fazia apenas uma compra, com o celular, passou a fazer três, quatro, cinco, etc", analisou o executivo. Apesar disso, a tendência é que o tíquete médio seja mais baixo para este tipo de consumo, já que a obtenção de produtos mais caros exige um processo mais demorado de reflexão por parte do cliente se comparado à aquisição de mercadorias mais baratas e corriqueiras. "Por exemplo, não é comum você comprar uma geladeira ou um computador por celular", concluiu Mauricio Salvador. As categorias mais procuradas dentro do m-commerce são as de micropagamento, isto é, o comércio de músicas, vídeos, serviços, e alimentos.
Este último setor, vendido nas lojas virtuais dos supermercados, é o que mais se expandiu nos últimos anos. "Isso porque o mercado eletrônico está cada vez mais parecido com o mercado físico. O que se vende on-line, se vende off-line. Não tem mais diferença", ressaltou Mariano Gomide.
Veículo: DCI