Há três anos, o Wal-Mart Stores Inc. decidiu que seria a maior rede varejista da Índia até 2015. O plano de negócios foi chamado de Projeto Jai Ho, que no idioma hindi significa "que haja vitória".
Hoje, porém, o Wal-Mart mal está avançando na Índia.
Em 2012, a empresa abriu apenas cinco lojas atacadistas no país, bem menos que as 22 planejadas. Este ano, a empresa, que opera na Índia desde 2009 e tem 20 dessas lojas no país, espera abrir mais oito, disse uma pessoa a par do assunto. A última loja, contudo, foi aberta em outubro.
Parte do atraso se deve, segundo pessoas do setor, ao processo labiríntico que é construir imóveis comerciais e operar lojas na Índia. Mas uma das maiores razões é uma investigação sobre possíveis infrações que está em curso no Wal-Mart.
A empresa de Bentonville, no Estado de Arkansas, divulgou em novembro que está investigando possíveis violações na Índia, no México e em outros países da lei americana contra práticas de corrupção no exterior (FCPA). A rede varejista não foi formalmente acusada pela Justiça dos EUA.
O Wal-Mart afirma que, desde que começou a investigação interna, vem intensificando esforços para fazer que seus parceiros e funcionários atuem segundo as leis americanas e indianas, mas isso desacelerou sua expansão. "Conforme criamos e introduzimos procedimentos mais elaborados para obter licenças, estão ocorrendo atrasos na abertura de lojas", disse uma porta-voz do Wal-Mart na Índia.
Em 2012, as vendas totais do Wal-Mart subiram 5%, para US$ 466 bilhões, sendo que as da divisão internacional aumentaram 7,4%, para US$ 135 bilhões. Mas as lojas nos EUA ainda respondem por uma fatia considerável do lucro operacional.
Recentemente, o Wal-Mart contratou vários advogados para elaborar procedimentos conforme as normas indianas e treinar seus funcionários na Índia. A empresa também passou a exigir dos proprietários dos imóveis que aluga na Índia provas de que não subornaram funcionários públicos.
Abrir e operar lojas na Índia é complicado. São necessárias dezenas de autorizações e licenças de diversas agências, e empresários de vários setores dizem que é comum pagarem subornos para que seus projetos avancem.
Em setembro de 2011, o Wal-Mart procurou uma construtora para abrir uma loja no estado de Tamil Nadu. Foi assinado um contrato segundo o qual a incorporadora construiria e depois alugaria o edifício. A construtora informou que levaria até nove meses para obter as autorizações necessárias e mais um ano para construir a loja, disse uma pessoa a par do assunto. Mas o Wal-Mart queria que ela estivesse pronta em 12 meses, disse a pessoa.
A incorporadora iniciou a construção sem as licenças necessárias, segundo essa pessoa. Em dezembro, recebeu um aviso, ao qual o The Wall Street Journal teve acesso, de uma agência municipal ordenando a suspensão de obra. Em fevereiro, autoridades fecharam o local.
"Estamos empenhados em cumprir todas as leis e regulamentos e em processo de implementar uma série de ações específicas e concretas para fortalecer nosso programa de conformidade na Índia", disse a porta-voz do Wal-Mart. Ela falou para essa matéria sobre a política da empresa em geral, mas não comentou sobre incidentes específicos.
A Índia exige licenças separadas para certos tipos de produtos. A Bharti Enterprises Ltd., parceira do Wal-Mart, abriu lojas em outubro sem ter as licenças para arroz, lentilhas, frutas e legumes, disse um de seus executivos. A loja teve que retirar os itens das prateleiras e solicitar as licenças de novo.
As normas do próprio Wal-Mart também já foram contornadas, disseram ex e atuais empregados da varejista. Segundo as regras, disseram essas pessoas, uma equipe na Índia identifica locais para novas lojas e os apresenta a um comitê da empresa que cuida de imóveis no país. As decisões desse comitê são então submetidas a um grupo da Ásia e depois a outro internacional, que inclui o diretor-presidente, Mike Duke. Mas a equipe indiana, na ânsia de abrir lojas, várias vezes iniciou a construção assim que obteve o aval do comitê local, segundo pessoas que disseram ter presenciado estas ações.
Para reforçar o cumprimento das normas, o Wal-Mart contratou, em julho, o escritório americano de advocacia Greenberg Traurig LLP e a firma de auditoria KPMG LLP, disse a porta-voz do Wal-Mart. Eles elaboraram procedimentos de conformidade e treinaram funcionários, assim como auditaram parceiros e fornecedores na Índia.
Além disso, chefes de departamentos, inclusive os de conformidade, respondem agora diretamente às divisões da Ásia e EUA. O Wal-Mart afirmou que a mudança visa centralizar o controle.
Veículo: Valor Econômico