Após anunciar, no último dia 30, que iniciaria 2016 fechando cerca de 30 lojas em sete estados brasileiros, a rede varejista norte-americana Walmart parece ter mudado a sua estratégia de reestruturação, ao menos em Pernambuco. Embora tenha garantido que o encerramento das atividades de algumas das suas bandeiras não atingiria Pernambuco, a rede vem reestruturando sua atuação no estado com o fechamento ou reformas de unidades.
O primeiro anúncio de impacto neste novo planejamento, em grande parte afetado pela crise na economia que despencou as vendas no comércio em geral no último ano, ocorreu em junho de 2015. No dia 12 daquele mês, o Diario noticiou a chegada da Forever 21 ao Recife em meio a um mistério onde a loja seria instalada. Na época, o Hiper Bompreço (piso superior), no Shopping Center Recife, fechou. Três dias depois da primeira notícia, em comunicado oficial divulgado pela assessoria de comunicação do grupo Walmart em Pernambuco, a empresa confirmou o fim das operações. “O Walmart confirma o fechamento de uma das lojas localizadas do Shopping Recife, o Hiper Bompreço. A loja do Bompreço localizada no piso inferior permanece em operação e passará por reforma”, dizia o texto. Em dezembro, a Forever 21 foi inaugurada.
No mesmo comunicado, a direção do grupo afirmou que estava “fazendo todos os esforços para aproveitar o maior número possível de funcionários em outras lojas da rede”. O documento dizia, ainda, que a direção reforçou investimentos “da ordem de R$ 250 milhões em Pernambuco neste ano (2015) em quatro novas lojas, reformas das unidades existentes e na integração de sistemas.”
Em novembro passado, uma nova mudança. Desta vez, o grupo Walmart reduziu praticamente pela metade a unidade do Hiper Bompreço, no Shopping Tacaruna. No espaço, foi aberta a primeira unidade da Lojas Renner (vestuário) no mall. Neste cenário, qual seria, então, a verdadeira estratégia da Walmart em Pernambuco para 2016? A incerteza, diante cenário turbulento no comércio varejista, pode dar o tom da questão.
O anúncio do fechamento de 30 lojas no Brasil, no final do ano, repercutiu muito nas redes sociais. Em alguns dos comentários, incluindo funcionários que trabalham no grupo, as possíveis razões para o encerramento das atividades de algumas unidades seriam as dificuldades de a rede implantar seu conceito “preço baixo todo dia” no mercado brasileiro.
A Walmart afirmou, também em comunicado na semana passada, que Pernambuco não faz parte dos planos de fechamento de unidades pelo grupo. Mas na mesma nota afirmou que “por conta do atual ambiente econômico no Brasil, a empresa tomou a decisão de fechar algumas unidades com baixo desempenho”. Seria o caso de unidades como as dos shoppings Recife e Tacaruna, onde o fluxo de clientes é grande? Em Pernambuco, a rede varejista possui, ao todo, 20 lojas no Recife e 63 nas demais cidades do interior do estado, atuando nas bandeiras Hiper Bompreço, Bompreço, Maxxi Atacado, Todo Dia e Sam's Club.
A resposta pode estar nos planos de (des)investimentos, que em alguns casos do setor empresarial, incluem fechamento de unidades. Procurada pela reportagem, a rede varejista afirmou que “o Hiper Tacaruna passou por uma reforma em meados de 2015 por uma questão de negociação com o próprio shopping”. Sobre possíveis fechamentos, a empresa é firme ao dizer que “reforçamos o posicionamento anterior, de que em Pernambuco não há qualquer previsão de fechamento no mercado local”. E finaliza o comunicado reafirmando, como na semana passada, que “em 2015, investimos R$ 1,3 bilhão na abertura de novas lojas - incluindo duas no estado (Pernambuco) e reformas de unidades antigas e integração de sistemas no Brasil”.
Fontes do mercado sugerem que a ideia seria escolher unidades a serem fechadas através de um estudo de mercado sobre as regiões onde estão localizadas, o potencial de vendas e os custos de manutenção. Casos, possivelmente, de unidades instaladas em shoppings, cujo aluguel é mais alto. Nas demais situações, a meta seria reverter o cenário em regiões que não cresceram conforme o previsto.
Ladeira abaixo
O varejo brasileiro, com queda acumulada de 1,6% entre janeiro e novembro de 2014 (sem dados atualizados ainda de dezembro), segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), em relação ao mesmo período de 2014, atravessa um período crítico de vendas e está ladeira abaixo. No caso do Walmart, fontes de mercado varejista citam uma série de erros de execução do grupo no Brasil, a começar pela insistência no “preço baixo todo dia” em um mercado movido por ofertas.
A Walmart é a terceira maior rede de varejo de alimentos do Brasil, atrás do Carrefour e do Pão de Açúcar, ambas controladas por capital francês. A rede a americana enfrenta há anos dificuldades para fazer seu conceito “preço baixo todo dia” se encaixar no mercado brasileiro. No último trimestre fiscal, de acordo com fontes do setor, as vendas reais no Brasil caíram 0,4%, na comparação com o mesmo período do ano passado e o percentual desconsidera a forte desvalorização do real ao longo de 2015, que afetou o resultado em dólar da filial brasileira. As bandeiras da rede também têm tido problemas para atrair clientes, uma vez que o fluxo de consumidores nas lojas caiu 3,1% no terceiro trimestre.
As aquisições da rede americana elevaram o Walmart à condição de líder em alimentos nas regiões Sul e Nordeste, mas o consenso entre fornecedores é que não houve investimento suficiente nas lojas para enfrentar fortes concorrentes locais e nacionais. Isso explicaria a alta concentração de fechamentos de lojas nas redes regionais. Segundo uma reportagem na edição on-line do “O Estado de S. Paulo”, na semana passada, o Walmart não cogita, no momento, abandonar suas bandeiras regionais. “Acho que o Walmart nunca digeriu as aquisições que fez”, afirmou uma fonte em entrevista ao portal. “E talvez, com o cenário difícil, a ordem tenha sido fazer isso de uma vez.”
Veículo: Jornal Diário de Pernambuco