Pão de Açúcar vê mercado tenso e vai buscar preço mais agressivo

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Num cenário de perda de vigor da economia, o Grupo Pão de Açúcar coloca foco maior em ações para tornar a empresa mais competitiva. É um ajuste no tom do discurso, que nos últimos tempos girava em torno da necessidade de defesa da rentabilidade, com a empresa admitindo no ano passado abrir mão das vendas em certos negócios para proteger margem de lucro. Ontem, o comando da rede informou que já está aumentando os esforços para operar de forma mais combativa, com preços ao consumidor mais agressivos. E para evitar que isso afete a lucratividade, buscará novas reduções em despesas operacionais nas operações alimentar e de eletrônicos.

"Em cenário mais desafiador, o que vale é competitividade e não a lucratividade", disse Enéas Pestana, presidente do GPA, ao ressaltar a busca da empresa por aumentos no volume de vendas e no tráfego, que leve a aumentos na participação de mercado, sem que isso encolha a margem. Em períodos de ritmo de consumo mais lento, varejistas se mexem para proteger fatias de mercado, ampliando volume vendido. "Competitividade sempre foi importante, mas estamos colocando mais luz, mais foco nisso. Estamos vivendo um mercado mais tenso [...]. O cliente se importa mais com o preço da Coca-Cola ou do arroz do que antes. E nessas horas se ganha com trabalho de formiguinha, com maior atenção em cada loja", disse ao Valor Christophe Hidalgo, diretor vice presidente de finanças.

Pesquisas de consultorias mostram que o consumidor, mais endividado e temeroso em ampliar gastos, tem buscado comprar marcas de menor preço e cortado da lista de compras determinadas categorias de produtos. Dois analistas ouvidos ontem esperavam que nesse cenário, a GPA já revisasse as projeções para o ano, mas a empresa manteve estimativas.

A margem bruta do GPA caiu 0,3 ponto percentual no segundo trimestre, reflexo do reposicionamento de preços em supermercados e hipermercados. No primeiro trimestre, a bandeira de atacado Assaí já havia se posicionado com preços mais combativos em novas lojas.

Uma postura mais combativa é adotada pela empresa num bom momento para a varejista, com indicadores em crescimento. Os números do segundo trimestre da área alimentar ficaram dentro do projetado pelos analistas e, em relação à operação de eletroeletrônicos, na Via Varejo, acima do previsto. Isso ao se descontar os efeitos negativos de um forte aumento nas despesas extraordinárias de abril a junho, algo não esperado. O GPA decidiu provisionar R$ 350 milhões, sendo R$ 163 milhões em riscos tributários. É uma das maiores provisões recentes feitas pela empresa, e num momento de melhores resultados operacionais. Se a "baixa" fosse feita num período ruim, teria manchado o balanço.

Essa "baixa" afetou mais o GPA Alimentar do que Via Varejo. Na área alimentar, ao se considerar esses custos (que na área de alimentos atingiram R$ 261 milhões), o lucro líquido passou de R$ 142 milhões de abril a junho de 2012 para um prejuízo de R$ 18 milhões em 2013. O lucro líquido da Via Varejo aumentou de R$ 5 milhões para R$ 95 milhões - gastos extraordinários somaram R$ 90 milhões). Segundo notas explicativas, cálculos de compensações de Finsocial, Cofins e PIS foram revistos pela empresa e levaram "os assessores legais a alterar a estimativa de perda de possível para provável no montante de R$ 187,974 [milhões]".

Segundo Hidalgo, a empresa (que passou a ser controlada pelo Casino há cerca de um ano) queria "passar ao mercado o valor real do risco que corria", disse. "Não estamos confortáveis com isso, mas não há uma preocupação com o tema. É um efeito não caixa".

Números publicados ontem mostram aumento de 12,1% na receita líquida do GPA de abril a junho, e o lucro bruto subiu 13,5%. Despesas operacionais aumentaram 20,9% para R$ 2,96 bilhões. O valor ajustado, que desconta despesas extraordinárias, mostra uma melhora de indicadores, como Ebitda, que subiu 37,6%. Via Varejo apurou maior redução de despesas operacionais (passou de 23,1% para 22,9% da receita) e margem bruta subiu de 27% para 28,7%.

"Destacamos que o resultado ajustado da companhia foi muito acima da expectativa do mercado, com positivo ganho de margem, em um cenário de instabilidade dos indicadores macroeconômicos, com destaque positivo para a performance no segmento de eletrônicos", informa relatório da corretora CGD Securities.



veículo: Valor Econômico


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