Em cidades pequenas, loja faz papel de supermercado

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De televisão a celular, e até remédios. O conceito de farmácia muda de Estado para Estado, apesar de a lei
federal nº 5.991, de 1973, estabelecer que farmácias e drogarias têm de ter suas vendas restritas a medicamentos. Nos últimos anos o mix de vendas nesses estabelecimentos ganhou novos contornos.

A média nacional aponta que 70% da receita vem da comercialização de remédios e os outros 30% de produtos não ligados à saúde, como higiene e beleza, além de alimentos, bebidas, e até eletroeletrônicos, em alguns casos, segundo a (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma). A expectativa é de que no curto prazo a participação de não medicamentos represente até 40% do total do faturamento, de acordo com especialistas do setor ouvidos pelo Valor.

Em algumas redes do país, a maior flexibilidade da receita já é uma realidade. Em algumas lojas da rede Pague Menos, com sede em Fortaleza, o faturamento de lojas que ficam afastadas das capitais a venda de não medicamentos já atinge 40%, afirmou Francisco Deusmar de Queirós, presidente do grupo. "Muitas de nossas lojas fazem o papel de supermercado em cidades pequenas", afirmou. A rede encerrou 2012 com 585 lojas e deve abrir cerca de 100 este ano.

No Pará, a rede Big Ben, que pertence à Brasil Pharma, do banco BTG, já foi considerada a maior vendedora de CDs do Estado. Hoje, algumas redes parecem lojas de departamento. Produtos eletroeletrônicos, como TVs, computadores e celulares estão entre os mais vendidos. "Procuramos nos adaptar às leis locais", afirmou Carlos Dutra, vice-presidente da Brasil Pharma.

"O mix do que é considerado não medicamentos depende de Estado por Estado. No Rio Grande do Norte, por exemplo, a lei local é a mais flexível do país e até permite a venda de bebidas alcóolicas", disse Sérgio Mena Barreto, presidente da Abrafarma.

Uma pesquisa feita pelo Instituto de Pós-Graduação para Farmacêuticos (ICTQ), obtido com exclusividade pelo Valor, mostra que apesar do maior leque de itens vendidos em farmácias os medicamentos são os mais consumidos nesses estabelecimentos (ver quadro acima).

"A pesquisa tem pontos contraditórios. Apesar de os remédios serem o item mais vendido, apenas 16% dos consumidores enxergam as farmácias como estabelecimento de saúde", disse Marcus Vinicius Andrade, diretor-executivo do ICTQ. "A visão dos consumidores sobre as farmácias é distorcida", disse Andrade, que defende maior restrição à venda de medicamentos.

O ICTQ contratou no fim do ano passado o Datafolha com o objetivo de conhecer melhor o mercado farmacêutico brasileiro. A pesquisa "Primeiro Levantamento Nacional do Perfil de Compradores em Farmácias" foi realizado em 12 capitais. Mesmo com o movimento de concentração do setor, os consumidores estão divididos quanto a preferência por tipo de estabelecimento. Metade prefere farmácias locais. Essa predileção é mais significativa em Manaus, Recife, Goiânia e Belo Horizonte. A opção pelas lojas de rede é mais forte nas capitais do Sul, Belém e Salvador.

Os medicamentos atraem com maior força os consumidores mais velhos, os menos favorecidos economicamente e os que não estão inseridos no mercado de trabalho. Por outro lado, os produtos de beleza chamam mais a atenção das mulheres, dos mais jovens e da classe A. A compra de medicamentos em farmácia é mais significativa em São Paulo e Campo Grande, enquanto a aquisição de produtos de higiene pessoal é mais expressiva em Curitiba e Goiânia, e cosméticos em Curitiba, Goiânia e Belém.

Ao Valor, o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Dirceu Barbano, disse que a agência pretende discutir essas "distorções" do conceito de farmácia no país. "A sociedade brasileira tem uma visão americanizada, que vê farmácia como loja de conveniência." Segundo Barbano, a Anvisa está amparada na lei, mas entende que há situações diferentes em vários Estados, amparadas por liminares e legislações locais.

"Defendemos o modelo de que farmácia é o local para a venda de medicamentos", disse.


Na rede de farmácias gaúcha Panvel, a lei federal é seguida à risca. "É por convicção", afirmou Júlio Mottin Neto, presidente do grupo. O mix de vendas da rede, que registrou faturamento de R$ 1,95 bilhão no ano passado, ficou em 65% para medicamentos e 35% para outros produtos, basicamente higiene e beleza. "Há 17 anos, a participação de higiene e beleza era de 15%", disse. A empresa conta com cerca de 300 lojas e quer alcançar 450 unidades até 2018. O foco de expansão será no Sul do país, sobretudo no Paraná. "Depois vamos focar no Sudeste", disse.

Brasil Pharma (ex-Brazil Pharma) faturou R$ 3,09 bilhões em 2012 - 65% desse total veio de medicamentos, mas a fatia de outros produtos vai continuar crescendo, diz o vice-presidente Carlos Dutra. Ele explicou por que o "z" foi abolido do nome da empresa: "Fizemos pesquisa e o 'z' era interpretado como arrogância. Mantivemos 'Ph' do Pharma porque a grafia remete à tradição, ao antigo".

A rede da Brasil Pharma é formada por 708 lojas próprias e 388 franquias (da bandeira Farmais). Espalhadas em todo país, as lojas se adaptam às legislações locais. Dutra observa que a companhia é favorável ao controle de vendas de medicamentos, mas a preocupação é acompanhar os hábitos do consumidor. "Nosso conceito é de bem-estar. Queremos focar isso para os nossos clientes. Antes a farmácia era associada à doença", diz ele.

A rede Big Ben, com 248 lojas, tem um perfil diferente das demais do grupo Brasil Pharma. "Algumas dessas lojas no Pará vendem roupas, tevês, livros, computador e celulares", diz Dutra. A empresa também controla as redes Guararapes (PE), Sant'ana (BA), Rosário, com forte presença no Centro-Oeste, Mais Econômica, no sul do país, entre outras.

Levantamento do Ibope Inteligência mostra que a venda de remédios movimentará R$ 70 bilhões este ano, alta de 12% sobre 2012. O gasto por brasileiro projetado pelo Pyxis Consumo, ferramenta de dimensionamento de mercado do Ibope, é de R$ 430,92. A classe C é responsável por quase metade do consumo no país, com vendas de 45% do total, ou R$ 32 bilhões. Já a classe B deve gastar R$ 24 bilhões, enquanto o estimado para as classes D/E é R$ 8,6 bilhões e para a A, R$ 6,6 bilhões.



Veículo: Valor Econômico


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