Fechamento de supermercados da rede também estaria relacionado a problemas recorrentes como produtos vencidos e atendimento precário, dizem especialistas.
A decisão do Walmart de fechar uma série de supermercados por baixo desempenho no Rio Grande do Sul e em outros Estados tem razões que não se limitam à crise atravessada pelo país, avaliam especialistas no setor. Além da queda das vendas causadas pela crise, problemas recorrentes como produtos vencidos e atendimento precário estariam colaborando para afastar clientes.
A rede não confirma, mas as especulações sobre o número de lojas que seriam fechadas apenas no Rio Grande do Sul variam de cinco a 12. No país, seriam pelo menos 30, o que ocorreria até a primeira quinzena do mês.
Para o consultor Lourival Stange, da Solution Soluções em Estratégias Comerciais, a aposta da empresa em somente ter "preço baixo todo dia", slogan do grupo no Brasil, foi insuficiente diante do cenário desafiador da economia, com queda de renda na classe C, principal público do Walmart.
— A classe C perdeu poder de compra e as A e B não tendem a ir comprar no Walmart, que no Brasil tem lojas desorganizadas, com problemas de exposição e reposição dos produtos, confusão de preços e má sinalização. Nos Estados Unidos, o Walmart não é assim — observa Stange.
Também consultor e professor do curso de gestão em supermercados da Associação Gaúcha de Supermercados, Jôni Franck Costa tem opinião semelhante:
— No Rio Grande do Sul, há uma crise de credibilidade perante o consumidor, que, nos últimos anos, ficou mais exigente. Estratégia só de preço baixo não retém clientes — diz Costa, que também atribui o desgaste a problema de atendimento e a episódios repetidos de produtos vencidos e preços trocados.
Genaro Galli, professor de marketing estratégico de MBA da ESPM Sul, tem visão diferente. Para ele, a decisão é apenas resultado de uma ação de descartar lojas deficitárias diante do quadro recessivo da economia. Mesmo assim, admite, houve prejuízo à imagem da marca com os episódios antes do final do ano, quando os supermercados teriam anunciado promoções depois não confirmadas de queima de estoque das lojas que fechariam na Capital, além da autuação pelo Procon por itens à venda vencidos.
— Quando há exposição negativa da marca, a decisão a ser tomada é esclarecer à população sobre o que aconteceu e tomar decisões internas para que isso não volte a ocorrer — observa Galli.
De acordo com Costa, a saída para a rede agora, com uma operação mais concentrada, é tentar melhorar sua imagem institucional, aperfeiçoar a gestão e investir na qualificação dos colaboradores. Stange também avalia que, a partir de agora, o grupo terá um porte mais adequado ao tamanho do mercado que sobrou para suas lojas.
Procurado, o Walmart não confirmou o número de pontos fechados no Estado e no país. O Sindicato dos Empregados no Comércio de Porto Alegre diz que, na próxima quarta-feira, terá reunião com diretores da rede para saber quantos funcionários serão realocados ou demitidos devido ao fechamento de lojas na Capital.
O GRUPO NO BRASIL
— É o terceiro maior grupo supermercadista em atuação no país.
— São 560 unidades e 81,5 mil funcionários em 18 Estados e no Distrito Federal.
— São nove bandeiras entre hipermercados (Walmart, Hiper Bompreço e Big), supermercados (Bompreço, Nacional e Mercadorama), atacado (Maxxi), clube de compras (Sam's) e lojas de vizinhança (TodoDia).
NO ESTADO
— O Walmart desembarcou no Rio Grande do Sul em 2005, depois de comprar as operações no Brasil na área da rede portuguesa Sonae, por 635 milhões de euros.
— Atualmente, conta com cem lojas de cinco bandeiras: Nacional, Big, Todo Dia, Maxxi Atacado e Sam's Club.
— Faturamento no RS (2014) de R$ 5,2 bilhões, equivalente a 21,5% do setor no Estado.
— São 16,6 mil funcionários, 17,7% do segmento no RS.
Veículo: Jornal Zero Hora - RS