A Via Varejo, empresa criada com a fusão de Casas Bahia e Ponto Frio, mudou o seu papel dentro de Grupo Pão de Açúcar (GPA) nesse primeiro ano do Casino como controlador isolado da companhia. A empresa deixou de ser um ativo que poderia ser vendido ao sócio Abilio Diniz, facilitando a sua saída do GPA, e se transformou num negócio que começa a mostrar resultados. A rede deve ter sua primeira oferta pública de ações tão logo as condições de mercado permitam - com potencial para ser o maior IPO do varejo no Brasil.
A proposta de Abilio para sair antecipadamente de GPA passava por assumir Via Varejo, avaliada, há alguns meses, entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões. Estudos recentes de bancos para o IPO - antes da mudança do humor geral do mercado - apontavam para um valor entre R$ 10 bilhões e R$ 12 bilhões.
No modelo proposto para a oferta, a Via Varejo, uma companhia aberta de pouca liquidez, deixará de ter apenas ações ordinárias e emitirá preferenciais. O Casino indica com isso que quer o controle, mas aceitar dividir o negócio.
Os trabalhos para que um IPO (oferta pública inicial de ações) ocorra até novembro continuam sendo tocados, para o caso de uma melhora no apetite dos investidores. Internamente, já se levanta a hipótese de um adiamento para o primeiro trimestre de 2014, se o mercado não se recuperar.
A oferta muda o futuro da empresa e só ocorrerá porque a família Klein, fundadora de Casas Bahia, decidiu, em maio, fazer uma oferta secundária de cerca de 1/3 de suas ações, como garante o contrato assinado em 2010. Deve ser a porta de saída dos Klein do negócio, que negam a intenção de deixar por completo o negócio. Mesmo que isso não ocorra, a permanência dos Klein como minoritários diminui os riscos de novos embates entre os sócios - tira da frente o plano de recompra da rede pela família, algo que gerava ruídos no mercado.
A melhora na convivência com a família Klein demonstra que, quando quer, o Casino sabe ser diplomático. A despeito de ter cortado os gastos dos sócios com aeronaves e seguranças, de ter retirado o herdeiro Raphael Klein do comando da operação (já previsto na compra) e feito uma auditoria das contas, o Casino soube convencer os Klein a vender sua participação. As reuniões de conselho da Via Varejo já não são mais uma território de guerrilha. Com a perspectiva do IPO, em que todos seriam beneficiados, os sócios trabalham pelo bem comum do negócio, ainda que não haja afinidades maiores.
Uma das prioridade hoje é a definição do nome do novo presidente da empresa. A ideia é que seja anunciado até o fim de julho, apurou o Valor. Antonio Ramatis renunciou em maio passado, alegando interferências em seu trabalho e problemas no pagamento de "stock options". As críticas não eram esperadas e expuseram a Via Varejo. Internamente, o grupo trata a questão como um fato isolado. Por isso mesmo quer focar o debate nas melhorias de resultados.
A Via Varejo tem melhorado o desempenho, mas o mercado espera maiores ajustes em suas despesas operacionais, que tem se reduzido paulatinamente. Em 2012, a rede teve receita líquida de R$ 22,8 bilhões, com R$ 322 milhões de lucro líquido (cresceu 210%) e margem líquida de 1,4% (era 0,5% em 2011). De janeiro a março, a receita foi de R$ 6 bilhões e o lucro em R$ 99 milhões, alta de 570%.
Veículo: Valor Econômico