Abilio Diniz adota um tom de silêncio quanto a suas pretensões sobre vender ou não sua participação em ações ordinárias do GPA a partir de 22 de junho de 2014, como tem direito pelo contrato assinado há oito anos.
A despeito disso, reforçou seu time de negociação, o que denota a disposição para conversas, ainda que difíceis. Contratou o papa das negociações intrincadas, William Ury, um dos criadores do Programa de Negociação de Harvard, com experiência em conflitos societários e políticos.
A chegada do estrangeiro foi comunicada a Jean-Charles Naouri, do Casino, por um emissário com boas relações de ambos os lados, o ex-conselheiro de GPA e ex-presidente da Petrobras Phillippe Reischtul. A ligação foi para dizer que o novo interlocutor chega em missão de paz, numa tentativa também de mudar o eixo dos diálogos para o campo internacional. O representante do grupo francês fora do Brasil costuma ser Jack Levy, do Goldman Sachs.
A partir do ano que vem, o empresário pode decidir a qualquer tempo pela sua saída até 2022. Abilio possui 20% dos papéis votantes do GPA, avaliados em R$ 1,8 bilhão na bolsa.
Ele tem ainda 9% das preferenciais em recibos americanos de ações (ADRs) - cerca de R$ 850 milhões. Desde dezembro, Abilio vem reduzindo sua participação em preferenciais. Atualmente o fundo com seu patrimônio, o Santa Rita, tem R$ 2,3 bilhões alocados em diferentes investimentos - 50% na empresa de alimentos BRF.
No começo de junho, conforme apurou o Valor, o empresário contratou também uma opção de venda de pouco mais da metade de sua posição em ADRs com o BTG Pactual - cerca de R$ 500 milhões. Mas por ora os papéis seguem com Abilio.
Manter o mistério sobre o que fará com essa posição é justamente o maior trunfo que Abilio possui.
Até novembro de 2012, esteve em curso uma negociação que visava antecipar a saída do empresário. A transação culminaria com a Via Varejo nas mãos de Abilio. Mas não houve acordo por conta do clima de desconfiança entre os sócios.
Com os prazos contratuais tão próximos, uma nova negociação poderia melhorar as condições de venda do brasileiro. Sua saída é um direito e não uma obrigação e o Casino não tem como forçar que ele deixe a companhia. Tudo que pode fazer é estimulá-lo a antecipar sua aposentadoria em GPA.
Para o Casino seria importante dar fim à convivência para ter todos os núcleos de poder da companhia. O grupo francês costuma dizer que a presença de Abilio não atrapalha. Mas além da presidência do conselho, ele possui vetos importantes - como aquisições, reestruturações societárias, cisões, fusões, mudanças na política de dividendos e decisões sobre fechamento de capital.
Atualmente, nada parece simples nessa convivência. Nem mesmo a saída contratual. O acordo prevê duas possibilidades: uma fórmula matemática - igualmente ponderada por múltiplos de pares americanas, europeias e latino-americanas - ou a troca das ações ordinárias por preferenciais com desconto de 8,5% - o que for maior.
No ano passado, o Casino declarou nas demonstrações financeiras que essa opção de saída de Abilio estava avaliada em € 400 milhões. Faz pouco tempo, o empresário colocou um grupo para calcular o valor das ações pela fórmula. Não é raro ouvi-lo dizer que quer por suas ações nada além do que elas valem no mercado. A troca das interlocuções pode esquentar o cenário. (GV e AM)
Veículo: Valor Econômico