Acionista do Carrefour, presidente do conselho da BRF e com R$ 10 bilhões sob gestão em sua empresa de investimentos, o empresário Abilio Diniz é também o mais novo dono de uma padaria na capital paulista. Em parceria com o fundo Ocean e o Innova Capital - que tem entre os sócios o fundador da Ambev, Jorge Paulo Lemann -, Diniz comprou 80% da tradicional padaria paulistana Benjamin Abrahão, por meio da Península.
A empresa, fundada pelo confeiteiro Benjamin Abrahão na década de 1970, não chega a ser uma das maiores de São Paulo. Tem apenas duas unidades em bairros nobres - Jardins e Higienópolis - e quatro nas universidades Mackenzie, PUC e Uninove. Fontes próximas ao empresário Abilio Diniz dizem que a ideia é dar escala ao negócio e usá-lo como ponto de partida para criar uma rede de padarias, coisa que não existe neste segmento.
"Para um empresário do porte de Abilio Diniz e dos outros fundos, esse negócio só faz sentido se eles estiverem vendo uma possibilidade muito clara de expansão", diz Enzo Donna, presidente da ECD, uma consultoria especializada em food service. Segundo ele, embora a Benjamin Abrahão seja uma marca forte, ela não tem um "diferencial extraordinário" em relação à concorrência. A única padaria que tem adotado um modelo de rede é a Dona Deôla, que tem seis unidades.
Com 63 mil padarias espalhadas pelo País, o setor é altamente pulverizado e está basicamente nas mãos de famílias, com pouca gestão profissional. No ano passado, as padarias faturaram R$ 84 bilhões. "Esse é um setor com muito potencial de crescimento, já que vem investindo na diversificação de produtos e serviços", diz Donna.
Não é de agora que as grandes padarias oferecem aos clientes muito mais que o pão fresquinho. "No Brasil, 5 milhões de pessoas tomam café da manhã diariamente em padarias e 3,6 milhões almoçam nesses estabelecimentos."
Por enquanto, não há detalhes sobre o plano de expansão da rede, já que os fundos e a família Abrahão não concederam entrevistas. O valor do negócio também não foi divulgado. O site da revista Forbes chegou a publicar na noite de terça-feira que os fundos teriam desembolsado R$ 30 milhões na aquisição, mas a assessoria de imprensa da padaria informou que o valor é bem inferior a esse, sem dar mais detalhes.
A família deve continuar no dia a dia da operação como tem feito desde 2007, quando morreu o fundador. A gestão é compartilhada entre as filhas Shirlei e Mara, com a participação dos maridos Claudio Raize e Carlos Cardetas. Três netos do fundador também trabalham na empresa: Raquel, na diretoria de marketing, Juliana, no departamento comercial, e Felipe, de 28 anos, na produção, "com a mão na massa", como costuma dizer. Padeiro desde os 15 anos, ele se formou em gastronomia e ganhou destaque por ter mantido o padrão de qualidade do avô, com algumas inovações.
Saudosismo. O negócio pegou de surpresa os empresários do ramo de panificação. O presidente do Sindicato das Panificadoras de São Paulo, Antero José Pereira, diz não fazer ideia do que pode ter chamado a atenção de Abilio Diniz na Benjamin Abrahão. "Diria que ele foi motivado pelo saudosismo", brincou. Antes de fundar o Pão de Açúcar, o pai do empresário, Valentim dos Santos Diniz foi sócio de uma padaria em São Paulo e, em 1948, inaugurou seu próprio negócio: a Doceria Pão de Açúcar.
Desde que saiu definitivamente do GPA (que hoje está sob o comando dos franceses do Casino), em 2013, Abilio Diniz tem investido ativamente em outros negócios. Só na compra de ações do Carrefour, já foram mais de R$ 6,7 bilhões.
Veículo: O Estado de S. Paulo