Nos resultados do primeiro trimestre do ano do Grupo Pão de Açúcar (GPA), a maior rede de varejo alimentar da América Latina, o destaque do período deve ser o braço de comércio de produtos eletroeletrônicos da companhia.
Relatórios de analistas preveem crescimento na margem operacional da Via Varejo (formada da união de Casas Bahia e Ponto Frio), redução mais consistente das despesas operacionais e uma melhora considerável no lucro líquido. Analistas aguardam sinais de que a mudança no comando da empresa, no fim de 2012, tenha trazido melhorias para a operação já no início de 2013.
O período de janeiro a março foi o primeiro trimestre da Via Varejo sob o comando de Antonio Ramatis Rodrigues, executivo que foi indicado para o cargo pelo GPA e é substituto de Raphael Klein, da família Klein, fundadora da Casas Bahia.
"Achamos que as expectativas que têm sido montadas nas últimas semanas em relação à Via Varejo podem se tornar realidade caso o corte de custos seja agressivo, nas mesmas escalas observadas no quatro trimestre de 2012", escreve em relatório Richard Cathcart, analista do Banco Espírito Santo (BES), ao citar que as recentes elevações no preço das ações preferenciais do GPA na bolsa poderiam refletir um efeito positivo de mudanças na Via Varejo.
Para o período de janeiro a março, segundo média de previsões de analistas dos bancos Itaú BBA, Deutsche Bank, Espírito Santo e Ágora Corretora, a margem Ebitda estimada atinge 5,4% para a Via Varejo - alta de 0,6 ponto sobre o ano anterior -, e 7,3% para o GPA Alimentar, leve queda em relação a 2012 (7,4%). Em relação ao lucro líquido, as estimativas são agressivas para a Via Varejo, com o Itaú BBA prevendo valor de R$ 83,2 milhões, alta forte de 462% sobre o mesmo período do ano anterior.
Para o GPA Alimentar, o aumento médio no lucro previsto é de 6%. Ao se considerar todo o grupo varejista (alimentos e eletrônicos), a alta média no lucro estimado é de 57%, alcançando R$ 261 milhões de janeiro a março. Os resultados de vendas já foram divulgados em anúncio da empresa semanas atrás. Segundo o material, a receita líquida de Via Varejo subiu 9,3% e de GPA Alimentar, 10,9%.
Na avaliação da equipe de análise do Deutsche Bank, é esperado para o grupo (somando alimentar e eletroeletrônico) "um crescimento modesto no consolidado de margem operacional, com Via Varejo continuando a mostrar alguma melhora, enquanto a margem de alimentação mantém uma certa estabilidade", escreve a analista Renata Coutinho. Para ela, os ganhos operacionais do grupo virão de um esforço para reduzir despesas (o que pode ser um desafio, ressalta ela), por meio de ganhos de sinergias do negócio de eletroeletrônicos, que ainda tem sido obtidas três anos após o anúncio da fusão de Ponto Frio e Casas Bahia. O banco orienta investidores a manter a ação na carteira.
Para a operação de Via Varejo, a analista do Deutsche reforça um contraponto: a margem bruta pode ser impactada por agressivas campanhas e promoções que devem elevar o tráfego e gasto médio no trimestre. Mas esse impacto pode ser "mais que" compensando por ganhos de eficiência operacional, levando a uma margem Ebitda na Via Varejo de 5,6% (0,8 ponto acima do primeiro trimestre do ano passado). Para o GPA Alimentar apesar do impacto positivo das vendas da Páscoa e do desempenho do Assaí e do Minimercado Extra, a margem Ebitda esperada atinge 7,3%, em linha com 2012.
A questão dos efeitos da rede de atacado (Assaí) nos resultados do grupo também é citada pela equipe de análise do Itaú BBA, formada por Juliana Rozenbaum e Vitor Paschoal. "Espera-se uma ligeira queda na margem bruta [de GPA Alimentar], principalmente devido à maior participação de Assaí no mix de vendas", relata. "Para Via Varejo, esperamos uma estabilização da margem bruta no período, apesar do ambiente competitivo ainda feroz. Os ganhos de sinergia [ainda resultado da fusão] provavelmente vão gerar um ganho de 0,6 ponto percentual na margem Ebitda [atingindo 5,4%]".
O Banco Espírito Santo espera um desempenho "robusto" para o GPA Alimentar, com margens estáveis. "Vemos o negócio de alimentos como o melhor colocado entre os três grandes no Brasil para tirar vantagem das mudanças estruturais que ocorrem no mercado e no comportamento do consumidor, e pensamos que a Via Varejo tem uma oportunidade significativa para melhorar as margens no curto prazo", afirma Richard Cathcart. "Por essas razões que permanecem positivas no grupo, mantemos nossa recomendação de compra [do papel]."
Veículo: Valor Econômico