O Wal-Mart Stores Inc. se comprometeu a aumentar bastante as compras locais de pequenos produtores em vários países, inclusive o Brasil, nos próximos cinco anos, num plano que pretende, entre outras coisas, evitar desmatamento da Amazõnia para produção de alimentos.
A iniciativa abre uma nova frente nos esforços da maior varejista do mundo para melhorar sua imagem, com a redução do impacto de suas atividades sobre o meio ambiente. Mas algumas questões persistem, incluindo quanto do custo será carregado por seus fornecedores.
A gigante do varejo apresentou ontem um grande número de metas relacionadas a sua cadeia de fornecimento, incluindo dobrar a quantidade de alimentos comprada de produtores nos Estados Unidos nos próximos cinco anos.
A empresa planeja investir US$ 65 milhões para desenvolver agricultores locais no Brasil e reduzir em 20% o desperdício de suas lojas. A Wal-Mart, terceira maior rede de varejo do país, também afirma estar compromissada em não comprar produtos que tenham contribuído para o desmatamento da Amazônia, incluindo soja, madeira e carne.
O Wal-Mart promete, ainda, estender a suas operações em outros países que revendem carne brasileira informações e conhecimentos que a rede no Brasil tem sobre a origem do produto.
Em outros países emergentes, como a China e a Índia, o grupo planeja vender o equivalente a US$ 1 bilhão em alimentos produzidos por 1 milhão de pequenos e médios agropecuaristas e treiná-los para usar água, pesticidas e fertilizantes de forma mais eficiente.
Nos EUA, o Wal-Mart afirma acreditar que pode converter áreas do sul, onde costumava haver muito tabaco e algodão, em plantações de produtos como frutas, ajudando a empresa a levar itens mais frescos para as lojas ao mesmo tempo em que ajuda a preservar o uso da terra para agricultura.
Os alimentos representam a maior parte das vendas da Wal-Mart, que bateram em US$ 405 bilhões no ano fiscal encerrado em 31 de janeiro. Nos EUA, os alimentos responderam por mais da metade das vendas.
Esta é a primeira vez que o Wal-Mart prioriza na agricultura local os esforços de seu programa de cinco anos para se tornar mais cuidadoso com o meio ambiente.
O Wal-Mart estabeleceu esses objetivos com a contribuição de grupos ambientalistas e voltados às questões sociais que cooperam com a varejista.
"O Wal-Mart tem o potencial de usar a sua escala para fazer a diferença na agricultura sustentável", disse Michelle Harvey, que trabalha na filial do Fundo de Defesa Ambiental que fica perto da sede do Wal-Mart em Bentonville, no Estado de Arkansas. O varejista tem "potencial para ter um impacto significativo na melhor forma de se produzir alimentos, de uma maneira que danifique menos o planeta."
Um painel de especialistas em agricultura montado pelo Wal-Mart alertou que a produção de alimentos terá que se expandir muito nos próximos 35 anos para acompanhar de forma adequada o esperado aumento da população. As iniciativas são um primeiro passo em direção a "produzir melhor os alimentos que nós vendemos, de uma forma mais sustentável", disse Leslie Dach, diretora de negócios corporativos e relações governamentais do Wal-Mart. "E nós queremos que os agricultores que fazem isso vivam uma vida melhor."
O Wal-Mart vai, pela primeira vez, perguntar aos fornecedores sobre a água, a energia e os fertilizantes que eles usam por unidade de alimento produzida, num esforço para encorajar a eficiência e a inovação no uso desses recursos, afirmou a empresa.
Especialistas dizem que duas atividades que estão contribuindo para o desflorestamento são a criação de gado na América do Sul e a produção de óleo de palma na Indonésia, um produto usado na cozinha, cosméticos e sabonetes.
O Wal-Mart está lançando uma iniciativa que exige que óleo de palma usado em seus produtos de marca própria venha de fontes que não tenham relação com a destruição da floresta tropical.
Esse esforço vai ajudar a estimular o crescimento de palmeiras em plantações abandonadas, em vez de em novas áreas de floresta, disse Jason Clay, vice-presidente do Fundo Mundial para a Vida Selvagem.
"Quando o Wal-Mart toma uma posição em relação às coisas, até mesmo em relação às próprias marcas, ele manda uma mensagem para outros produtores e fornecedores de que essas questões são importantes e eles precisam começar a realmente ver qual é a fonte das coisas", diz Clay.
Essas iniciativas virão com um custo e não está claro quem vai arcar com ele. "Na medida em que entramos nessa área, nós descobrimos que existe muito desperdício e ineficiência e dois terços das melhores práticas se pagam", completou Clay. "Mas haverá custos iniciais e temporários. Mudança é assim mesmo."
Veículo: Valor Econômico