O plano B de Abílio Diniz

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Com as negociações para deixar o grupo Pão de Açúcar emperradas, o empresário Abilio Diniz diversifica seus investimentos e articula para ser presidente do Conselho de Administração da BR Foods.



Aos 76 anos, completados em dezembro do ano passado, o empresário Abilio Diniz resolveu recomeçar sua vida empresarial. Desta vez, longe do Pão de Açúcar, empresa criada por seu pai, Valentim, na qual é o presidente do conselho de administração. No final de 2012, o relacionamento entre Diniz e Jean-Charles Naouri, CEO do grupo Casino, atual controlador da rede varejista brasileira, chegou ao rés do chão, paralisando as já difíceis e longas negociações para sua saída da companhia. Diante do impasse, o empresário colocou em marcha o seu plano B, ao transferir 67% de sua posição em ações preferenciais do Pão de Açúcar para um fundo batizado de Santa Rita, nome da santa da qual é devoto.
 
Existente desde 2007 e administrado pelo UBS, o fundo vendeu 1,7 milhão de papéis por R$ 155 milhões, entre 19 e 24 de dezembro. Com uma bolada de R$ 60 milhões, Diniz comprou participação na Brasil Foods, a maior empresa de alimentos processados do País. O restante foi aplicado em outras duas companhias – uma da área financeira e outra de energia eólica. “Abilio resolveu tratar o Pão de Açúcar como um investimento”, diz uma pessoa próxima ao empresário. “Ele está olhando alternativas.” O fundo Santa Rita, de acordo com a mesma fonte, deverá buscar posições minoritárias em outras empresas. A ideia é diversificar os investimentos de Diniz, extremamente concentrados no Pão de Açúcar – atualmente aproximadamente 80% de seu patrimônio, o que inclui as ações e 60 imóveis, está vinculado à rede.

Não há planos de se desfazer dos papéis que dão direito a voto. Mas é na Brasil Foods, pelo menos neste momento, que reside o principal interesse do empresário. Diniz articula com o fundo Tarpon, que detém uma fatia de 8% na empresa, para assumir a presidência do conselho de administração, posto ocupado atualmente por Nildemar Secches, o executivo responsável pela fusão da Perdigão com a Sadia, em 2009, que deu origem à Brasil Foods. Os fundos estatais Previ e Petros, maiores acionistas da companhia, também estariam apoiando Diniz. Procurados, Tarpon, Previ e Petros não deram entrevista. No ano passado, o empresário viajou a Brasília, onde se encontrou com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para comunicar seus planos.
 
O governo federal veria com bons olhos a articulação para levá-lo a uma posição de comando na Brasil Foods. O presidente do conselho do Pão de Açúcar é uma pessoa com bom trânsito em Brasília e admirado pela cúpula do Palácio do Planalto, tanto que recebeu apoio do BNDES no fracassado projeto de comprar o Carrefour, em 2011. No momento, Diniz e o fundo Tarpon trabalham para criar uma chapa de consenso na reunião de 9 de abril, quando será eleito presidente do conselho de administração da Brasil Foods. Entre acionistas relevantes estão as famílias Fontana e Furlan, que controlavam a Sadia, e a empresa catarinense Weg, antiga acionista da Perdigão, além do fundo americano BlackRock. As movimentações para as mudanças na Brasil Foods acontecem em um momento no qual os fundos estatais e o Tarpon pressionam sua diretoria pela entrega de números mais vistosos na última coluna do balanço.
 
Nos nove primeiros meses de 2012, a receita líquida da empresa aumentou 9,5%, mas o lucro líquido caiu 80%, para R$ 250 milhões, em relação ao mesmo período do ano anterior. A geração de caixa também foi 28,5% inferior. Além disso, os fundos acreditam que a empresa, presidida pelo executivo José Antônio Fay, não está conseguindo captar a sinergia possibilitada pela fusão das operações da Perdigão e da Sadia. Quando foi anunciada, em 2009, as economias resultantes da união das duas empresas foram estimadas em R$ 500 milhões ao ano, segundo um estudo elaborado pela consultoria McKinsey. Secches, em razão desse desgaste, estaria também planejando deixar a Brasil Foods e dedicar-se a outros conselhos de administração dos quais faz parte, como os da Weg, Ultrapar, Suzano e a Iochpe-Maxion.
 
O executivo comandou a Perdigão de 1995 até 2009. Nesse período, conseguiu tirar a empresa fundada pela família catarinense Brandalise da ruína e elevá-la a outro patamar, ultrapassando até mesmo a Sadia, durante décadas líder absoluta do mercado nacional. Fortalecida em sua gestão, a Perdigão não teve o menor problema para incorporar a concorrente, fragilizada pelos prejuízos sofridos com operações de derivativos no início da crise internacional. O acordo deu origem à Brasil Foods, hoje um colosso que fatura R$ 25,7 bilhões e exporta para mais de 140 países. Aos 63 anos, Secches pode retirar-se da companhia que ajudou a criar e ceder lugar para Diniz, um empresário que está longe de querer se aposentar.


Veículo: Revista Isto É Dinheiro




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