O apelo ecológico de um dos mais prestigiados salões de automóvel do mundo, o de Paris, que acontece até o dia 17, não está restrito apenas à apresentação e a lançamentos de carros elétricos ou híbridos. A fim de atender ao novo programa europeu de etiquetagem de pneus para indicar seu nível de eficiência em emissão de ruído, consumo de combustível e aderência, montadoras e fabricantes mundiais apresentaram produtos que visam a atender a esta nova norma que está prevista para entrar em vigor a partir de 2012. Para tanto, empresas fabricantes de insumos e dos próprios pneus estão se preparando para atender a demanda, que deverá ultrapassar os limites da Europa e chegar ao Brasil, um dos países que possuem unidades produtivas de borracha de alta performance.
Na opinião do diretor de Pesquisa e Desenvolvimento América Latina da Pirelli, Roberto Falkenstein, a nova norma deverá melhorar as especificações técnicas dos produtos. Essas melhorias passam pelo desenvolvimento de novos compostos de borracha que levam à redução da geração de calor, mudanças na estrutura e no perfil desses produtos para que essa eficiência possa ser alcançada.
Para ele, apesar de a nova regra estar prevista para o continente europeu, produtos de linhas mais eficientes poderão ser colocados no mercado nacional. "Essa norma poderá ser aplicada no Brasil, um país que já conta com programas de etiquetagem similares em produtos da linha branca", comentou ele. "A Pirelli trará esses produtos mais eficientes para o Brasil quer o País tenha adotado essa mesma norma, quer não."
Somente no ano passado a Pirelli anunciou investimentos de US$ 300 milhões no Brasil. Um terço deste valor seria aplicado na fábrica de Santo André (SP), que produz pneus para veículos pesados. O objetivo da empresa é o de aumentar a capacidade e também desenvolver novos produtos. Alguns meses antes a companhia italiana já havia anunciado um aporte de US$ 200 milhões para a ampliação da capacidade de todas as fábricas no Brasil.
A Bridgestone, por sua vez, já trabalha com esses novos compostos. Na Europa, e por aqui, a companhia tem um selo denominado Ecopia, que indica os produtos cujo consumo de combustível é mais reduzido. No Velho Continente, um exemplo é o EP-150, que equipa diversos modelos de automóvel na exposição francesa. No Brasil, esse selo pode ser encontrado nos pneus do Novo Uno (Fiat) e do Gol Ecomotion (Volkswagen).
Recentemente, o diretor mundial da área de pneus de carga da Michelin, Pete Selleck, disse que, além da expansão da produção, a empresa tem apostado em novas tecnologias para a área de pesados. À época ele estimou em 500 milhões de euros os aportes em pesquisa e desenvolvimento, e acrescentou que o foco são os pneus mais eficientes, que desencadeariam uma redução do consumo de combustível de cerca de 5%.
Na estimativa do executivo da Pirelli, o desenvolvimento de uma linha de novos pneus consome cerca de US$ 4 milhões em 18 meses, o que pode levar a uma nova geração de pneus verdes até a entrada em vigor da nova legislação europeia para o setor.
Insumos
Uma das empresas que estão de olho no aumento da demanda por borrachas para esses pneus verdes é a Lanxess. Recentemente a empresa anunciou a expansão em 50 mil toneladas anuais de sua produção mundial da polibutadieno com catalisador de neomídio (Nd-PBR) nas fábricas de Cabo de Santo Agostinho (Brasil), Orange (EUA) e Dormagen (Alemanha, país-sede da companhia química). O investimento para esse aumento da capacidade está avaliado em 20 milhões de euros. Segundo as contas da empresa, a demanda global por borrachas deste tipo deverá apresentar um crescimento anual de 10% em um horizonte de médio prazo.
O presidente da Lanxess no Brasil, Marcelo Lacerda, disse que esse investimento elevará a capacidade da fábrica localizada no nordeste de 20 mil toneladas para 40 mil toneladas desse tipo de borracha. "Dos R$ 67 milhões programados para investirmos em todas as nossas fábricas, um terço [R$ 22,3 milhões] ficará para a unidade pernambucana", disse o executivo.
Em seis meses a empresa deverá anunciar a decisão sobre o investimento em uma nova fábrica desse composto na Ásia que poderá acrescentar entre 100 e 150 mil toneladas de Nd-PBR à sua capacidade mundial do produto. No momento, a companhia realiza um estudo de viabilidade para decidir o investimento, que poderá ser o maior já realizado pela Lanxess desde que se desmembrou da Bayer.
Veículo: DCI